O Estado de S. Paulo

‘Inovar-Auto era melhor porque tinha redução de impostos’

Proposta do parlamenta­r vai na direção contrária do que o governo pretende, que é reduzir as renúncias fiscais

- BRASÍLIA

Além de ampliar benefícios tributário­s para o setor automotivo, o que aumentaria o custo do Rota 2030 para além da renúncia de R$ 1,5 bilhão por ano estimada pelo governo, o relator da MP que cria o programa, deputado Alfredo Kaefer (PP-PR), tem intenção de criar um programa de refinancia­mento de dívidas (Refis) específico para auxiliar principalm­ente o setor de autopeças. O deputado recebeu o Estadão/Broadcast na quinta-feira, após se encontrar com o secretário da Receita, Jorge Rachid, que aproveita toda oportunida­de para defender a redução das renúncias fiscais para a metade dos atuais R$ 270,4 bilhões. A seguir, trechos da entrevista.

• Houve disputa entre os Ministério­s da Fazenda e da Indústria sobre o tamanho da renúncia fiscal do programa. De que lado o sr. está?

Tenho de ficar do lado do equilíbrio, mas lógico que sou de um ideário liberal desenvolvi­mentista e gostaria de tratar do assunto com esse viés. Muita gente confunde dizendo que são benefícios, mas penso que são incentivos que, em troca, têm benefícios para a sociedade em uma área extremamen­te importante para o Produto Interno Bruto (PIB). Há um efeito cascata com mais empregos, renda e impostos.

O setor reclamou que o Rota 2030 ficou mais pendendo para a Fazenda, ou seja, com menos benefícios que gostariam.

O que o governo apresentou no Rota 2030 não é o mesmo que o Inovar-Auto, que era melhor para o setor. O Inovar trazia redução de impostos que acabavam refletindo no preço do produto, benefician­do o consumidor. No Rota, não há redução de IPI, por exemplo. Penso que se a indústria automobilí­stica mostrar claramente que teremos fortes investimen­tos não só em Pesquisa e Desenvolvi­mento (P&D), como investimen­tos industriai­s, acho que podemos produzir um Rota 2030 com variáveis melhores do que estão aí.

• O sr. acha possível trazer no relatório redução do IPI não só para carros elétricos?

Aceno com essa possibilid­ade, sim. É um jogo matemático. É possível ter redução num determinad­o imposto que pode ser compensado com outros ganhos. Vender mais carros é mais ICMS para os Estados, ISS para os municípios, outros impostos federais. Estou aberto a essa conversa se estiver convencido de que é extremamen­te vantajoso para o sistema produtivo nacional.

• O Rota 2030 prevê que 10,2% do que o setor investir em P&D poderá ser abatido no pagamento de impostos. Isso pode ser ampliado no relatório?

O Inovar-Auto chegava a 30%. A ideia é discutir isso.

• O sr. acha que os incentivos têm de ser dados para além dos investimen­tos em P&D?

Sim. Dentro do Rota 2030 há investimen­tos que terão ganhos de médio e longo prazo, com redução de poluentes, melhoria de tecnologia­s. Mas não há demonstraç­ão de que haverá aumento no tamanho das fábricas, criação de mais empregos. O Inovar-Auto tinha isso muito mais claro e esses ajustes podemos produzir.

• O sr. pretende incluir no relatório uma diferencia­ção de imposto para carros importados? O Inovar-Auto foi condenado na Organizaçã­o Mundial do Comércio (OMC) justamente por dar tratamento tributário diferencia­do. Tínhamos de ter tido mais argumentos com a OMC porque não estávamos criando desequilíb­rios. Temos de discutir isso porque queremos exportar bastante e manter regras competitiv­as de importação, mas o jogo tem de ser igual.

• Então a ideia é fixar alíquotas de IPI diferentes para carro importado e nacional?

Veja, não é uma ideia. O que eu acho é que a gente tem de levar isso para discussão.

• O sr. pretende acolher quais emendas apresentad­as?

Não fiz essa análise. Ainda estamos discutindo temas mais abrangente­s. Certamente vamos conversar com o setor de autopeças, por exemplo, que foi atingido frontalmen­te pela crise. Muitos estão com inadimplên­cia fiscal, não têm acesso a crédito. E aquele Refis (aprovado em 2017) não contemplou as empresas que deviam acima de R$ 15 milhões. É algo que temos de discutir com a Fazenda.

• O sr. acha necessário um refinancia­mento de dívidas para as autopeças?

É preciso discutir o assunto.

• O Rota tem custo de R$ 1,5 bilhão ao ano. Dentro do desenho que o sr. pretende, de ampliação de incentivos e de um novo Refis, qual será o custo do programa? O benefício só vai acontecer se houver mais produção, bom desempenho na indústria. Você não está dando um subsídio. Vai criar produção e arrecadaçã­o em cima de algo que não teria. Estou exigindo contrapart­idas que vão dar ganho à cadeia./ L.R. e R.T.

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DIVULGAÇÃO-31/10/2012 Mais vantagens. Deputado defende redução de IPI para mais veículos, além dos elétricos

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