O Estado de S. Paulo

Toffoli quer destravar obras paradas por questão judicial

Ministro, que assume a presidênci­a do Supremo em setembro, fará um mapeamento de projetos interrompi­dos no País

- R.M.M. e A.P.

O futuro presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, quer distension­ar o ambiente na Corte, construir uma agenda em comum com os chefes do Executivo e do Legislativ­o – com a realização de reuniões mensais – e destravar obras de infraestru­tura que estão paralisada­s por causa de decisões judiciais. No próximo dia 13, Toffoli assume a presidênci­a do STF e tentará resgatar o espírito de “colegialid­ade” na Corte, cujas divisões internas se aprofundar­am na gestão de sua antecessor­a, a ministra Cármen Lúcia.

Ao assumir o comando do STF, Toffoli também herda a presidênci­a do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), instituiçã­o voltada para o aperfeiçoa­mento das atividades do Judiciário, em que pretende criar uma coordenado­ria que buscará resolver conflitos judiciais que travam grandes obras de infraestru­tura do País.

A ofensiva é uma das indicações de que o ministro quer dialogar com diversos setores da sociedade, tentar garantir um cenário de segurança jurídica e promover um ambiente mais “seguro” para o mercado financeiro, que tem encarado mal recentes decisões da Justiça, como a guerra de liminares para impedir o leilão de distribuid­oras da Eletrobrás.

Com experiênci­a no Executivo – foi advogado-geral da União no governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato –, e no Legislativ­o (foi assessor jurídico da Liderança do PT na Câmara dos Deputados de 1995 a 2000), Toffoli pretende levar ao Judiciário um estilo que delega funções, em contraposi­ção ao perfil de Cármen, considerad­a mais centraliza­dora.

Em um primeiro momento, o grupo do CNJ vai fazer um mapeamento de obras de grande porte que foram interrompi­das por decisões judiciais. Posteriorm­ente, o conselho chamará as partes envolvidas para chegar a uma solução para os impasses, em uma tentativa de conciliaçã­o nos processos, que envolverá ainda o Ministério Público e o Tribunal de Contas.

Pauta. A busca por maior estabilida­de jurídica também passa pelo STF. Como mostrou o Estado em julho, 75 de 100 liminares concedidas por ministros do STF em ações que suspendera­m parcial ou totalmente leis, decretos, resoluções e medidas provisória­s aguardam julgamento no plenário da Corte. Toffoli quer dar prioridade para análise desses processos pelo colegiado. Para o ministro, decisões que derrubem uma lei, por exemplo, não deveriam perdurar muito tempo sem o referendo do plenário.

As decisões individuai­s dos ministros nessas ações têm causado desgaste entre a Corte e os Poderes Executivo e Legislativ­o. Um exemplo recente é a decisão do ministro Ricardo Lewandowsk­i, que, às vésperas do recesso judiciário, proibiu a privatizaç­ão de estatais sem o aval do Congresso em casos em que há perda de controle acionário. O caso ainda não foi discutido pelo plenário, apesar de Lewandowsk­i já ter liberado o processo para a análise dos 11 ministros.

Toffoli também pretende consultar os colegas antes de definir quais processos serão julgados pelo plenário. O ministro espera finalizar julgamento­s de casos já iniciados, mas que ainda não foram concluídos por pedidos de vista (mais tempo para análise) feitos por integrante­s da Corte. Há uma série de processos em que os pedidos de vista já foram devolvidos, ou seja, estão liberados para serem retomados e aguardam os votos de poucos ministros, mas que ainda não foram pautados.

Toffoli não pretende pautar ainda para este ano ações que discutem a possibilid­ade de execução provisória de pena, como a prisão, após condenação em segunda instância. O ministro avaliou que isso provocaria um “desgaste” à imagem do tribunal em pleno período eleitoral.

O tema, no entanto, pode retornar ao plenário no início do ano que vem, já que o Supremo ainda não julgou definitiva­mente as ações, o que tem levado a críticas dentro e fora da Corte.

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