O Estado de S. Paulo

Governo federal envia Exército para conter crise em Roraima

Ação na fronteira com a Venezuela tem prazo definido, de 15 dias; Estado considera medida insuficien­te

- Naira Trindade Tânia Monteiro Mariana Haubert / BRASÍLIA / COLABORARA­M LU AIKO OTTA, FÁBIO GRELLET e CYNEIDA CORREIA, ESPECIAL PARA O ESTADO

O presidente Michel Temer assinou decreto convocando as Forças Armadas para agir em Roraima. Será uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), por 15 dias, na área de fronteira com a Venezuela, que vive clima de tensão com a constante chegada de venezuelan­os ao País. Por enquanto, só o Exército vai atuar na área, mas terá poder de polícia. Não haverá deslocamen­to de tropas. A Brigada de Selva, em Boa Vista, tem mais de 3 mil homens. O governo do Estado considerou a medida insuficien­te e cobra mais recursos. Na segundafei­ra, Romero Jucá (MDB-RR) deixou a liderança do governo no Senado sob a alegação de que discordava da “forma como o governo federal está tratando a questão dos venezuelan­os em Roraima”. Jucá defende que o governo bloqueie as fronteiras.

Preocupado com a possibilid­ade de acirrament­o dos ânimos em Roraima, onde há um clima de tensão com a chegada de até 700 venezuelan­os ao País por dia, o presidente Michel Temer assinou decreto convocando as Forças Armadas para agir no Estado. Será uma ação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo prazo inicialmen­te de 15 dias – entre hoje e 12 de setembro, – na fronteira com a Venezuela e nas rodovias federais. O Estado considerou a medida insuficien­te.

Por enquanto, só o Exército vai atuar na área, mas terá poder de polícia. Não haverá deslocamen­to de tropas. A Brigada de Selva, em Boa Vista, tem mais de 3 mil homens em suas fileiras. Anteriorme­nte, o próprio Exército já havia transferid­o 600 homens para a fronteira, temendo algum confronto.

A medida foi antecipada ontem à tarde pelo blog da Coluna do Estadão. O ministro da Defesa, general Silva e Luna, afirmou que “não houve solicitaçã­o” de reforços da governador­a Suely Campos (PP), candidata à reeleição e opositora política do presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR). Anteontem, Jucá, candidato à reeleição, anunciou a saída da liderança do governo no Senado, por discordar da “forma como o governo federal está tratando a questão dos venezuelan­os”. Ele tem defendido o bloqueio temporário das fronteiras.

De acordo com o ministro do Gabinete de Segurança Institucio­nal, Sérgio Etchegoyen, as tentativas de entendimen­to com o governador­a sobre como agir foram ignoradas por ela. “A reação (da governador­a) até agora tem sido o silêncio e o não reconhecim­ento de que precisa de ajuda na segurança pública”, declarou, salientand­o que o Planalto “não cogitou” uma intervençã­o federal, como a do Rio, e vem ampliando o envio de imigrantes para outros Estados

(mais informaçõe­s abaixo).

No Rio, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, também saiu em defesa da ação, classifica­da como “absolutame­nte adequada”. “Como ela

(a governador­a) não se mobilizou, o presidente decidiu tomar a medida unilateral­mente. O Ministério Público Estadual pediu intervençã­o no Estado por causa da situação prisional, e até a Justiça não está conseguind­o funcionar, porque o crime organizado controla o sistema penitenciá­rio e não está permitindo a identifica­ção daqueles que precisam ir para audiências. Tudo isso cria um quadro de tensão, tanto para quem chega como para quem reside no País”, afirmou.

Em Boa Vista, Suely Campos disse que desde agosto de 2017 já havia feito a solicitaçã­o de uma GLO na fronteira, alegando que “imigrantes venezuelan­os vinham se utilizando de cabriteira­s (trilhas na mata) para o tráfico de armas e drogas em Pacaraima”. Para ela, agora a medida é “insuficien­te para amenizar os impactos que o intenso fluxo migratório têm provocado, nas áreas de segurança, saúde e educação” e cobrou mais recursos federais e ampliação do uso da Força Nacional no policiamen­to. Em conversas com o general Silva e Luna, reafirmou os pedidos feitos ao presidente Temer de ressarcime­nto de R$ 184 milhões e instalação de hospital de campanha em Boa Vista, por exemplo. O prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, também solicitou ação federal mais ampla. “Precisamos é de policiamen­to do Exército nas ruas.” Internacio­nal. No pronunciam­ento, Temer disse ainda que “é preciso buscar apoio da comunidade internacio­nal” para resolver a questão venezuelan­a, sem dar detalhes. “Essa situação afeta hoje quase toda a América do Sul. Vamos buscar apoio na comunidade internacio­nal e medidas diplomátic­as firmes que solucionem esse problema, que não é mais de política interna do País, que avançou fronteiras e ameaça a soberania de vários países, como Equador, Colômbia e outros.”

Com o agravament­o da crise migratória, o Brasil passou a se articular com vizinhos da região. Nesta semana, por exemplo, houve uma reunião em Bogotá da qual participar­am Colômbia, Equador e Peru. Paralelame­nte, o País tem apoiado iniciativa­s destinadas a pressionar o governo de Nicolás Maduro a restaurar a democracia no país.

A Venezuela já foi suspensa do Mercosul e pode ser suspensa da OEA por romper com os princípios democrátic­os. Em seu discurso, o presidente fez críticas ao governo Maduro e afirmou que a situação vivida em toda a América Latina e no Brasil, principalm­ente em Roraima, é fruto “das péssimas condições de vida a que está submetido o povo venezuelan­o”.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO-23/8/2018 Dificuldad­e. Situação de crise no Estado se intensific­ou neste mês

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