Principal adversário de Doria é França, diz publicitário
Marqueteiro de Doria, Biondi afirma que legado de Alckmin são as obras e ‘não a pessoa física do Geraldo’ e constata voto ‘bolsodoria’
Depois de liderar a comunicação da campanha à reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo paulista em 2014, o publicitário Nelson Biondi, de 75 anos, assumiu o mesmo cargo no comitê do ex-prefeito João Doria (PSDB) para o Palácio dos Bandeirantes com uma missão bem mais difícil pela frente.
Apesar de aparecer na liderança da mais recente pesquisa Ibope/Estado/TV Globo, com 20% das intenções de voto, Doria também lidera no quesito rejeição: 35% dos paulistas dizem que não votariam no ex-prefeito de jeito nenhum. Em 30 de julho de 2014, Alckmin tinha 50% das intenções de voto na pesquisa Ibope para o governo do Estado.
A questão que surge então é como o “legado” de Alckmin será usado na campanha de Doria para reverter esse quadro. Para tratar dessa estratégia, o marqueteiro Biondi e seu sócio (e genro) André Gomes, de 54 anos, receberam a reportagem do Estado na produtora da dupla em São Paulo, onde está instalado o bunker da campanha de Doria.
“Quando a gente fala legado, é a duplicação da Tamoios, o metrô, etc., não a pessoa física do Geraldo Alckmin”, responde Biondi. Para evitar que se crie algum tipo de mal-estar com o exgovernador, Gomes se apressa em dizer: “Vamos usar o Geraldo na campanha, claro”.
Há, porém, um componente que torna essa equação complexa. Quem lidera as pesquisas presidenciais em São Paulo, no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não é Alckmin, mas o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Sem Lula, preso e condenado na Operação Lava Jato, Bolsonaro tem 22%, Alckmin, 15% e Marina, 10% no Estado que é governado há 24 anos pelo PSDB.
Analistas apontam que esse cenário pode gerar um voto misto, o “bolsodoria”. “O eleitor que votaria normalmente no Geraldo, mas que, por qualquer razão, vai votar no Bolsonaro, vê no João alguém que parece o Alckmin lá atrás”, diz Biondi.
Gomes intervém e avalia que, ao contrário do que dizem os aliados do ex-governador, o fenômeno Bolsonaro tem fôlego. “É o voto da indignação. Bolsonaro não vai desidratar. Ele é fruto de outra coisa que está acontecendo. É o que melhor se posicionou nas redes sociais. Os eleitores dele dificilmente migrarão.”
Biondi afirma que nunca viu uma pesquisa em que um candidato tivesse 19% de intenção de voto na estimulada e 15% na espontânea. “Esses pulam do viaduto com ele. Quem vota no Bolsonaro é o cara que está cansado, mas também os que não lembram de revolução, que jogaram gente de helicóptero. Ditadura e tortura é uma coisa distante para essa juventude ‘bolsonariana’ que está nas redes e vai recebê-lo nos aeroportos”, diz.
Adversário. A questão que surge é: como convencer o eleitor a acreditar em alguém que rejeita o rótulo de político, mas deixou a Prefeitura após pouco mais de um ano no cargo? “A primeira coisa é dar o discurso para quem vota nele não passar vergonha no bar”, diz Biondi, que usa a teoria do copo meio cheio para justificar o otimismo de sua fala.
“Se a rejeição é menor que 50%, então tem mais gente disposta
a votar nele. Tem mais gente porcentualmente que diz que vota no João do que não vota. Vamos primeiro defender o voto que ele já tem, depois virar outros votos.”
Por motivos estratégicos, a dupla não revela os argumentos que estarão no primeiro programa
de TV do horário eleitoral gratuito, que será exibido nesta semana, mas diz que o principal adversário a ser batido no primeiro turno é o atual governador, Márcio França (PSB), que apareceu com apenas 5% das intenções de voto no Ibope, ante 18% de Paulo Skaf (MDB).
“O Márcio disputa no mesmo campo que o nosso. Ele vai se apropriar de 24 anos de governos do PSDB, vai dizer que passou pela crise, que as obras continuaram e que hoje as contas estão no azul”, avalia Biondi. “Ele quer assumir um legado que não é dele”, completa o sócio do publicitário.
O raciocínio é simples: França tem espaço para crescer usando o que deu certo nos governos tucanos, mas não carrega a estafa de material do PSDB, que está há 24 anos no poder.
“Skaf tem um teto que nós sabemos qual é. Não vai passar de 22%. Não vai subir”, avalia Gomes. Caso o cenário torne inevitável um embate direto entre Doria e o emedebista, a dupla já tem no gatilho uma “bola de ferro” para amarrar no pé do adversário: o selo de candidato do presidente Michel Temer (MDB), “o mais impopular da história”.
“Quando a gente fala legado, é a duplicação da Tamoios, o metrô, etc., não a pessoa física do Geraldo Alckmin.” Nelson Biondi
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“Vamos usar o Geraldo.” André Gomes
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