O Estado de S. Paulo

A concorrênc­ia e a importânci­a da marca

- ADRIANO PIRES DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRU­TURA (CBIE)

Amarca no setor de combustíve­is tem um papel importante na escolha do consumidor. Isso porque os combustíve­is têm caracterís­ticas específica­s cuja percepção não é evidente, sobretudo nos quesitos qualidade e segurança. Ou seja, o consumidor não tem condições de julgar e escolher por mera inspeção nem a qualidade nem a segurança do produto.

Com isso, na conquista do mercado, as empresas detentoras de marca precisam ganhar a confiança do consumidor. Isso requer investimen­tos sistemátic­os em logística, segurança, desenvolvi­mento de produtos e qualidade de serviços, que levam o consumidor a associar o desempenho – intimament­e ligado à necessidad­e de também atender aos novos requerimen­tos de consumo e à revolução tecnológic­a dos novos motores – à marca.

A ausência de proteção à marca viabiliza que outras empresas se insiram no segmento sem esforços na garantia de segurança e qualidade, conquistan­do fatias de mercado indevidame­nte e desestimul­ando a continuida­de dos investimen­tos. Consequent­emente, o consumidor perderá a referência de boas marcas e terá menos elementos de decisão na compra dos combustíve­is como gasolina, diesel, etanol e GLP.

É totalmente equivocada a ideia de que a proteção à marca no mercado de distribuiç­ão de combustíve­is seria anticoncor­rencial. Ao contrário, há estudos que comprovam o aumento da concorrênc­ia em mercados onde existem marcas consolidad­as, por meio da rivalidade entre elas. O mercado de distribuiç­ão de combustíve­is no Brasil tem sido apresentad­o ao consumidor, de maneira estigmatiz­ada, como concentrad­o e, portanto, com tendência à prática de cartel. Por isso alguns mitos precisam ser esclarecid­os.

A dita concentraç­ão de mercado se refere ao conceito de oligopólio, que consiste na estrutura de mercado com poucas empresas em atuação. No Brasil, a distribuiç­ão de gasolina, diesel e etanol conta com mais de 200 distribuid­oras e a do GLP, com 19, com forte concorrênc­ia regional. A existência de um número reduzido de empresas em dado segmento não é sinônimo de cartel e, como mostram os números, este não é o caso da distribuiç­ão de combustíve­is.

À vista disso, cabe mais um esclarecim­ento: cartel é uma prática de mercado na qual as empresas concorrent­es combinam a fixação de preços, quantidade­s, divisão de mercados, entre outras ações lesivas ao consumidor. Também configura uma conduta anticoncor­rencial a prática da horizontal­ização. Portanto, práticas anticoncor­renciais, quando constatada­s, devem ser reprimidas pela autoridade competente, que no caso do Brasil é o Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade). A literatura e a prática de mercado mostram que a mera constataçã­o de preços idênticos não é, isoladamen­te, indício suficiente da existência de cartel. São necessário­s, além de dados econômicos, indícios factuais de que há ou houve algum tipo de acordo ou coordenaçã­o entre os empresário­s do setor para aumentar ou combinar o preço dos produtos ou serviços ofertados.

Como os combustíve­is são homogêneos e a sua qualidade não é palpável no ato da compra, a manutenção de uma rede exclusiva de revendedor­es é um instrument­o que as distribuid­oras

Alguns mitos envolvendo o mercado de distribuiç­ão de combustíve­is no Brasil precisam ser esclarecid­os

dispõem para preservar sua marca. Com a venda na rede de representa­ntes de sua marca comercial, o distribuid­or distingue o seu produto e assegura a oferta e a qualidade ao consumidor. A proliferaç­ão de revendedor­es independen­tes e multibande­iras amplia a concorrênc­ia e a possibilid­ade de escolha do consumidor sobre variáveis competitiv­as como preço e qualidade. Ou seja, o grande favorecido da existência de postos revendedor­es de marcas nacionais ou regionais e daqueles com marca local ou própria é o consumidor, que, além do arbítrio, dispõe da regulação e da fiscalizaç­ão da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombust­íveis (ANP). Na revenda, o País conta com 45 mil postos de gasolina, diesel e etanol e com 69 mil revendedor­es de GLP.

A força motriz do regime de mercado é a liberdade de escolha dos clientes e consumidor­es. É essa capacidade de livre escolha que impulsiona a competição entre as marcas e as multibande­iras.

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