O Estado de S. Paulo

Relator quer incluir Refis no Rota 2030

Deputado Alfredo Kaefer (PP-PR) defende ampliação de incentivos para montadoras; no passado, medida foi questionad­a pela OMC

- Lorenna Rodrigues Renan Truffi / BRASÍLIA

O relator da Medida Provisória que cria o Rota 2030, novo programa de estímulo ao setor automobilí­stico, defende a ampliação dos incentivos para as montadoras, com impacto maior do que a renúncia de R$ 1,5 bilhão ao ano estimada pelo governo. Depois de um intenso debate, o programa acabou sendo aprovado com menos benefícios do que o setor esperava.

Agora, o deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), fala, entre outros pontos, em aumentar o porcentual máximo que pode ser abatido no pagamento de impostos e a redução de IPI também para carros que não sejam elétricos.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o relator também defendeu a criação de um programa de refinancia­mento de dívidas (Refis) específico para o setor automobilí­stico, cujo objetivo seria auxiliar a indústria de autopeças. “Aquele Refis (aprovado no ano passado) não contemplou as empresas que deviam acima de R$ 15 milhões. É algo que a gente tem de discutir com a Fazenda”, afirmou.

Durante a conversa com a reportagem, o relator lembrou várias vezes o Inovar-Auto, programa que foi questionad­o na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) mas que, segundo Kaefer, era melhor para o setor automotivo. Para ele, devem ser discutidos até descontos no Imposto sobre Produtos Industrial­izados (IPI) para carros nacionais, justamente o ponto que foi condenado pela OMC.

Na formatação do Rota 2030, com aconselham­ento do Itamaraty, o governo tomou cuidado para não prever nenhum tipo de diferencia­ção entre carros produzidos no Brasil e os importados e evitar novos problemas com o organismo.

“No Rota não há redução de IPI, por exemplo, como o Inovar tinha. Penso que, se a indústria automobilí­stica vier com um demonstrat­ivo claro de que teremos fortes investimen­tos não só em pesquisa e desenvolvi­mento, como investimen­tos industriai­s, podemos produzir um Rota 2030 com variáveis melhores”, afirmou.

Impostos. Outra mudança que ele pretende avaliar é a flexibiliz­ação das regras que permitem a redução de impostos. No texto da MP, podem ser abatidos por ano 10,2% do que for investido em pesquisa e desenvolvi­mento. Kaefer analisa tanto o aumento desse porcentual como permitir que o abatimento seja relativo a qualquer valor investido.

A ampliação dos benefícios e do custo fiscal deve encontrar resistênci­a no Ministério da Fazenda. Um integrante da equipe econômica disse que o governo trabalhará para defender com argumentos técnicos a proposta que foi enviada, que é a que tem espaço fiscal para ser colocada em prática.

O Rota 2030 foi criado por Medida Provisória no início de julho para substituir o InovarAuto, que acabou no fim do ano passado. As discussões em torno do programa duraram mais de um ano e resultaram em uma queda de braço – muitas vezes pública – entre os ministério­s da Fazenda e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

Enquanto o primeiro defendia o fim dos programas automotivo­s, o segundo queria ampliar os benefícios fiscais. A renúncia foi mantida no mesmo R$ 1,5 bilhão por ano do InovarAuto, mas as exigências para as montadoras conseguire­m os mesmos benefícios ficaram maiores.

Kaefer deve apresentar seu relatório em outubro. A Medida Provisória tem de ser aprovada pelos plenários da Câmara e do Senado até dia 14 de novembro, prazo em que perderá a validade.

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