Federação cria canal para denúncias de abuso
Entidade internacional vai tornar disponível uma linha telefônica exclusiva e espera receber mil denúncias no primeiro ano
A Federação Internacional de Ginástica (FIG) vai criar uma linha telefônica exclusiva para receber denúncias de assédio sexual contra seus atletas. A estimativa da própria entidade é receber até mil denúncias apenas no primeiro ano de funcionamento. A revelação foi feita pelo presidente da federação, Morinari Watanabe. Ele comunicou a iniciativa durante evento dos Jogos Asiáticos ontem.
“Um atleta ou familiar poderá informar os casos, por exemplo. Acreditamos que mil pessoas devem denunciar casos de abusos ou suspeitas somente no primeiro. Na segunda temporada, acreditamos que as denúncias podem cair pela metade e, assim, sucessivamente”, afirmou o dirigente.
Com a criação da linha telefônica, a entidade pretende coibir o assédio na ginástica. O plano faz parte de uma estratégia global da federação para combate ao assédio sexual, sobretudo nas categorias inferiores, quando os atletas ainda estão em formação e, portanto, mais tímidos e temerosos de fazer denúncias. O plano deverá contar ainda com a criação de uma fundação de ética na modalidade.
O novo órgão, que ainda não foi criado, deve ser aprovado formalmente pelas federações nacionais de ginásticas, entre elas a do Brasil, no próximo congresso da entidade, marcado para a cidade de Baku, no Azerbaijão, nos dias 2 e 3 de dezembro.
A iniciativa da Federação Internacional de Ginástica é uma reação após a condenação de Larry Nassar, antigo médico da seleção norte-americana, culpado de abusar sexualmente de mais de 265 mulheres e meninas, entre elas aproximadamente 160 ginastas.
O caso abalou o mundo esportivo, principalmente nos Estados Unidos. Atletas do primeiro time do país ajudaram a fazer as denúncias. Outro episódio que influenciou a medida da entidade envolveu o brasileiro Fernando de Carvalho Lopes, antigo
treinador da seleção brasileira, também acusado de abusar de mais de 40 atletas.
O escândalo de abusos sexuais na ginástica norte-americana
é considerado o maior conhecido da história do esporte em função do número de vítimas que se tem notícias. Entre elas estão as campeãs olímpicas Simone Biles e Gabby Douglas.
Lassar foi o médico da equipe de ginástica artística dos EUA e da Universidade do Estado de Michigan por cerca de duas décadas. Em seus últimos trabalhos, cuidava não apenas das ginastas como também de competidores de outras modalidades, como dançarinas e patinadoras. As denúncias são importantes ainda porque lançam luz sobre o papel de instituições em casos de assédio sexual. A universidade e o USA Gymnastics, que funciona como federação de ginástica, também são acusados em alguns processos.
No Brasil, o ex-treinador Fernando de Carvalho é acusado de abusar de atletas e ex-atletas. O escândalo ainda colocou em xeque o coordenador da ginástica Marcos Goto, um dos mais vitoriosos do esporte no País. Eles estão sendo investigados sob segredo de justiça.