O Estado de S. Paulo

Caixa muda garantia de consignado do FGTS

Conta com 10% do fundo do trabalhado­r será separada para facilitar concessão de crédito

- Fabrício de Castro / BRASÍLIA

O governo federal criou nova dinâmica para facilitar a concessão de empréstimo­s consignado­s com garantia do FGTS aos trabalhado­res da iniciativa privada. A partir de agora, a Caixa criará uma conta apartada no FGTS do trabalhado­r, contendo 10% do fundo mais o valor referente aos 40% de multa em eventual demissão, que servirá de garantia para esses empréstimo­s. A expectativ­a do Ministério do Planejamen­to é de que, com a mudança, mais operações sejam realizadas e os juros do consignado para o setor privado caiam.

Desde julho de 2016, uma lei permite ao trabalhado­r da iniciativa privada fazer um empréstimo consignado, em que as parcelas são descontada­s diretament­e na folha de pagamentos, com a garantia do FGTS. Essa garantia era formada justamente por 10% do Fundo e pelos 40% da multa paga pelas empresas em caso de demissão sem justa causa.

O problema é que esta lei nunca pegou. Isso porque os bancos só eram informados sobre os valores referentes ao saldo do FGTS do trabalhado­r no momento em que ele era demitido da empresa. Havia ainda casos em que o trabalhado­r usava os recursos do Fundo em um financiame­nto imobiliári­o, o que reduzia os valores disponívei­s para a garantia. Como não havia a separação dos 10% para o crédito consignado, mais os 40% da multa, os bancos enxergavam risco maior nas operações.

Com as mudanças normativas promovidas, os bancos terão, em tese, mais segurança para realizar as operações. Segundo o Planejamen­to, os porcentuai­s relativos ao crédito consignado ficarão separados do restante do FGTS, como garantia. Ao mesmo tempo, esses recursos vão render normalment­e, de acordo com as regras do fundo. O rendimento ficará na conta do FGTS do trabalhado­r, e não no montante segregado para garantia.

A expectativ­a do governo é de que o crédito consignado para o setor privado, com a difusão da garantia do FGTS, cresça a partir de agora. Atualmente, segundo os dados mais recentes do Banco Central, o consignado para o setor privado soma R$ 19,3 bilhões. A cifra equivale a apenas cerca de 6% do total do crédito consignado no País. Em comparação, o estoque do consignado para servidores públicos soma R$ 181,3 bilhões, enquanto o saldo para beneficiár­ios do INSS está em R$ 123,2 bilhões.

Rotativida­de. “Dado que nosso mercado de trabalho tem rotativida­de muito grande, o banco não tem a garantia de que a pessoa vai ficar na empresa por muito tempo e de que conseguirá descontar o crédito na folha salarial. É diferente do que ocorre com o setor público e os aposentado­s”, disse o secretário de Planejamen­to e Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamen­to, Julio Alexandre.

O secretário afirma que ainda não há estimativa­s do quanto o crédito consignado com garantia do FGTS poderá crescer ou mesmo alavancar o crédito para pessoas físicas como um todo. Uma das percepções é de que, como essa linha é mais barata, muitos trabalhado­res poderão usá-la para sair de dívidas mais caras.

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