O Estado de S. Paulo

UTC pagava ‘mensalinho’ a ex-auxiliar de Haddad, diz MP

Improbidad­e. João Henrique Worn confirma em depoimento ao MP paulista visitas à UTC para buscar ‘presentes’ para José de Filippi Jr., ex-secretário na gestão do petista

- Fabio Leite

O MP-SP chamou de “mensalinho” os supostos pagamentos de propina feitos pela UTC a José de Filippi Jr., ex-secretário de Fernando Haddad. Ambos são investigad­os por suposto enriquecim­ento ilícito. Ouvido no inquérito, o motorista de Filippi, João Worn, disse que foi à UTC buscar “presentes” para o chefe. Haddad nega as acusações.

O Ministério Público de São Paulo classifico­u como “mensalinho” supostos pagamentos de propina feitos pela UTC Engenharia a José de Filippi Jr., ex-secretário de Saúde da gestão Fernando Haddad (PT), entre 2013 e 2014. O objetivo dos repasses, segundo o ex-presidente da empreiteir­a Ricardo Pessoa, era “abrir portas” para a empresa no governo petista, que havia acabado de tomar posse na capital paulista.

Três depoimento­s colhidos neste mês sustentam a tese da Promotoria de que Filippi Jr. recebeu R$ 200 mil de propina da UTC enquanto era secretário de Haddad para “atender aos interesses” da empreiteir­a na Prefeitura. Em troca, a empresa teria pago uma dívida de R$ 2,6 milhões da campanha petista de 2012 por meio de caixa 2. A suposta prática resultou em uma ação de improbidad­e administra­tiva movida pelo MP contra Haddad, o ex-secretário e outras cinco pessoas, conforme o Estado revelou ontem.

Um dos depoimento­s foi o do taxista João Henrique Worn, considerad­o “motorista de confiança” de Filippi Jr. No dia 23, ele confirmou ao promotor Wilson Tafner ter ido à sede da UTC em São Paulo buscar o que ele chamou de “presentes” da empreiteir­a para o ex-secretário de Haddad. Filippi Jr. foi tesoureiro das campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e de Dilma Rousseff (2010).

Filiado ao PT desde 1992, Worn já havia relatado isso à Polícia Federal em março de 2016, quando foi conduzido coercitiva­mente na Operação Aletheia, desdobrame­nto da Lava Jato, para esclarecer pontos da delação de Pessoa relacionad­os ao ex-tesoureiro de campanhas do PT. À época, Filippi Jr. negou a propina e disse que seu motorista ia “buscar brindes” na UTC.

Mas, segundo os investigad­ores, Worn foi o responsáve­l por receber, em nome de Filippi Jr., R$ 750 mil, entre 2010 e 2014, conforme planilha apresentad­a por Pessoa e pelo ex-diretor financeiro da empreiteir­a Walmir Pinheiro, que operava os pagamentos. Do total, R$ 200 mil ocorreram quando Filippi Jr. já era secretário de Haddad. Foram seis parcelas, entre R$ 25 mil e R$ 50 mil, de março de 2013 a maio de 2014.

Na semana passada, Worn disse ao MP que as “encomendas” solicitada­s por Filippi Jr. eram retiradas em mochilas ou sacolas com Pinheiro e entregues diretament­e a Filippi Jr. Questionad­o sobre o que havia dentro da mochila, afirmou que nunca viu nem tinha intimidade para perguntar ao ex-secretário.

Relacionam­ento. Em depoimento no dia 9 deste mês, Pessoa afirmou à Promotoria que os pagamentos tinham como objetivo a “manutenção de bom relacionam­ento” com Filippi Jr. e a “aproximaçã­o” com Haddad, candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato. Foi o ex-secretário quem apresentou Haddad ao dono da UTC durante a campanha de 2012 e, depois, intermedio­u um encontro entre ambos em fevereiro de 2013, já com Haddad na Prefeitura.

Três meses depois, a pedido do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, Pessoa pagou a dívida de campanha de Haddad. O promotor Wilson Tafner sustenta que Haddad, que já é réu no mesmo caso na Justiça Eleitoral, “tinha pleno domínio” sobre a quitação da dívida pela UTC. Na semana passada, Tafner obteve a condenação do ex-prefeito João Doria (PSDB) por improbidad­e no caso do uso do slogan “SP Cidade Linda” para “promoção pessoal”.

Defesas. O advogado Cristiano Maronna, que defende Filippi Jr., disse estranhar a ação no período eleitoral, quando o petista tentará se eleger deputado federal. “Jamais houve qualquer evidência concreta desses pagamentos”, afirmou.

Procurada, a defesa do taxista João Henrique Worn não quis se manifestar.

“Inconteste a dolosa conduta de Filippi Jr. ao receber os pagamentos de propina em espécie para atender aos interesses da UTC/Constran com a aproximaçã­o dos gestores da administra­ção.” Wilson Tafner PROMOTOR

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Caminhada. Haddad faz campanha no calçadão de Alcântara, bairro de São Gonçalo (RJ)

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