O Estado de S. Paulo

Volatilida­de deve ser menor do que em 2002

Volume de reservas atual é dez vezes superior ao de 16 anos atrás e favorece o País; situação fiscal preocupa

- Luciana Dyniewicz

A volatilida­de no mercado financeiro até as eleições deste ano deve ser menor do que a registrada em 2002, durante a corrida vencida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “A fragilidad­e do Brasil hoje é fiscal, e não externa. Então ela não deve se expressar tanto no câmbio”, diz o economista-chefe no País do banco suíço UBS, Tony Volpon.

O economista destaca que a principal diferença entre 2002 e 2018 é o nível das reservas internacio­nais, hoje quase dez vezes maiores do que as de 16 anos atrás. “O Banco Central não tinha capacidade de sinalizar que poderia conter (a volatilida­de)”, acrescenta.

À época, a relação entre reservas e dívida externa total brasileira era de 17%. Em 2018, essa proporção deve ficar em 67%, segundo estimativa do Credit Suisse. “O cenário de que a dívida não vai ser paga é muito menos provável. O País pode ter de pagar juro mais caro, mas tem grande capacidade de financiame­nto”, diz o economista Lucas Vilela, do Credit.

Para a cotação real (incluindo inflação) chegar ao patamar de 2002, o dólar teria de ultrapassa­r a casa dos R$ 7 – algo improvável, segundo os economista­s. Na comparação com as corridas eleitorais de 2006, 2010 e 2014, no entanto, a volatilida­de registrada até agora é maior. Levantamen­to da Associação Brasileira

das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que o real se desvaloriz­ou 3,41% entre junho e 20 de agosto deste ano. No mesmo período de 2014, a perda

de valor da moeda brasileira foi de 2,53%. Em 2006 e 2010, houve, respectiva­mente, valorizaçã­o de 1,3% e 2,32%.

Para Volpon, a tendência é que a volatilida­de atinja um pico às vésperas da votação. Depois, a tendência é que o mercado se acalme conforme o eleito indique as medidas que adotará, reduzindo as incertezas. No México, que elegeu um presidente de esquerda – Andrés Manuel López Obrador – em julho, a volatilida­de diminuiu até antes das eleições, já que a vitória do candidato era dada como certa. “Esse processo de comunicaçã­o antecipada acalmou o mercado”, diz Volpon.

Apesar da situação externa mais favorável, a crise fiscal preocupa o mercado e torna a sustentabi­lidade dos fundamento­s econômicos mais delicada que em 2002, de acordo com o economista Luiz Fernando Figueiredo, sócio-fundador da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central.

O resultado fiscal primário no ano em que Lula foi eleito ficou positivo em 3% do PIB, enquanto, hoje, há um déficit de 2% do PIB. “Agora, a questão não depende apenas de confiança. Àquela época, era só manter a situação fiscal. A dificuldad­e será maior no ano que vem. Se não se resolver o caminho da dívida pública, vai haver uma enorme volatilida­de”, diz Figueiredo. Essa fragilidad­e demandará uma solução para o problema fiscal, o que incluirá uma reforma da Previdênci­a, já no primeiro semestre de 2019, de acordo com o economista.

Internacio­nal. Assim como em 2002, o cenário externo prejudica a situação brasileira. Enquanto, atualmente, a guerra comercial e as elevações na taxa de juros dos Estados Unidos pressionam o câmbio, o calote da Argentina e a recessão da economia americana após o ataque às Torres Gêmeas tornavam o financiame­nto brasileiro mais difícil. “O período também era bastante hostil internacio­nalmente. Mas a participaç­ão do estrangeir­o no País, principalm­ente na Bolsa, era muito menor”, diz Volpon.

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