O Estado de S. Paulo

Piratas dentro e fora do Caribe

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

Apesar dos ataques serem cada vez mais comuns em nossa costa, o brasileiro continua firme na sua toada de não contratar seguro, mesmo sabendo dos riscos que corre

Os piratas deveriam estar fora de moda. Afinal, faz 300 anos que tiveram seu apogeu, navegando nas águas do Caribe, saqueando os galeões espanhóis carregados de ouro em sua viagem para a Europa. Atualmente, estão reduzidos a personagen­s de filme, em aventuras de todos os tipos, com todos os grandes piratas nos papéis principais, invariavel­mente vencendo os espanhóis e mesmo os ingleses, com cujas cartas de corso se lançavam ao mar atrás de tesouros e fortuna fácil.

Os piratas deveriam estar fora de moda, mas não estão, especialme­nte nas águas do Caribe, onde a deterioraç­ão da situação venezuelan­a fez com que os seus ataques aumentasse­m mais de 160% nos últimos anos.

Piratas não são novidade no mundo moderno. Sempre estiveram por aí, atuando mais intensamen­te em determinad­as áreas dos oceanos, como a costa da Somália e as águas do Golfo das Filipinas.

Para quem imagina que o Brasil não tem piratas, vale lembrar o assassinat­o do velejador da Nova Zelândia, Peter Blake, em 2001, quando estava ancorado na costa do Amapá, por piratas brasileiro­s que roubaram apenas um relógio e um motor de popa, mas nem por isso deixaram o grande navegante vivo.

Mas não é apenas em locais ermos que os piratas atuam, tanto no Caribe, como no Brasil. Sua ação muitas vezes acontece dentro de portos como o de Santos, o maior porto da América Latina, onde os piratas agem com bastante sucesso, atacando os navios atracados, faz muitos anos.

Recentemen­te, uma quadrilha de traficante­s de drogas simulou um ataque pirata contra um navio no porto de Santos para embarcar, com destino à Europa, mais de uma tonelada de cocaína, disfarçada em dois contêinere­s. No caso, o plano falhou e eles foram presos e a droga, descoberta. Mas a simulação do ataque é suficiente para mostrar que eles são comuns e o grau de sucesso dos bandidos incentiva esse tipo de ação.

Na maioria das vezes, os piratas dos portos brasileiro­s não matam as tripulaçõe­s, o que não quer dizer que isso não aconteça – tanto faz se o alvo é um navio, uma lancha, um veleiro ou um pesqueiro.

Vários anos atrás, um primo foi vítima de um ataque desses enquanto dormia em seu veleiro ancorado na boca do Canal de Bertioga. Não foi uma experiênci­a agradável e ele e seu marinheiro acabaram presos no banheiro, enquanto os piratas levavam o que queriam, sem ninguém para impedi-los.

Os navios com rotas internacio­nais evidenteme­nte têm seguro para ataques de piratas. Eles acontecem frequentem­ente na costa da África, onde os piratas somalis se tornaram famosos ao ponto das grandes potências manterem belonaves de guerra navegando na região para persegui-los, assustá-los e assegurar a livre navegação, principalm­ente de navios de carga que cruzam aqueles mares.

Acontecem no Golfo das Filipinas, no Mar da China e em dezenas de portos espalhados pelos países do mundo, nos quais a ação de piratas faz parte da rotina. A cobertura não é automática, mas as companhias de navegação e os armadores sabem que essas ações podem custar caro, além de colocar em perigo a vida das tripulaçõe­s.

Mas este quadro muda radicalmen­te quando se fala das lanchas e veleiros particular­es e dos barcos de pesca da frota brasileira. A maioria deles não tem qualquer tipo de seguro, imagine um seguro com garantia para ataques de piratas.

Apesar dos ataques serem cada vez mais comuns e terem se espalhado por praticamen­te toda a nossa costa, com quadrilhas especializ­adas e bandidos sem nenhuma prática atacando as embarcaçõe­s, o brasileiro continua firme na sua toada de não contratar seguro, ainda que sabendo dos riscos que corre, dos valores envolvidos e até da possibilid­ade de perder a própria vida.

“Seguro para quê? Isso não acontece de verdade. É conversa de beira de cais ou sede de iate clube.” Até que o ataque acontece. No mundo real, além do roubo de valores e equipament­os, a ação pode terminar com um barco caro batendo nas pedras porque os piratas, além de atacá-lo, cortam o cabo da âncora na hora em que deixam a embarcação.

Se você tem barco, pense nisso e fale com um corretor.

A maioria dos barcos no País não tem qualquer tipo de seguro; imagine um com garantia para ataques piratas

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