Papa Francisco encerra visita à Irlanda
Em carta, Carlo Viganò afirmou que Francisco foi informado em 2013 sobre abusos nos EUA; papa encerrou visita ontem à Irlanda
Em meio à visita de dois dias à Irlanda, onde esteve com vítimas de abusos de poder e sexuais cometidos por membros da Igreja Católica no país, o papa Francisco foi acusado pelo arcebispo e ex-núncio apostólico do Vaticano nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, de ter se omitido diante de denúncias semelhantes envolvendo o cardeal e arcebispo emérito de Washington, Theodore McCarrick. Em uma carta veiculada ontem, Viganò alega ter falado com o papa sobre os casos em junho de 2013, cinco anos antes de McCarrick renunciar ao cargo.
“Francisco fez dele (McCarrick) o seu fiel conselheiro. Só quando foi obrigado pela denúncia de um menor e, sempre em função do aplauso dos meios de comunicação, tomou medidas para, assim, proteger sua imagem midiática”, acusou. Viganò chegou a pedir a renúncia do papa. “A corrupção alcançou a parte de cima da hierarquia da Igreja.” A carta, de 11 páginas, não tem, contudo, nenhuma documentação que embase as acusações. Enquanto embarcava de volta para Roma, o papa Francisco disse que não iria se pronunciar sobre as acusações. Em junho, McCarrick, de 88 anos, foi afastado do Colégio Cardinalício.
Ao encerrar ontem a visita de dois dias à Irlanda, o papa pediu “perdão de Deus” pelos casos de abusos de integrantes da Igreja Católica no País. Desde 2002, mais de 14,5 mil irlandeses alegaram terem sido vítimas de crimes praticados por líderes religiosos católicos, o que inclui casos de estupro de vulnerável e retirada de crianças da guarda das mães para serem destinadas ilegalmente para adoção internacional. A Irlanda é um dos países mais católicos da Europa.
“Imploro perdão de Deus por estes pecados, pelo escândalo e a traição sofridas por tantas pessoas da família de Deus”, disse durante evento na cidade de Knock, a 180 km de Dublin.
Visita. Anteontem, Francisco se reuniu com oito vítimas de abuso na Irlanda, como Paul Jude Redmond, que foi adotado após ser ilegalmente tirado da mãe biológica. “Nenhum de nós pode prescindir de se comover com as histórias dos menores de idade que sofreram abusos, a quem lhes foi roubada a inocência e que foram abandonados com uma ferida de dolorosas recordações”, disse o pontífice sobre o encontro na cidade de Knock. “Esta cicatriz aberta nos desafia a sermos firmes e decididos na busca da verdade e da justiça.”
Antes de Francisco, o papa Bento XVI escreveu uma carta, em 2010, na qual admitiu a responsabilidade da Igreja Católica pelos abusos cometidos na Irlanda.
No domingo, 5 mil pessoas protestaram em Dublin contra os abusos. Na cidade, o papa pediu novamente perdão antes de celebrar uma missa no Encontro Mundial das Famílias. “Pedimos perdão pelos abusos na Irlanda,
“Imploro o perdão de Deus por estes pecados, pelo escândalo e as traições sofridas por tantas pessoas. Não posso deixar de reconhecer o grave escândalo causado na Irlanda pelos abusos a menores de idade por parte de membros da Igreja encarregados de protegê-los e educá-los.” Papa Francisco
abusos de poder e de consciência; abusos sexuais por parte de membros qualificados da Igreja.” Ele também falou sobre como “alguns membros da hierarquia” acabaram “guardando silêncio” diante de “situações dolorosas”. “Pedimos perdão pelas crianças que foram tiradas de suas mães”, disse. E encerrou a fala com um pedido para que Deus dê “forças para nos comprometermos a trabalhar para que isso nunca mais ocorra”.