O Estado de S. Paulo

Retratos históricos

Mostra em SP reúne mais de 200 fotografia­s de Bob Wolfenson dos últimos 45 anos

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

Ao ouvir um elogio sobre a fotografia de Rita Lee segurando um gatinho, de 1976, Bob Wolfenson brinca. “Essa foi uma das primeiras fotos que fiz da Rita, eu era melhor nessa época.” Ao todo, já se vão quase 50 anos de carreira do fotógrafo paulista e a comemoraçã­o vem com uma grande exposição retrospect­iva de parte da sua obra, Retratos, que já está em cartaz no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo.

A mostra conta com mais de 200 imagens, algumas inéditas. O mais antigo registro é do dramaturgo Zé Celso, feito em 1973, um ano antes de seu exílio em Portugal. Os mais novos são de 2018, como fotos de Fernanda Young e do fotógrafo Sebastião Salgado. “Fiz questão de trazer fotos mais novas, para não jogarem uma pá de cal em cima de mim”, diz o artista, de 64 anos com muito bom humor, numa visita acompanhad­a pelo Estado à exposição. “Estou mais vivo que quando fiz todas as fotos mais antigas.”

Outra foto bem recente é do candidato à Presidênci­a da República Guilherme Boulos, do PSOL, acompanhad­o de sua vice, Sônia Guajajara. Já na entrada da mostra, o público se deparar com uma parede repleta de fotos de políticos, como de Paulo Maluf, então prefeito de São Paulo em 1979, e dos ex-presidente­s Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. “As fotos foram para campanhas oficiais e encomendas de jornais, que ele fez sem fim específico”, comenta o curador, Rodrigo Villela, ao ser questionad­o se houve um cuidado especial nessa parte da montagem, dado o clima de sensibilid­ade no País quanto às questões políticas. “Obviamente, tenho meus posicionam­entos, mas o que faço é uma crônica”, explica Bob.

Na parede em frente, um outro lado não tão conhecido de Wolfenson, seus momentos de paparazzo. São registros de rua de grandes nomes como Charles Chaplin, Sophia Loren e Yoko Ono. “Abrir a exposição com esses dois núcleos menos reconhecid­os foi uma opção, mostra uma parte também importante do trabalho”, diz o curador. As fotos nesse primeiro andar são de menor escala e Bob brinca mais uma vez. “Eu gosto mais de fotos grandes, tenho esse narcisismo.”

Por esse ângulo, pode-se dizer que os demais andares da exposição agradam bastante ao fotógrafo. São grandes fotos com alguns de seus retratos mais famosos, como de Caetano Veloso, Fernanda Montenegro e Sonia Braga. “Não tenho a capacidade de traduzir a alma de ninguém, mas o instante desse meu encontro com os fotografad­os fica eternizado pela força desses momentos”, analisa.

Segundo o fotógrafo, o critério de escolha das imagens foi variado. “Algumas foram por questões estéticas e outras por serem pessoas importante­s para mim”, explica. “Uma pessoa com expressão forte como a Laerte ou algo raro, como o Chico Buarque sem camisa. Fotografo pessoas que são muito fotografad­as, tento trazer alguma originalid­ade.” Ao todo, segundo o curador da mostra, o processo de seleção das imagens passou por cerca de 1.500 fotos.

Alguns dos registros eternizam ainda grandes personalid­ades que já se foram, como Luiz Melodia e Caio Fernando Abreu. “Os trabalhos não foram concebidos como fotorrepor­tagem, mas agora é como um documento jornalísti­co, crônica de uma época.”

Num momento em que São Paulo recebe uma mostra sobre o fotógrafo Irving Penn, um dos grandes ídolos de Bob, junto com Richard Avedon, o brasileiro reflete sobre suas influência­s ao ver seus trabalhos colocados lado a lado. “Reconheço onde eles me influencia­ram e as minhas particular­idades.” Bob afirma que, no futuro, quer fazer uma exposição ainda maior. “Retratos são só 30% do meu trabalho.”

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GABRIELA BILÓ/ESTADÃO Retratado. Bob Wolfenson posa em sua exposição
 ??  ?? Ilustres. Rita Lee, Jô Soares, Zélia Gattai e Jorge Amado e Maria Bethânia
Ilustres. Rita Lee, Jô Soares, Zélia Gattai e Jorge Amado e Maria Bethânia
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FOTOS BOB WOLFENSON

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