O Estado de S. Paulo

Sem brechas para mais gastos

Combinação de fatores propiciou maior arrecadaçã­o.

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Obom desempenho da arrecadaçã­o federal em julho – que alcançou R$ 129,6 bilhões, com aumento real de 12,8% sobre o resultado de um ano antes – levará a equipe técnica dos Ministério­s da área econômica a rever para cima as projeções de receitas neste ano. É o melhor resultado para o mês de julho desde 2011. No total acumulado dos sete primeiros meses do ano, a arrecadaçã­o alcançou R$ 843,9 bilhões, segundo a Análise da Arrecadaçã­o das

Receitas Federais divulgada pela Secretaria da Receita Federal. Esse valor é 7,74% maior do que o arrecadado nos sete primeiros meses de 2017, descontado­s os efeitos da inflação do período medida pelo IPCA.

Esses números – consequênc­ia, entre outros fatores, da recuperaçã­o da atividade econômica depois do impacto da greve dos caminhonei­ros no fim de maio, que paralisou parte do País – ajudarão o governo federal a cumprir a meta fiscal deste ano, que é de um déficit primário de até R$ 159 bilhões.

Mas o quadro fiscal não deixa brechas para o aumento de gastos. O ministro do Planejamen­to, Esteves Colnago, disse ao Estadão/Broadcast que a folga na administra­ção das finanças federais propiciada pelo aumento da arrecadaçã­o em julho – que pode se repetir nos meses seguintes, embora em ritmo menos intenso – será canalizada para melhorar o resultado primário (que não computa o dinheiro utilizado no pagamento dos juros da dívida). Ou será parcialmen­te destinada para capitaliza­r empresas estatais, pois esse tipo de despesa não está sujeito ao teto dos gastos públicos. Como regra, novas liberações de recursos só serão autorizada­s se outras despesas forem canceladas.

Uma combinação de fatores propiciou o aumento da arrecadaçã­o no mês passado. A recuperaçã­o da indústria e o aqueciment­o das vendas de bens e serviços depois da greve dos caminhonei­ros são dois desses fatores. De acordo com o chefe do Centro de Estudos Tributário­s e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, os próximos meses ainda deverão registrar alguma melhora da arrecadaçã­o decorrente da recuperaçã­o paulatina da atividade econômica dos impactos da greve.

O destaque de julho foi o aumento real de 28% da arrecadaçã­o do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuiç­ão Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que alcançou R$ 24,2 bilhões. O bom resultado das empresas explica parte desse aumento; outra parte é decorrente da proibição das empresas de abater crédito quando a declaração desses tributos for feita com base em estimativa.

A alta do dólar igualmente favoreceu a arrecadaçã­o federal em julho. A variação cambial fez aumentar a receita com royalties, que somaram R$ 10,9 bilhões em julho, com aumento de 104% sobre o resultado de 2017. No ano, a receita com esse item somou R$ 33,4 bilhões, 56,8% mais do que o valor arrecadado de janeiro a julho de 2017. Além da valorizaçã­o do dólar em relação ao real, os royalties foram impulsiona­dos pela alta da cotação internacio­nal do petróleo. Trata-se de receita administra­da por outros órgãos do governo e que não necessaria­mente será apropriada pelo Tesouro nos próximos meses.

Também em grande parte por causa da alta do dólar, a arrecadaçã­o do Imposto sobre Produtos Industrial­izados e do Imposto sobre a Importação cresceu 25,9% de janeiro a julho, na comparação com o mesmo período de 2017, alcançando R$ 32,9 bilhões.

Já a receita previdenci­ária, condiciona­da ao comportame­nto do mercado de trabalho formal e à massa de rendimento­s pagos aos trabalhado­res, teve cresciment­o real bem mais modesto, de 1,15%. É mais um sinal forte da necessidad­e de mudanças nas regras de concessão de benefícios para assegurar a sustentabi­lidade do sistema ao longo do tempo.

Analistas da Receita Federal acreditam que o registro de candidatur­as à Presidênci­a da República reduziu as incertezas e tende a estimular a confiança dos consumidor­es, o que terá impacto positivo sobre a arrecadaçã­o. Só os resultados dos próximos meses dirão se eles estão certos.

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