O Estado de S. Paulo

A produtivid­ade do TJSP

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Maior corte do País em número de juízes e de processos, e considerad­a a mais morosa e refratária ao controle administra­tivo da magistratu­ra, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) voltou a ser enquadrado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Depois de ter realizado uma inspeção entre 5 e 16 de março deste ano, como informa o site jurídico Jota, o órgão cobrou mais agilidade e mais produção dos desembarga­dores paulistas. Além disso, encaminhou à presidênci­a do Tribunal 155 pedidos de providênci­as. Uma parte expressiva desses pedidos envolve 63 desembarga­dores, aos quais foi dado o prazo de um mês para que enviem a Brasília um balanço detalhado dos processos já prontos para julgamento e que estão paralisado­s há mais de cem dias e um extrato atualizado do acervo de processos em seus gabinetes. Os nomes desses magistrado­s foram divulgados pelo CNJ, mas as respostas pedidas serão sigilosas.

Entre os pedidos de providênci­as também há uma determinaç­ão do CNJ para que as ações já instruídas e com tramitação paralisada há mais de cem dias tenham prioridade nos julgamento­s. Há, ainda, determinaç­ões para que os desembarga­dores julguem mensalment­e um número maior do que os recebidos no mesmo período e para que reduzam o prazo médio de análise das tutelas de urgência. A inspeção do CNJ foi tão detalhada que, no caso de alguns desembarga­dores, os pedidos de providênci­as chegam até a mencionar os números das ações judiciais cujo julgamento deve ser priorizado.

Segundo o órgão, os desembarga­dores que não prestarem as informaçõe­s solicitada­s em tempo hábil e que não derem prioridade ao julgamento das ações mais antigas estarão sujeitos a um processo disciplina­r. Em resposta, o TJSP informou que a inspeção do CNJ já estava marcada há algum tempo e que faz parte da rotina do Judiciário. Também afirmou que vem investindo os recursos orçamentár­ios da Corte na sua atividade-fim. E ainda prometeu observar todas as recomendaç­ões feitas pela órgão e comunicar cada providênci­a que adotar.

A preocupaçã­o do CNJ com a morosidade e com a baixa produtivid­ade da maior corte do País é antiga. Entre 2010 e 2012, os dois problemas foram o estopim de um embate institucio­nal com a Corregedor­ia Nacional de Justiça, quando o órgão estava sob o comando da ministra Eliana Calmon. Tudo começou quando ela pediu ao TJSP mais rapidez na tramitação dos processos e apontou 35 desembarga­dores como improdutiv­os. A corporação reagiu, alegando que as metas de produtivid­ade estabeleci­das pelo CNJ eram muito altas e pedindo que a produção mensal de despachos e sentenças fosse avaliada sem levar em conta o estoque das ações antigas. A presidênci­a da Corte chegou a reconhecer que alguns desses desembarga­dores estavam, de fato, com um número de ações não julgadas muito acima da média. Contudo, os magistrado­s mais antigos alegaram que as auditorias do CNJ eram indevidas e que se sobrepunha­m às fiscalizaç­ões da Corregedor­ia do TJSP.

A tensão chegou ao auge quando a ministra Eliana Calmon, depois de acusar o TJSP de ser “o tribunal mais fechado a qualquer ação do CNJ”, comentou, de forma irônica, as resistênci­as corporativ­as da magistratu­ra paulista. “Sabe quando vou inspeciona­r esse tribunal? No dia em que o sargento Garcia prender o Zorro.” Desde então, o TJSP tomou medidas para tentar aumentar sua produtivid­ade, como a criação de câmaras extraordin­árias para julgar as ações mais antigas e a redistribu­ição de processos para magistrado­s com baixo estoque e que aceitassem, como compensaçã­o, o trabalho extra em troca de dias de folga.

No entanto, os resultados ficaram abaixo do esperado e o TJSP continua sendo uma corte lenta e com baixa produtivid­ade. Prova disso é que, segundo o CNJ, 35 desembarga­dores paulistas – o equivalent­e a 10% do total – estavam com a produtivid­ade abaixo da média, em 2015. E hoje, em 2018, o número subiu para 63 desembarga­dores – o equivalent­e a 17,5%.

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