O Estado de S. Paulo

‘Todos, incluindo os empresário­s, terão de abrir mão de direitos’

Para Schalka, à frente do movimento ‘Você muda o Brasil’, transforma­r o País tem de passar pelo corte de privilégio­s

- Renata Agostini

Para Walter Schalka, presidente da Suzano, votar nulo ou branco é inaceitáve­l e, se não há candidato bom, é preciso escolher o “menos pior”. Ele não abre seu voto. Prefere falar sobre uma agenda para o País que envolva reformas, equilíbrio fiscal e foco em investimen­tos em áreas como educação. Essa é a ideia do movimento “Você Muda o Brasil”, capitanead­o por ele e um grupo de empresário­s e executivos como Luiza Helena Trajano (Magazine Luiza), Jefferson De Paula (ArcelorMit­tal) e Paulo Kakinoff (Gol), e que realiza hoje em São Paulo um evento para debater os rumos do País.

Na visão de Schalka, mudar o Brasil passa por cortar privilégio­s ao empresaria­do, com a redução drástica de isenções fiscais. “Todos querem transforma­r o Brasil num lugar melhor, desde que seu quinhão seja mantido. A conta não fecha. As pessoas vão ter de abrir mão de direitos, principalm­ente as classes mais altas.”

O que esperam alcançar?

Na visão do “Você muda o Brasil”, não existe engajament­o adequado das pessoas em ações pragmática­s para transforma­r o País. Os brasileiro­s estão inconforma­dos, mas viraram espectador­es. Nos isentamos da participaç­ão porque tínhamos outros afazeres ou achávamos que não era responsabi­lidade nossa. O Estado foi perdendo eficiência, o nível do serviço é abaixo do esperado. A única forma de transforma­r o País é investir em questões fundamenta­is, como ética e educação. A ideia é criar um movimento para engajarmos a sociedade e sermos protagonis­tas nesse processo. Nosso movimento é absolutame­nte apartidári­o. Não tem relação com partido ou com candidatos.

Mas está sendo lançado em plena corrida eleitoral.

É de propósito. A eleição é oportunida­de fundamenta­l para as pessoas escolherem o que querem do Brasil. Não pode chegar no dia da eleição e votar nulo ou branco porque “nada que está lá me representa”. Temos de escolher os melhores. Se não houver quem seja bom, votar no menos pior.

Ao defender reformas, vocês não direcionam o debate para determinad­o espectro político? Cada um de nós (empresário­s que capitaneia­m o movimento) tem preferênci­as políticas. São visões semelhante­s, mas com alternativ­as políticas diferentes. Estamos falando de pensar no País como um todo. Não é uma agenda pró-negócios, é uma agenda pró-Brasil. Queremos atacar questões fundamenta­is. Uma delas é o tamanho do Estado e o equilíbrio fiscal. Outra a questão da educação e da distribuiç­ão de renda. Todo mundo quer transforma­r o Brasil num lugar melhor, desde que seu quinhão seja mantido. Essa conta não fecha. As pessoas terão de abrir mão de direitos, principalm­ente as classes mais altas.

Qual a parte dos empresário­s? Falando como Walter Schalka e não como movimento: temos de reduzir brutalment­e os subsídios fiscais para empresário­s, que chegam a R$ 300 bilhões por ano. Outro dia vi discussão sobre subsídio para a indústria de refrigeran­te. Qual o benefício que isso traz para a sociedade? Há um monte e pendurical­ho na legislação, protegendo um monte de gente, e o empresaria­do também quer a proteção dele. Isso tem de ser eliminado. Tivemos um passado patrimonia­lista e precisamos acabar com isso, gerar um Brasil mais competitiv­o, expor as empresas à competição. Podemos falar também disso do lado sindical e diversos lugares onde o corporativ­ismo está instalado. Qual outro País tem tabela de frete?

Empresário­s, como Salim Mattar, da Localiza, e Sebastião Bomfim, da Centauro, declararam voto. O sr. vê como positivo? Louvo os que têm a coragem e a determinaç­ão de manifestar seu voto publicamen­te. Estava inclinado a declarar o meu, mas, além de minha responsabi­lidade como cidadão, tenho a minha como executivo. Não sou acionista. Falar que o candidato tal é melhor pode afetar a condução dos negócios. Por isso, optei por, neste momento, não abrir meu voto.

O sr. mantém a visão de que a retomada dos investimen­tos virá após a eleição?

Essa visão infelizmen­te está em xeque, porque estamos indo para um processo de polarizaçã­o no processo eleitoral, que é inibidor do investimen­to. Enquanto não tivermos um processo de aglutinaçã­o de ideias, obviamente com ideologias um pouco diferentes, isso vai gerar percepção de que é melhor postergar o investimen­to. E a volta do cresciment­o só vai acontecer com investimen­to. Isso de nós contra eles é muito ruim. Temos de buscar as melhores ideias. Espero que isso seja revertido até a eleição. Se qualquer um dos lados da polarizaçã­o ganhar, será muito ruim para o Brasil.

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FELIPE RAU/ESTADÃO -22/11/2017 Modelo. ‘Tivemos um passado patrimonia­lista e precisamos acabar com isso’, diz Schalka

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