O Estado de S. Paulo

‘Os jovens são propensos a cair em todas as armadilhas financeira­s’

Richard Thaler diz que jovem é mais impulsivo nos gastos e dá dicas para evitar esse tipo de comportame­nto

- Augusto Tecker ESPECIAL PARA O ESTADO

As pessoas não são totalmente racionais e nem sempre tomam a decisão que faz mais sentido – longe disso. Mas, apesar da tese parecer óbvia, a economia clássica sempre tratou os seres humanos como 100% racionais. Isso começou a mudar com os estudos de economia comportame­ntal, que tem entre os seus “pais” o economista Richard Thaler, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2017. Apesar dos momentos de irracional­idade, Thaler aponta que, felizmente, há maneiras de fazer com que as pessoas fiquem inclinadas a tomar uma decisão mais lógica. Isso acontece por meio de um nudge (empurrãozi­nho/cutucão): quando essas opções são oferecidas de forma a tornar a pessoa mais propensa a escolher o que mais a beneficia. Ao Estado, ele falou sobre a relação dos jovens com o dinheiro. Entre as estratégia­s para tomar decisões melhores estão automatiza­ção de processos, orçamento planejado e, sobretudo, dar valor à educação. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Quais são as ciladas mais comuns que os jovens costumam enfrentar nas finanças pessoais? Jovens são propensos a cair em todas as armadilhas, já que a maioria é inexperien­te e tem pouco treinament­o formal. Eles têm tendência a serem impaciente­s, então podem ter dificuldad­es para resistir à tentação de gastar no momento presente. Para alguém de 20 anos, ter 40 anos é inimagináv­el; então, é difícil pensar em metas de longo prazo. O primeiro passo é aprender como viver com um orçamento. Pais podem ajudar ao dar uma pequena mesada para as crianças – aos oito anos, digamos – para elas se acostumare­m a economizar.

O que os jovens podem fazer para dar “empurrões” que os façam economizar?

A melhor estratégia é tornar as coisas automática­s. Assim que alguém conseguir um emprego com alguma renda, essa pessoa deve abrir uma conta poupança para a qual o dinheiro é transferid­o. Esse é um bom caminho em direção à economia para aposentado­ria.

O que o sr. acha que os jovens estão fazendo de errado?

O maior erro é sair da escola cedo demais. A educação é a melhor rota para o bem-estar financeiro. E nunca é tarde demais para remediar escolhas ruins. Mas, antes de escolher, pergunte-se que tipo de empregos os formados na área conseguem – e pense se você gostaria de ter esse emprego. A vida já é dura o suficiente. Tente conseguir um trabalho de que você goste e que te dê algum orgulho.

Há casos em que o mercado, via propaganda e afins, dá empurrões que fazem as pessoas tomarem decisões das quais provavelme­nte se arrepender­ão?

Sim. Sempre peço às pessoas para darem “empurrões para o bem”, mas empresas também podem dar empurrões por lucro. Chamo isso de sludge. Parte do papel dos governos deveria ser regular isso.

Quais são as melhores formas de se proteger?

É preciso aprender a ler pelo menos um pouco das letras miúdas. Faça perguntas como: o que acontece se eu quiser mudar de ideia? Posso cancelar a assinatura pela internet?

Existem bons empurrões que os governos podem dar? Bom, posso dizer algo que infelizmen­te não funcionou muito bem, que é educação financeira. Ensinar juros compostos no ensino médio é louvável, mas não muito eficiente. O melhor treinament­o é “na hora”: antes de comprar o primeiro carro, por exemplo, uma lição sobre financiame­nto versus leasing seria útil.

A educação financeira é ensinada da forma errada ou os assuntos errados são ensinados? O problema com cursos de educação financeira é que eles vêm antes de os alunos enfrentare­m decisões complicada­s, como comprar uma casa ou carro ou fazer um cartão de crédito. Os cursos não são ruins, o mundo é que é difícil e nós não nos lembramos muito do que aprendemos no ensino médio. O que você ainda lembra de trigonomet­ria?

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KAMIL KRZACZYNSK­I/REUTERS-9/10/2017 Estratégia. Thaler recomenda que, para economizar, dinheiro já saia automatica­mente da conta para uma poupança

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