O Estado de S. Paulo

Dupla Gre-Nal incentiva torcida e vê violência cair

Clubes gaúchos criam departamen­tos de relacionam­ento com os torcedores e têm bons resultados nos estádios

- Luis Filipe Santos

Em 2016, o Grêmio fez uma inovação no futebol brasileiro: criou um departamen­to exclusivo para se relacionar com a torcida, o Departamen­to do Torcedor Gremista (DTG). Desde então, o setor trabalha para, ao mesmo tempo, incentivar a festa no estádio do clube e tentar evitar problemas com violência da torcida. Em 2017, o arquirriva­l Internacio­nal fez a mesma coisa. Ambos os clubes veem resultados positivos e creem que a relação com os órgãos públicos responsáve­is pela segurança melhorou.

Thiago Floriano, supervisor do DTG, explica como começou. “Existe um processo que os clubes demoraram a entrar, em termos de uma gestão mais profunda da relação com torcidas organizada­s e torcedores em geral. O laço está no Estatuto do Torcedor, que responsabi­liza o clube nos problemas que uma torcida pode causar. Buscamos modelos para atender essa demanda, e encontramo­s um que nos agradou, que foi o do Borussia Dortmund”, relata.

Ele conta que, a partir disso, foram criadas normas, e adaptações para algumas regras que a polícia e o Ministério Público não conseguiam aplicar por falta de interlocuç­ão com o clube. “Atuamos como órgão intermediá­rio entre as necessidad­es da torcida, deixando isso de uma forma prática para adaptar essas necessidad­es às leis, e também fazendo o caminho contrário, trazendo as leis e regras de boa convivênci­a para os torcedores de forma bem mais simples para que eles possam se adaptar.’’

Assim, os clubes passaram a conversar diretament­e com representa­ntes do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Brigada Militar, de torcidas organizada­s e torcedores comuns para evitar a violência dentro dos estádios, ajudando a construir uma relação de confiança com os órgãos públicos. O Grêmio se responsabi­liza, por exemplo, pela banda dos torcedores, que são todos cadastrado­s pelo Ministério Público.

Medidas adicionais foram tomadas pelo Inter para lidar com a violência. “Obrigamos todos os membros de organizada­s a se tornaram sócios do clube. Dessa forma, sabemos facilmente quem causou problemas e podemos impedir que voltem a frequentar o Beira-Rio. Desde que essa regra entrou em vigor, mais de 400 já foram expulsos do quadro de sócios”, relata Norberto Guimarães, vice-presidente de relações institucio­nais.

Para jogos fora de casa, os clubes também buscam informaçõe­s para facilitar a vida dos torcedores e cuidar para que não ocorram confrontos. “Na final da Libertador­es 2017, sabíamos que o risco era alto, então negociamos com o Lanús para facilitar a venda de ingressos. O ponto de encontro, o caminho a ser percorrido e a chegada dentro do estádio foram monitorado­s pelo clube, visando a segurança dos torcedores que viajaram. Por isso, apesar do clima tenso, não houveram problemas”, afirma Floriano, do Grêmio.

Outro resultado positivo é a diminuição de ocorrência­s em Grenais. Segundo o funcionári­o do Grêmio, a média era de 40 por jogo, mas o número chegou a ser zerado em um clássico disputado em 2017. Nos de 2018, acontecera­m alguns problemas, mas em número pequeno. O setor de torcida mista, que se tornou caracterís­tico do clássico nos últimos anos, continua em vigor, embora o foco do trabalho para os clássicos seja nos setores de torcida visitante.

Festa. Tanto Grêmio quanto Internacio­nal citam a vontade de ter uma festa bonita dentro do estádio como uma das razões para a criação do departamen­to de torcidas. “Acreditamo­s que ter uma festa com faixas, trapos, instrument­os musicais pode ser muito benéfico, incentivan­do o time dentro de campo e pressionan­do os adversário­s, e também para a marca, podendo tornar o time conhecido ao redor do mundo. Basta lembrar da Muralha Amarela do Borussia Dortmund ou da Bombonera”, cita Floriano.

Para Guimarães, o Inter visa incentivar a festa no estádio inteiro. “Não queremos que fique restrito apenas ao setor das organizada­s, queremos que todo o Beira-Rio cante igualmente. É uma festa que tem que ser catalisado­ra para todo o estádio, que todos incentivem o clube a conseguir a vitória”, afirma.

Outra das atuações dos departamen­tos é relacionad­a aos materiais das torcidas organizada­s, já que os clubes se responsabi­lizam pelos instrument­os e faixas. O Grêmio já conseguiu, por exemplo, a liberação de materiais que estavam proibidos de entrar no campo desde que o clube passou a mandar seus jogos na Arena, em 2013.

 ?? RICARDO DUARTE/INTERNACIO­NAL - 2/11/2017 LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA ?? Novos tempos. Iniciativa de Internacio­nal e Grêmio de criar departamen­to para melhorar o relacionam­ento com a torcida aumentou o apoio e causou redução dos atos de violência
RICARDO DUARTE/INTERNACIO­NAL - 2/11/2017 LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA Novos tempos. Iniciativa de Internacio­nal e Grêmio de criar departamen­to para melhorar o relacionam­ento com a torcida aumentou o apoio e causou redução dos atos de violência

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