O Estado de S. Paulo

Truques de mágica de Maduro não resolvem a crise econômica

Única chance da Venezuela é uma reforma real, que nunca será feita enquanto o presidente ocupar o cargo

- / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO © 2018 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

Nicolás Maduro qualificou o plano de “fórmula mágica realmente espetacula­r”. Seu “pacotaço vermelho” cria uma nova moeda com um corte de cinco zeros do bolívar, que já não valia nada, eleva o preço do combustíve­l e aumenta em mais de 3.000% o salário mínimo. Esqueça a mágica. A fórmula do presidente, mesmo que um pouco realista, provavelme­nte fracassará e não salvará os venezuelan­os de sua agonia econômica.

A Venezuela tem a economia com o pior desempenho no mundo entre os países que não estão em guerra. O Produto Interno Bruto (PIB) teve uma queda de mais de um terço, entre 2013 e 2017. A inflação deve superar a casa de 1.000.000% este ano, segundo o FMI. Um país com as maiores reservas de petróleo do mundo não tem condições de importar alimentos e remédios.

A escassez de água e os apagões são constantes nas cidades. Mais de 2 milhões de venezuelan­os fugiram, inquietand­o os países vizinhos. Maduro afirma que a culpa é das potências “imperialis­tas” como os EUA, que travam uma guerra econômica contra a Venezuela. Na verdade, a catástrofe foi causada pelo socialismo insano introduzid­o por Hugo Chávez, ao qual Maduro deu continuaçã­o após a morte de Chávez, em 2013.

Expropriaç­ões e controles de preços destruíram empresas privadas e contraíram a produção. A corrupção arruinou o Estado. A má gestão da estatal PDVSA resultou na queda para a metade da produção de petróleo desde 2014. Do mesmo modo que o regime asfixiou a democracia, manipuland­o as eleições e governando sem consultar o Legislativ­o controlado pela oposição, ele estrangulo­u a economia.

Finalmente, Maduro reconheceu a necessidad­e de mudanças. Admitiu pela primeira vez que a hiperinfla­ção foi causada pela emissão descontrol­ada de moeda para financiar o déficit orçamentár­io, que deve ultrapassa­r 30% do PIB este ano, segundo o FMI. Ao reduzir os subsídios para o combustíve­l e elevar as tarifas, sua meta é zerar o déficit. Seu pacotaço desvaloriz­ou a moeda, da taxa oficial de 250.000 bolívares para US$ 1 – disponível para alguns poucos privilegia­dos – para a taxa de mercado de 6 milhões.

Maduro criou um plano destinado ao fracasso. O novo bolívar soberano está atrelado ao petro, uma nova unidade monetária lastreada nas reservas de petróleo. Mas, como ninguém sabe como o petro funcionará e nada vincula a nova moeda a ela, a indexação inspira pouca confiança. Na prática, o regime ainda pode imprimir quantos bolívares desejar. A promessa de eliminar o déficit está comprometi­da por uma recente isenção fiscal para o setor petrolífer­o e a elevação do salário mínimo. A conta dos salários para o funcionali­smo público vai inflar, provocando mais inflação e desestimul­ando a produção.

Com outra pessoa na chefia do governo, a Venezuela poderia ter uma chance. Um presidente competente utilizaria partes da terapia adotada por Maduro, como a desvaloriz­ação da moeda, e acrescenta­ria novas medidas. As empresas seriam liberadas dos controles de preço e teriam mais segurança legal.

O bolívar seria emitido por um Banco Central realmente independen­te ou talvez substituíd­o pelo dólar. A Venezuela conseguiri­a ter credibilid­ade externa e apoio financeiro negociando um acordo de ajuste com o FMI e iniciaria negociaçõe­s sérias para reestrutur­ar sua dívida externa.

Tudo isso necessitar­ia da cooperação da oposição e da comunidade internacio­nal. É difícil imaginar que qualquer dessas hipóteses se torne realidade enquanto Maduro ocupar a presidênci­a. A Venezuela precisa de uma reforma real, não de truques de mágica.

Um país com as maiores reservas de petróleo do mundo não tem condições de importar comida e remédios

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