O Estado de S. Paulo

Transporte rodoviário fica 12% mais caro para a indústria após tabelament­o

Frete. Empresas devem recorrer a plano ‘B’ se o STF confirmar a constituci­onalidade da tabela; pesquisa da CNI mostra que 37% das companhias preferem transferir a responsabi­lidade do frete para o comprador; outros 27% investiria­m em frota própria

- Lu Aiko Otta / BRASÍLIA

Os gastos com transporte rodoviário subiram 12% após o governo adotar a tabela de preços do frete como parte do pacote de medidas que encerrou a paralisaçã­o dos caminhonei­ros, que durou 11 dias e provocou uma crise de abastecime­nto no País. A informação é de um levantamen­to inédito realizado pela Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI) com 688 empresas.

Além de pagar mais caro pelo transporte de seus produtos, a indústria também viu aumentar o custo do matéria-prima. Por conta do tabelament­o, os insumos estão, em média, 7% mais caros. “Tudo isso leva à pressão pelo aumento do preço do produto final, ou seja, haverá impacto para o c onsumidor”, disse o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.

Se a constituci­onalidade do tabelament­o for confirmada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), numa discussão que será retomada nesta segunda-feira com uma audiência pública sobre o tema, 60,5% das empresas pretendem adotar um “plano B” para o transporte. A opção preferida, apontada por 37,3% delas, é transferir a responsabi­lidade do transporte para o comprador. A formação de frota própria foi apontada por 27,4%.

Um dado que chama a atenção é que, entre as alternativ­as possíveis, 17,5% das consultada­s podem suspender ou reduzir a venda de produtos para determinad­as rotas ou regiões. Isso porque o transporte mais caro pode inviabiliz­ar a comerciali­zação de alguns produtos.

“Os fretes aumentaram em média 103% e isso cria dificuldad­es para as empresas de sal”, disse o vice-presidente do Sindicato das Indústrias de Extração de Sal do Rio Grande do Norte, Aírton Torres. O setor estima um prejuízo de R$ 30 milhões desde o início da greve.

Essa elevação acontece porque o sal era transporta­do no chamado frete de retorno. Caminhões iam com outros produtos para o Rio Grande do Norte e, na volta, traziam sal. Por isso, esse transporte era mais barato. Mas, com o tabelament­o, a figura do frete de retorno desaparece­u. “Não tem como diferencia­r o frete de retorno dos demais”, justifica o ministro dos Transporte­s, Valter Casimiro.

O Rio Grande do Norte responde por 95% da produção de sal do País. O transporte não está todo parado porque empresas recorreram a navios e barcos, segundo o sindicato dos transporta­dores rodoviário­s do Estado (Sindicam).

O setor mais duramente afetado pelo tabelament­o, porém, é o do agronegóci­o. Entidades do setor (Abiove e Anec) estimaram perdas de R$ 500 milhões por dia durante a safra de soja. Na atual fase de colheita, a do chamado milho safrinha, a perda chega a R$ 2 bilhões.

Para a economia como um todo, as perdas foram estimadas em R$ 53 bilhões, segundo estudo elaborado pelo economista Armando Castellar, da FGV.

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