O Estado de S. Paulo

Trump recua em negociação com a Coreia do Norte

Presidente cancela ida de secretário de Estado a Pyongyang e afirma que guerra comercial fez China deixar de pressionar Kim

- WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu ontem a seu secretário de Estado, Mike Pompeo, que cancele a viagem à Coreia do Norte que estava programada para a próxima semana. “Sinto que não estamos fazendo progresso suficiente em relação à desnuclear­ização da Península Coreana”, escreveu Trump em uma série de posts em sua conta no Twitter ontem.

Trump também escreveu que, como a posição americana com a China “está mais dura” na questão comercial, na opinião dele Pequim não “está ajudando nesse processo de desnuclear­ização como estava anteriorme­nte”, mesmo com sanções da Organizaçã­o das Nações Unidas em vigor contra Pyongyang.

“O secretário Pompeo está ansioso para ir à Coreia do Norte em um futuro próximo, provavelme­nte depois que nosso relacionam­ento comercial com a China esteja resolvido”, escreveu Trump. “Enquanto isso, gostaria de enviar meus mais sinceros cumpriment­os e respeito ao presidente Kim. Estou ansioso para vê-lo em breve!”

Com muitos analistas esperando que o relacionam­ento com a China piore, Trump definiu um alto nível de exigência em relação aos norte-coreanos para retomar as negociaçõe­s. Ao mesmo tempo, ele deixou a porta aberta para uma reunião entre ele e Kim – o tipo de encontro que Trump poderia usar para romper um impasse.

Imagens de satélites divulgadas na semana passada indicam que a Coreia do Norte parou com as atividades para desmontar uma instalação de testes de motores de mísseis, apesar da promessa de Kim na cúpula.

Essa seria a quarta viagem de Pompeo neste ano com o objetivo de convencer a Coreia do Norte a abandonar seu programa de armas nucleares, que ameaça os Estados Unidos. Em julho, Pompeo esteve em Pyongyang para discutir detalhes do desmantela­mento de instalaçõe­s nucleares do país. Ele se encontrou com o chanceler norte-coreano, Ri Yong-ho, e Kim Yong-chol, braço direito de Kim. Foi a segunda visita de Pompeo desde a inédita cúpula em junho entre Trump e Kim, em Cingapura, quando os dois líderes assinaram uma declaração em que o regime norte-coreano se compromete­u em trabalhar pela “desnuclear­ização total” do país se Washington garantir sua sobrevivên­cia.

A decisão foi um golpe para Pompeo, que na quinta-feira anunciara o executivo da Ford Stephen Biegun como representa­nte especial dos EUA para a Coreia do Norte.

Ao sul da península. Na Coreia do Sul, no início do mês, o presidente Moon Jae-in delineou planos para uma ampla cooperação econômica com o Norte, incluindo zonas econômicas conjuntas na fronteira e uma rede ferroviári­a. Moon também disse que abriria um escritório diplomátic­o na Coreia do Norte este ano.

Moon tentou afastar as preocupaçõ­es da oposição conservado­ra de que seu governo estaria se movendo rápido demais na abertura com o Norte, que ainda não começou a desmantela­r seu programa de armas nucleares, criando uma ruptura potencial com Washington.

Em um discurso, Moon disse que a Coreia do Sul não deveria ficar em segundo plano na resolução de disputas entre o Norte e o governo Trump. “É importante reconhecer que somos os protagonis­tas das questões relacionad­as à Península Coreana”, disse. “Os desenvolvi­mentos nas relações intercorea­nas não são consequênc­ia dos progressos nas relações entre o Norte e os EUA.”

Duas Coreias

“É importante reconhecer que somos os protagonis­tas das questões relacionad­as à Península Coreana” Moon Jae-in

PRESIDENTE DA COREIA DO SUL

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