O Estado de S. Paulo

Pesquisas rejeitam relação entre violência e games

SÃO JORNALISTA­S

- Maya Salam & Liam Stack / / TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Logo após o tiroteio na escola em Parkland, na Flórida, em fevereiro, o presidente Donald Trump disse que videogames e filmes violentos tinham papel nos ataques a tiros em escolas, uma afirmação já rejeitada muitas vezes. “Temos de observar a internet, porque há muitas coisas ruins acontecend­o com os jovens”, disse Trump. “E há também os videogames. Eu estou ouvindo mais e mais pessoas dizendo que o nível de violência nos videogames está moldando a mente dos jovens.”

Estudiosos dos meios de comunicaçã­o dizem que as alegações sobre videogames e filmes violentos não resistem a uma análise mais aprofundad­a. Em um ensaio de 2005 para a PBS, Henry Jenkins, professor da Universida­de do Sul da Califórnia, disse que o crime entre jovens nos EUA estava em seu nível mais baixo em 30 anos, embora seja grande o número de jovens que joga videogames.

“Os pesquisado­res constatara­m que as pessoas que cumprem pena por crimes violentos, geralmente, dedicam menos tempo aos meios de comunicaçã­o antes de cometer os crimes do que a média da população em geral”, escreveu Jenkins. Quando se trata de videogames, segundo ele, “a esmagadora maioria das crianças que jogam não comete atos antissocia­is”.

De acordo com estudo de 2015, do Pew Research Center, 49% dos adultos americanos jogam videogames, seja em computador­es, TVs, em consoles de videogame ou em dispositiv­o portátil, como celular ou iPad. No Japão, cerca de 60% da população jogou videogame em 2016, de acordo com a NewZoo, empresa de pesquisa de mercado de jogos – mas quase ninguém é morto por arma de fogo no país, que proíbe a posse, transporte, venda ou compra. Houve apenas seis mortes por armas de fogo no Japão em 2014, em comparação com mais de 33 mil nos EUA, de acordo com GunPolicy.org, que acompanha relatórios publicados sobre violência armada.

O argumento de que videogames violentos são os culpados pela violência no mundo real é rejeitado também por importante­s nomes do conservado­rismo. Em 2011, a Suprema Corte rejeitou a correlação quando decidiu, por 7 a 2, que a Califórnia não pode proibir a venda de videogames violentos para crianças.

“Estudos psicológic­os que pretendem mostrar uma conexão entre a exposição a videogames violentos e os efeitos prejudicia­is sobre crianças não provam que tal exposição faz com que os menores atuem agressivam­ente”, disse o juiz Antonin Scalia, um dos mais conservado­res da corte, que morreu em 2016. “Os efeitos produzidos por outras mídias também são reduzidos e indistingu­íveis.”

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