Chefe do Exército diz que só militares estão ‘engajados’.
General critica falta de integração. Estado afirma que atende ‘a todas as solicitações’
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, criticou ontem a falta de integração de outros setores da administração pública e da sociedade civil no combate à criminalidade no Rio. Na cerimônia do Dia do Soldado, em Brasília, aproveitou seu discurso para um desabafo. “Passados seis meses, apesar do trabalho intenso de seus responsáveis, da aprovação do povo e de estatísticas que demonstram a diminuição dos níveis de criminalidade, o componente militar é, aparentemente, o único a engajar-se na missão”, disse.
“Exigem-se soluções de curto prazo. Contudo, nenhum outro setor dos governos locais empenhou-se, com base em medidas socioeconômicas, para modificar os baixos índices de desenvolvimento humano, o que mantém o ambiente propício à proliferação da violência”, disse o comandante. Segundo ele, apesar de todos admitirem que as leis vigentes devem ser modificadas com urgência, “continuamos a proceder com naturalidade em face à barbárie de perder mais de 63 mil vidas por ano (em referência ao número nacional de homicídios)”.
Villas Bôas destacou também as atuações das Forças Armadas no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e, particularmente, no Rio, onde, segundo ele, “a população alarmada deposita esperanças em uma intervenção que muitos, erroneamente, pensam ser militar”.
O comandante lembrou os óbitos de três soldados esta semana, durante operações em favelas cariocas, e se queixou do fato de a morte deles não ter tido tanta repercussão como outros casos recentes. Segundo ele, as mortes tiveram repercussão restrita, “que nem de longe atingiram a indignação ou a consternação condizente com os heróis que honraram seus compromissos de defender a Pátria e proteger a sociedade”. Os tempos, afirma ele, são atípicos. “Valorizamos a perda das vidas de uns em detrimento da de outros.”
Anteontem foi enterrado o corpo do soldado Marcus Vinicius Ribeiro. Ele foi baleado na perna, na segunda-feira, durante megaoperação das forças de segurança nas comunidades dos Complexos do Alemão, da Maré e da Penha. Na mesma intervenção, outros dois militares foram mortos, o cabo Fabiano Santos e o soldado João Viktor da Silva. Os dois foram enterrados na terça, em Japeri, na Baixada Fluminense.
No evento, o presidente Michel Temer homenageou os militares mortos. “Seu sacrifício não será em vão. Cumpriremos a tarefa imperiosa de recompor a ordem pública no Rio.”
Resposta. Em nota, o governo fluminense disse que, “desde que foi implementado o Gabinete da Intervenção Federal, o Estado, com suas forças de segurança, atua de forma integrada com as forças federais, atendendo a todas as solicitações que lhe são feitas”.
“(O governo) iniciou em maio a convocação de concursados da PM (1.803 aprovados) e da Polícia Civil (284), além de autorizar a realização de um novo concurso para 37 vagas de oficial da Polícia Militar”, diz a nota. O governo disse ainda que vai usar o fundo de investimentos de segurança pública, com recursos de royalties do pré-sal, que deve chegar a R$ 250 milhões até o fim de 2018, para comprar material bélico e equipamento para a Polícia Civil.
Angra. Os confrontos entre policiais e criminosos em Angra do Reis, no litoral sul fluminense, deixaram ontem dois suspeitos mortos e dois PMs feridos, mas sem gravidade. Cerca de 2,1 mil crianças ficaram sem aulas e unidades de saúde em cinco localidades fecharam as portas na manhã de ontem, de acordo com a prefeitura. Durante a semana, também houve registros de veículos queimados.
O Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM atua em Angra desde quarta, após a prefeitura decretar emergência. Um dos principais destinos turísticos do Rio, por suas ilhas, praias e mar limpo, Angra tem sofrido com uma disputa entre quadrilhas pelo domínio do tráfico de drogas.
Valorização
“Vivemos tempos atípicos. Valorizamos a perda das vidas de uns em detrimento das de outros.”
Eduardo Villas Bôas COMANDANTE DO EXÉRCITO, CRITICANDO A POUCA REPERCUSSÃO QUE TEVE A MORTE DOS MILITARES