Tumulto e eliminação
Torcedores do Santos entraram no campo, atiraram fogos nos argentinos e quebraram cadeiras; juiz encerrou jogo no Pacaembu por falta de segurança
Técnico Cuca (de branco) e torcedor são contidos por PMs no Pacaembu; Santos empatava com Independiente quando juiz encerrou o jogo por falta de segurança, o que eliminou o time da Libertadores. Horas antes, a Conmebol havia punido o Santos, que precisaria golear.
Uma tentativa de invasão do gramado por parte da torcida do Santos encerrou precocemente um dia tenso para a equipe brasileira, eliminada nas oitavas de final da Copa Libertadores pelo Independiente. O juiz terminou o duelo depois que, aos 35 minutos do segundo tempo, bombas foram atiradas no campo. O placar mostrava 0 a 0.
Em uma situação normal, o resultado levaria o confronto para os pênaltis. Mas após decisão da Conmebol na manhã da partida, que alterou o resultado do jogo de ida para 3 a 0 para os argentinos porque o Santos escalou o meia Carlos Sánchez de maneira irregular, o Santos teria de pelo menos fazer o mesmo placar em campo para tentar decidir nos pênaltis.
Cientes de que o milagre não ocorreria, torcedores resolveram mostrar toda sua indignação. Xingaram a Conmebol, hostilizaram o próprio presidente santista, José Carlos Peres, atiraram bombas no setor dos visitantes e no gramado do Pacaembu, quebraram cadeiras e as arremessaram no campo e tentaram invadir, forçando a grade que separa o terreno de jogo das arquibancadas. Alguns conseguiram, mas foram contidos por policiais.
“A gente imaginava que isso poderia acontecer e acho que a torcida fez certo. Aconteceu uma vergonha dessas, então a torcida está totalmente certa de fazer o que fez”, disse o atacante Rodrygo. “Quando você entra já perdendo por 3 a 0 fica um pouco mais difícil. Eles entraram um pouco mais tranquilos, a gente entrou naquela pressão, sabia que seria muito difícil reverter o placar e infelizmente não conseguimos.”
A tensão que já existia antes de começar o duelo aumentou bastante com a revolta da torcida. A Polícia Militar foi acionada e houve muita briga dentro e fora do estádio. Quatro torcedores foram detidos e o técnico Cuca se envolveu em uma confusão com a PM, que estava imobilizando um torcedor que conseguiu pular no gramado.
“Foi uma força exagerada em cima do menino, e violência gera violência. Está errado o rapaz invadir o campo, mas não precisa fazer daquele jeito. Eu apenas disse que estava asfixiando ele. Não levei porrada, nada, já passou e não tem nada demais. Respeito e muito o trabalho da polícia”, afirmou o treinador.
Cuca fez de tudo para buscar os gols que dariam a classificação para o Santos. Colocou o time no ataque, mas sofreu diante de um bem postado Independiente, que poderia ter saído na frente não fosse o pênalti defendido por Vanderlei antes do intervalo. O time da casa ainda tentou um gol na etapa final, mas abusou dos chuveirinhos na área e ainda sofreu com os contra-ataques rivais.
A eliminação na Libertadores desanimou os jogadores do Santos, que relembraram ainda a queda na Copa do Brasil recentemente. Gabigol mencionou o fato de que, naquela ocasião contra o Cruzeiro, o jogo foi encerrado com ele partindo livre com a bola contra o goleiro. A decisão foi para os pênaltis e o time paulista foi eliminado.
Agora, o presidente Peres promete ir às últimas consequências para reparar a “injustiça” feita ao clube. “Quem manda na Conmebol são os argentinos. A decisão não foi técnica, foi política, injusta e lamentável. Não tenho a menor dúvida de que o erro foi da Conmebol e, se for possível, vamos paralisar essa competição porque ela está desmoralizada. Vamos lutar em todas as instâncias”, avisou.
Seu vice, Orlando Rollo, prometeu pagar os prejuízos que a torcida causou no estádio. “Isso está previsto no contrato.”