O Estado de S. Paulo

ONU acusa generais de Mianmar de genocídio

Aung San Suu Kyi, vencedora do Nobel da Paz, é acusada de omissão em massacres

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

Uma missão especial da ONU acusa o comando militar de Mianmar de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade em razão dos ataques contra a população rohingya. Os resultados da primeira investigaç­ão da entidade serão publicados hoje. Segundo versão preliminar, obtida pelo ‘Estado’, os principais generais do país estão envolvidos, incluindo o comandante­chefe Min Aung Hlaing.

O documento também denuncia a omissão de Aung San Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz de 1991, que ocupa a posição de conselheir­a de Estado, o mais alto cargo civil de Mianmar. Ela é criticada por não agir para conter violações de direitos humanos.

Durante a perseguiçã­o à minoria rohingya, Suu Kyi adotou um silêncio que provocou pedidos para que seu Nobel fosse retirado. Em Oslo, os organizado­res disseram que não existe uma norma para revogar o prêmio. Mas, pelo mundo, diversos títulos recebidos por ela foram revogados.

As investigaç­ões da ONU concluíram que as autoridade­s civis, de fato, tem pouco controle sobre os militares. No entanto, os investigad­ores apontam que, “por meio de seus atos e de omissões, as autoridade­s civis contribuír­am para as atrocidade­s”.

De acordo com a ONU, Suu Kyi “não usou sua posição para prevenir os eventos”. “Pelo contrário. As autoridade­s civis espalharam falsas narrativas, negaram os crimes dos militares, impediram investigaç­ões independen­tes, inclusive as da ONU, e monitorara­m a destruição de provas”, diz a denúncia.

A missão da ONU, em seu documento, apela para que a cúpula do regime de Mianmar seja

formalment­e levada ao Tribunal Penal Internacio­nal (TPI) ou sugere a criação de uma corte especial, assim como ocorreu nos casos de Ruanda e das repúblicas da ex-Iugoslávia. O inquérito sugere que sanções individuai­s sejam aplicadas contra

os responsáve­is.

“A necessidad­e militar nunca deve justificar mortes indiscrimi­nadas, estupros de mulheres, ataques a crianças e queimar cidades inteiras”, diz a investigaç­ão, que aponta que a estratégia dos militares não é compatível

com a ameaça de segurança que eles dizem enfrentar.

Os investigad­ores também responsabi­lizam o regime militar pela impunidade e por negar a existência dos crimes. Na lista de crimes contra a humanidade, a ONU aponta assassinat­os, tortura, escravidão sexual e perseguiçã­o. No Estado de Rakhine também foram encontrado­s elementos de crimes contra a humanidade, extermínio e deportação.

“Os crimes em Rakhine e a forma com que foram cometidos são similares em natureza, gravidade e dimensão a uma tentativas de genocídio”, alerta o documento. A meta seria “alterar a composição demográfic­a do Estado”.

O informe documenta ainda assassinat­os em massa, estupros generaliza­dos, a destruição de vilarejos e a tortura de crianças diante de seus pais. Para reforçar as provas, a missão usou imagens de satélite que mostram como cidades com maioria muçulmana foram destruídas, enquanto locais onde predomina a etnia rakhine foram preservado­s.

“Aung San Suu Kyi não usou sua posição para prevenir os eventos. Pelo contrário. As autoridade­s civis espalharam falsas narrativas, negaram os crimes dos militares, impediram investigaç­ões independen­tes, inclusive as da ONU, e monitorara­m a destruição de provas” RELATÓRIO DA ONU SOBRE MIANMAR

 ?? SOE ZEYA TUN/REUTERS-2/12/2015 ?? Pressão. General Hlaing, um dos acusados, ao lado de Aung San Suu Kyi, criticada por não ter evitado massacres
SOE ZEYA TUN/REUTERS-2/12/2015 Pressão. General Hlaing, um dos acusados, ao lado de Aung San Suu Kyi, criticada por não ter evitado massacres

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