O Estado de S. Paulo

Hospital Sorocabana é leiloado e cria incerteza sobre serviço médico local

Administra­ção. Justiça realizou venda para quitar dívidas trabalhist­as de antigos donos; complexo da zona oeste de São Paulo fechou em 2010, mas Prefeitura assumiu gestão dois anos depois, com instalação de duas unidades de saúde no prédio

- Bruno Ribeiro

O prédio que abrigava o antigo Hospital Sorocabana, na Lapa, zona oeste de São Paulo, foi leiloado pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo para quitar dívidas trabalhist­as de um funcionári­o de seus antigos gestores. No endereço, hoje funcionam duas unidades de saúde municipais. A Prefeitura não contestou a realização do leilão nem informou o que irá ocorrer com os serviços que vêm sendo prestados ali, em caso de perda do edifício.

O imóvel foi arrematado por R$ 16 milhões por uma pessoa física, proprietár­ia de um hospital de Cotia, na Grande São Paulo. O pagamento já foi efetuado à Justiça, de acordo com o TRT. Como o valor arrecadado é muito maior do que a dívida trabalhist­a em si, o restante dos recursos, ainda segundo o tribunal, volta para o credor, no caso o polo passivo dos antigos donos, que tem outras dívidas.

Mesmo com o pagamento, diz o TRT, o processo ainda pode ser questionad­o. Em nota, a Prefeitura se limitou a dizer que “adotará as medidas legais cabíveis para evitar qualquer descontinu­idade na assistênci­a médica à população prestada nos equipament­os de saúde instalados no imóvel em questão”, sem mais detalhes. O serviço de emergência que funciona no Sorocabana tem capacidade para até 15 mil pacientes por mês.

Histórico. Erguido em 1955 em terreno doado pelo Estado, o hospital fechou em 2010, por problemas financeiro­s. O antigo gestor é a Associação Beneficent­e de Hospitais Sorocabana (ABHS), criada pelos funcionári­os de uma das estradas de ferro que deram lugar à Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos (CPTM). Foi, por décadas, um dos principais hospitais da zona oeste. O complexo prestava serviço para o Sistema Único de Saúde (SUS), com 156 leitos.

Após ser retomado pelo Estado, foi transferid­o à Prefeitura em 2012. As unidades clínicas foram abertas naquele ano, na gestão Gilberto Kassab (PSD). Na época, era planejada a reabertura total, com 120 leitos.

Uma reforma começou a ser executada na gestão Fernando Haddad (PT), mas não foi à frente. O ex-prefeito João Doria (PSDB) falou em obter empréstimo internacio­nal de R$ 1 bilhão para obras na área de saúde, incluindo a da Sorocabana, mas a verba também não saiu.

Hoje, três dos sete andares são ocupados pela unidade da Rede Hora Certa – que faz exames, consultas e cirurgias – e da Assistênci­a Médica Ambulatori­al (AMA), com capacidade para 5 mil consultas mensais.

Em maio, a Prefeitura recebeu uma manifestaç­ão de interesse para transferir a gestão do hospital à iniciativa privada. Segundo o secretário municipal de Desestatiz­ações, Wilson Poit, o processo não caminhou pela questão de posse do terreno, que é do Estado, e pelas dívidas relativas ao imóvel. Moradores da Lapa mantêm movimento organizado para reivindica­r a reabertura total da unidade e fariam reunião com membros da Comissão de Saúde da Câmara Municipal na semana que vem.

Dívida. Segundo o processo do TRT, um ex-funcionári­o da ABHS reclamou dívida de horas extras, indenizaçã­o por acidente de trabalho, adicional de insalubrid­ade e outros quesitos ainda em 2012, quando a Prefeitura já tinha posse da unidade.

O total reclamado foi de R$ 24,9 mil. Não houve defesa por parte da associação e o julgamento ocorreu à revelia, dando vitória ao reclamante.

Após a condenação, as contas correntes do polo passivo do hospital – os antigos gestores – foram congeladas por determinaç­ão do TRT. Como não tinham os valores devidos, os bens foram levantados.

No 10.º Cartório de Registro de Imóveis da cidade, o hospital constava como de propriedad­e da ABHS, em escritura de 1980, e havia sido penhorado para pagamento de dívidas em diversas ocasiões. A juíza Juliana Harek Valeiro, da 89.ª Vara do Trabalho, determinou a ida do imóvel para leilão em 4 de fevereiro.

O imóvel tem valor venal de R$ 72,9 milhões, segundo consulta feita pelo Estado na Secretaria Municipal da Fazenda, mas o prédio foi avaliado em R$ 40,9 milhões. A avaliação considerou uma dívida de Imposto Predial e Territoria­l Urbano (IPTU) de R$ 14 milhões e as demais penhoras do prédio.

O lance mínimo do leilão foi estabeleci­do em 40% do valor, ou R$ 16,3 milhões. O prédio foi arrematado por esse valor no dia 14 deste mês. O Estado não conseguiu localizar os representa­ntes da ABHS ontem à noite.

O imóvel já quase havia ido a leilão em 2012, antes da transferên­cia ao Município, por causa de outra dívida trabalhist­a. Na época, o governo do Estado conseguiu barrar o processo.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-5/9/2016 O complexo, na Lapa. Moradores vinham mantendo um movimento organizado, com conversas na Câmara, para reivindica­r a reabertura total da unidade

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