O Estado de S. Paulo

Fantasmas de Bolsonaro

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

Acômoda posição que o deputado Jair Bolsonaro (PSL) desfruta na corrida presidenci­al desde a prisão de Lula começa a ser ameaçada por fantasmas criados no passado pelo próprio candidato. Quanto mais o tempo passa, quanto mais se afunila o processo eleitoral, mais parece grudar em Bolsonaro o rótulo de “machista, homofóbico e racista”. O deputado se defende, diz que na verdade é o único que procura proteger as mulheres da ameaça de estupro, que é a favor da castração química voluntária de estuprador­es, mas não adianta. É só verificar quão pequena é a aceitação dele pelo eleitorado feminino, conforme mostram as pesquisas sobre intenção de voto que medem também o eleitorado por sexo.

Bolsonaro sabe que não se livrará dessas questões nas entrevista­s e nos debates. Está na cara que a ex-ministra Marina Silva (Rede) tem ganhado pontos e votos ao confrontar com Bolsonaro, como fez na RedeTV!. E se ele, na resposta, levantar a voz, responder com ironias, só vai perder votos no eleitorado feminino. Há rótulos que pegam e não saem mais. Esse que o tempo consolidou em Bolsonaro parece que foi pregado com cola-tudo.

O reflexo de tudo isso que está acontecend­o com o deputado pode ser visto nas simulações para os confrontos do segundo turno. De acordo com o mais recente Datafolha, Bolsonaro só não seria derrotado por Fernando Haddad, o “plano B” do PT. O candidato do PSL estaria em desvantage­m contra todos os outros do pelotão intermediá­rio: Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva. Sem falar que de Lula ele tomaria uma surra. Só que Lula dificilmen­te vai concorrer.

Para piorar a situação, o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), antecipou para a próxima terça-feira, 28, o julgamento para decidir se a Corte vai ou não acolher denúncia apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República contra o deputado por crime de racismo. Há o risco de Bolsonaro virar réu no STF antes mesmo do início da propaganda eleitoral. Nesse caso, surge outro problema para o candidato, um problemão, diga-se. O STF já decidiu que réus não podem fazer parte da linha de substituiç­ão do presidente da República. Tal decisão impediu que Renan Calheiros (MDB-AL), réu na Corte, e então presidente do Senado, pudesse substituir Michel Temer quando este estivesse ausente do País.

Por analogia, um réu no STF poderá assumir a Presidênci­a da República, caso Bolsonaro consiga chegar ao segundo turno, superar todos os obstáculos que tem e vencer a eleição? É uma questão que deve ser decidida pela Corte, opinou o ministro Celso de Mello. Portanto, nesse momento, há fantasmas sobrevoand­o Bolsonaro tanto nas urnas quanto no STF.

Alckmin e as redes sociais. Último do pelotão intermediá­rio, Geraldo Alckmin resolveu mexer na sua equipe de campanha responsáve­l pelas redes sociais. Não estaria a equipe de profission­ais que trata do assunto encontrand­o um jeito de “desconstru­ir” Bolsonaro, que só no Facebook possui 5,5 milhões de seguidores, enquanto Lula tem 3,7 milhões. Alckmin ainda não chegou a 1 milhão. O tucano precisa ter calma, visto que se trata de algo novo.

Rede social é um fenômeno coletivo, mas também individual, por dar direito a voz e opinião a quem não o tinha. Mistura emoção e, às vezes, chega à paixão. À exceção dos que o fazem por motivo profission­al, o seguidor de um líder político costuma ser um convertido. Quem acredita em Bolsonaro dificilmen­te vai ser desconstru­ído. Talvez Alckmin fizesse melhor se usasse a rede social para divulgar propostas de governo para o País, com detalhes que a TV e o rádio não têm espaço para dar.

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