O Estado de S. Paulo

Eleitorado evangélico cresce; Marina perde apoio

Campanha. Ela tem 12% das intenções de voto entre os fiéis dessas igrejas, porcentual igual ao obtido com os católicos; na eleição passada, suporte nesse segmento era de 43%

- Marianna Holanda Daniel Bramatti COLABOROU GILBERTO AMENDOLA /

A candidata da Rede tem apenas 12% das intenções de voto entre evangélico­s, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. No cenário sem Lula, ela perde a preferênci­a do grupo para Bolsonaro, que tem 26% das intenções. Na eleição de 2014, Marina Silva tinha 43% de apoio entre fiéis de sua religião. Naquela época, um em cada cinco eleitores era evangélico. Agora, a proporção é de um em cada quatro.

Única evangélica entre os principais candidatos a presidente, Marina Silva (Rede) perdeu o embalo do cresciment­o do eleitorado dessa religião desde 2014. Hoje ela tem entre os evangélico­s apenas 12% das intenções de voto, porcentual igual ao obtido entre os católicos ou seguidores de outras religiões, segundo pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Há quatro anos, o quadro era muito diferente.

Quando disputou a Presidênci­a em 2014, Marina tinha desempenho acima da média entre evangélico­s: 43%, 12 pontos porcentuai­s a mais do que a taxa registrada entre os católicos. Se ela não tivesse perdido apoio entre os fiéis de sua religião, poderia liderar a corrida presidenci­al. No cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marina tem 12% das preferênci­as no eleitorado total. Ela está oito pontos porcentuai­s atrás de Jair Bolsonaro, do PSL.

O eleitorado evangélico, que já tinha peso significat­ivo em 2014, expandiu-se desde então, segundo pesquisas realizadas agora e há quatro anos. Naquela época, os evangélico­s eram aproximada­mente um em cada cinco eleitores. Agora, são um em cada quatro. Além de já não ter um eleitorado marcadamen­te evangélico, a candidata da Rede não é a preferida nesse grupo – no cenário sem Lula, Bolsonaro tem 26% no segmento, desempenho superior ao registrado entre católicos (17%).

Em 2014, Marina começou a campanha como candidata a vice-presidente de Eduardo Campos (PSB), e assumiu a cabeça de chapa após a morte do titular. Na época, ela se envolveu em polêmicas relacionad­as a aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Sobre o primeiro tema, se declara contrária, mas defendeu e continua defendendo a realização de um plebiscito sobre legalizaçã­o. Em relação ao segundo, logo após publicar seu programa de governo, a campanha trocou “casamento gay” por “união civil” no capítulo que discutia direitos dos homossexua­is. A alteração foi interpreta­da como tentativa de evitar reações negativas no eleitorado religioso.

‘Traição’. “Acreditáva­mos que ela era nossa candidata. Quando chegou a questão do aborto, do casamento homoafetiv­o, ela não se posicionou”, disse o deputado Marco Feliciano (Podemos), um dos principais nomes da bancada evangélica na Câmara. “Com a história do plebiscito, ela traiu a questão evangélica.”

Agora, a candidata não parece tão preocupada com a possibilid­ade de desagradar a esses eleitores. Sem meias-palavras, seu programa defende garantir por lei o casamento entre pessoas do mesmo sexo e direitos iguais para adoção. Com um programa mais à esquerda que o de 2014 – elaborado em conjunto com o PSB – o atual partido de Marina busca seduzir eleitores que podem ficar “órfãos”, após a provável declaração de inelegibil­idade de Lula – condenado em 2.ª instância e preso desde abril.

As pesquisas mostram que Marina, neste momento, é quem mais se beneficia da saída de Lula da corrida eleitoral. A ex-ministra sai de 6% para 12%, no cenário com e sem o petista, respectiva­mente. Seu eleitorado é marcadamen­te feminino, nordestino e pobre.

Distante de religiosos mais conservado­res, Marina tenta se aproximar de pastores que se contrapõem à agenda da bancada evangélica do Congresso e a bandeiras de Bolsonaro. Em entrevista ao canal do YouTube do pastor Caio Fábio, no início do mês, Marina afirmou que “o Estado é laico, graças a Deus”.

Cabo eleitoral declarado de Marina, o pastor disse que a queda de apoio a ela entre evangélico­s se deve mais aos próprios eleitores do que às propostas de Marina. “Isso tem a ver com o embrutecim­ento religioso.”

Diálogo. Ao Estado, Marina disse que “a comunidade evangélica é grande e relevante no Brasil, são cidadãos dignos de respeito nas suas demandas de saúde, educação, segurança pública como qualquer outro cidadão”.

Questionad­a sobre a perda de apoio entre eles, disse que vai “dialogar com todos os brasileiro­s, independen­temente do credo, cor e condição social”. Eduardo Jorge (PV), vice de Marina, afirmou que não vale tudo para vencer a eleição, e que a candidata “paga o preço de manter sua fé intacta e ter abertura para conversar com os diferentes”.

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