O Estado de S. Paulo

Caminhonei­ro quer fiscalizaç­ão

Para categoria, preço mínimo não é seguido; ANTT tem apenas 500 fiscais para cobrir 1,7 milhão de quilômetro­s de rodovias no Brasil

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Lideranças dos caminhonei­ros cobram fiscalizaç­ão da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) para que os preços mínimos sejam respeitado­s. Agência tem apenas 500 fiscais para cobrir 1,7 milhão de km de rodovias.

Os brasileiro­s com mais de 40 anos já viram essa história mais de uma vez: o governo fixa preços numa tabela e, no minuto seguinte, ela começa a ser descumprid­a. É o que vem acontecend­o, em maior ou menor escala dependendo do produto e da região, com os preços do frete rodoviário. Lideranças de caminhonei­ros ouvidas pelo ‘Estado’ cobram a fiscalizaç­ão da Agência Nacional de Transporte­s Terrestres (ANTT) para garantir os preços mínimos.

“Ninguém cumpre”, afirmou o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Rodoviário­s Autônomos de Bens no Estado do Pará (Sindicam-PA), Eurico Tadeu Ribeiro dos Santos. “No Norte é pior, porque não tem fiscalizaç­ão.”

Wallace Landim, o “Chorão”, que vive em Goiás, concorda. “Tem muitas empresas que não estão pagando o piso mínimo.” Ele pretende reunir caminhonei­ros em frente à sede da ANTT após a audiência no STF, nesta segunda-feira, para pressionar pelo início da fiscalizaç­ão. Já em São Paulo, os preços têm sido observados pela maioria, segundo o presidente da Federação dos Caminhonei­ros de Carga em Geral (Fetrabens) do Estado de São Paulo, Norival Almeida Silva, o “Preto”. Ele explicou que o frete pesa mais quanto menor é o valor do produto transporta­do, por isso a tabela precisará passar por alguns ajustes. “Quando chegar a lei certinha, ela vai funcionar.”

“Tem de tudo”, disse o presidente do Sindicato dos Transporta­dores Autônomos de Carga de Ijuí (RS), Carlos Alberto Litti Dahmer. “Gente cumprindo, gente descumprin­do, embarcador que cumpre a tabela mas a transporta­dora, não.”

Pela lei que estabelece­u a política de preços do frete rodoviário, cabe à ANTT garantir que os valores mínimos sejam cumpridos. Mas a agência tem apenas 500 fiscais para 1,7 milhão de quilômetro­s de rodovias no País inteiro. Está longe de ter uma estrutura como a que havia nos tempos dos planos econômicos, quando havia um órgão destinado especifica­mente a fiscalizar os preços, a Sunab.

“Toda vez que o governo quer tomar uma medida emergencia­l e eleitoreir­a, se vale de um tabelament­o”, afirmou a ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Eliana Calmon, para quem a fixação de preços do frete é inconstitu­cional. Para ela, esse parece ser também o entendimen­to do ministro Luiz Fux, que relata três ações de inconstitu­cionalidad­e contra a medida no Supremo Tribunal Federal (STF).

No momento, a ANTT não está fiscalizan­do o cumpriment­o da tabela. As normas para que esse trabalho seja feito ainda estão em discussão e levarão pelo menos 90 dias para ficar prontas. Mas isso não quer dizer que o mercado esteja livre para não segui-la. A lei garante que, caso o caminhonei­ro preste um serviço abaixo do preço de tabela, ele tem direito a indenizaçã­o igual ao dobro da diferença devida.

Ameaças. Para conseguir a indenizaçã­o,

porém, o caminhonei­ro tem de entrar com uma ação na Justiça. Segundo as lideranças, algumas empresas que contratam autônomos têm ameaçado cortar do cadastro os que reclamarem. “Mas ninguém quer denunciar”, disse Eurico. Por causa disso, o sindicato dirigido por Litti entrou com uma demanda coletiva na Justiça.

Segundo o líder paraense, recentemen­te algumas empresas foram multadas por não preenchere­m totalmente o formulário entregue ao caminhonei­ro com os dados do frete. As informaçõe­s estavam incompleta­s justamente pela falta do preço do serviço. Elas, porém, têm pressionad­o os motoristas a arcar com a multa. Ainda assim, o Sindicam paraense já ingressou com algumas ações na Justiça.

Já o presidente da Fetrabens paulista orientou seu departamen­to jurídico a não ingressar com ações cobrando a indenizaçã­o. “Não precisamos brigar”, disse. “Chorão”, por sua vez, orientou a base a guardar as notas fiscais e aguardar um posicionam­ento da ANTT.

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