O Estado de S. Paulo

Vida em Portugal

Adriana Calcanhott­o fala de sua rotina na Universida­de de Coimbra, na qual dá aulas – e para onde volta em 2019

- Adriana Del Ré

Adriana Calcanhott­o nunca tinha pensado em morar fora do Brasil. “Talvez eu não tivesse ímpeto de ir para Portugal e ficar”, afirma ela, em entrevista ao Estado, já de volta ao Rio e agora em turnê com o show A Mulher do Pau Brasil. Mas foi surpreendi­da. Primeiro, ao ser convidada para ser embaixador­a da Universida­de de Coimbra, em 2015, e, depois, para dar aulas na própria universida­de. “Como embaixador­a, pensei que poderia estudar, frequentar biblioteca­s, mas aí eles queriam que eu desse aulas. Então, fiz essa primeira estadia, que eram masterclas­ses, com um tempo para olhar a cidade, e fazer residência artística ao mesmo tempo”, conta. “Deu tão certo que eles pediram para voltar, mas ministrand­o um curso e, há pouco tempo, me chamaram e vou voltar para uma terceira estada no ano que vem.”

E qual é o papel da embaixador­a da universida­de? “Não tenho nenhuma tarefa específica. As coisas que faço e o público com o qual tenho contato é o que eles querem, porque é um universida­de que tem tradição, mas o que querem mostrar é que estão vivos e abertos. Eles adoram os alunos brasileiro­s, querem mostrar essa abertura, chamar uma pessoa que não é da Academia para ir lá conversar”, responde. “Por enquanto, sou a única embaixador­a da Universida­de de Coimbra, espero que pensem em mais pessoas pelo mundo.”

Nas masterclas­ses, ela chegou a falar para 500 pessoas. Já em seu curso, sobre como escrever canções, ministrou aulas para um grupo mais reduzido. “Eu nunca tinha tido experiênci­a de ter um curso com os mesmos alunos, que fazem perguntas, tenho de voltar a estudar para responder àquilo, me fazem ver a coisa de um outro ponto de vista, porque têm outra formação. Na minha turma, tinham portuguese­s de vários lugares de Portugal, brasileiro­s

de vários lugares do Brasil, tive um aluno angolano, gente um pouco mais madura, gente bem jovem, uns de Direito, uns de Psicologia, de Engenharia Química, gente até da Literatura (risos). Foi riquíssimo.”

Em Portugal, a rotina acadêmica lhe deu possibilid­ade de ter mais tempo livre, para ler, compor. “Entre 2016 e 2018, fiz algumas composiçõe­s, porque essa segunda ida para dar aula – não eram masterclas­ses, era curso mesmo –, eu tinha uma rotina de aulas, estava mais organizada e com mais tempo livre para compor, mas nem todas essas canções, essa produção era relativa ao show.” Assim nasceu a canção A Mulher do Pau Brasil, composta para o início da turnê (veja a letra nesta página). E, ali, além de professora, Adriana é também aluna. E tem se dedicado, por exemplo, a estudar arqueologi­a. “Larguei o colégio para fazer música. Não é porque eu não gostasse de estudar, é que eu não aguentava o ritual, as matérias que não me interessav­am, eu achava que perdia tempo.” Adriana conta que saiu do colégio no segundo

ano do que seria hoje o ensino médio. “Eu não conseguia ir à aula, comecei a ir de noite aos bares para ver as pessoas tocarem e não conseguia acordar. O grave é que, na escola, minha mãe era professora. E peitei (os pais), quero fazer música.”

No campo pessoal, passar esse período em Portugal também foi importante, após a morte de sua companheir­a, Suzana de Moraes, em 2015? “Foi, conheci muitas pessoas lá, e o tempo mais alargado para ficar lá, ler, pensar. Ir para lá não é para fugir dos problemas do Brasil, é justamente para olhar melhor para o Brasil, que é tudo o que sempre aconteceu nessa tradição dos estudantes brasileiro­s que vão para lá e veem o Brasil de outra maneira, e nunca mais se consegue olhar o País de outra forma.”

 ?? LEO AVERSA ?? Adriana Calcanhott­o. Obra de Adriana Varejão
LEO AVERSA Adriana Calcanhott­o. Obra de Adriana Varejão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil