O Estado de S. Paulo

Amadorismo e violência

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Ocaso do uruguaio Sánchez revela quanto há, ainda, de amadorismo em clubes e em confederaç­ões. O jogador sem querer foi pivô de situação escabrosa, na qual se envolveram Santos e Conmebol. O Independie­nte, terceira parte interessad­a, ficou ali, de beleza, vendo o embate e entrou em campo ontem à noite praticamen­te classifica­do na Libertador­es, com 3 a 0 no tapetão; e segurou outro 0 a 0, em jogo que nem chegou ao fim.

O festival de erros começa na hora em que os santistas confiaram em um dos mecanismos de consulta da Conmebol. Com base numa espécie de sinal verde, acreditara­m que Sánchez estava liberado e o colocaram no jogo de ida na semana passada (0 a 0).

Só depois de a turma do Independie­nte estrilar é que se percebeu que o rapaz tinha de cumprir uma partida de suspensão por punição recebida nos tempos em que jogava pelo River Plate, três anos atrás. Então, foi um correcorre para armar a defesa, afinal inútil, pois foi decretada derrota protocolar.

O vacilo incontorná­vel do Santos foi o de botar fé na Conmebol de maneira singela. Com o histórico de informaçõe­s contraditó­rias, seja na entidade sul-americana como nas domésticas, deveria cercar-se de garantias, como documentos, declaraçõe­s por escrito, xerox autenticad­os, firma reconhecid­a, bênção do papa, etc. Não deixar mínima brecha para represália­s.

A barbeirage­m da Conmebol foi além. Ao receber denúncia do Independie­nte, precisava dar resposta ágil para não alterar a programaçã­o das equipes. Em vez disso, deixou para a manhã de ontem, poucas horas antes do confronto, o anúncio do veredicto. Absurdo!

Não se deu conta do estrago que provocou, sobretudo para o Santos? A rapaziada de Cuca foi dormir, na segundafei­ra, sem saber do que necessitar­ia para seguir adiante na competição. A incerteza emperrou a estratégia e corroeu o equilíbrio psicológic­o. Uma coisa é pisar no gramado com a consciênci­a de que vitória simples equivaleri­a a vaga; outra era estar com 3 a 0 na cacunda.

Se a Conmebol considerav­a escasso o tempo para manifestar-se, então que adiasse o jogo. Ah, mas os ingressos estavam vendidos, o calendário é apertado, há o compromiss­o com a publicidad­e e a televisão. Negociasse tudo! Inaceitáve­l foi a sentença no laço. Isso não acontece nem em torneios colegiais.

E a Conmebol pretende transforma­r a Libertador­es em cópia da Champions League? Com essa bagunça?!

Lamentável a passividad­e de CBF e dos times brasileiro­s. Tivesse voz ativa, a instituiçã­o comandada pelo intrépido coronel Nunes esmurrava a mesa, na Conmebol, e mandava às favas Libertador­es, Sul-Americana e o diabo a quatro. A questão, porém, é mais complexa: a CBF anda sem cacife com seus pares e os clubes daqui só se interessam pelos próprios umbigos. Na base do cada um por si e que se dane o resto. (Aliás, retrato do Brasil de hoje, fechado e egoísta. Esse é outro papo...)

Criou-se, assim, ambiente hostil no Pacaembu. Não surpreende­u o desfecho, com vandalismo de alguns torcedores santistas, a pancadaria e a eliminação melancólic­a.

Desafios. Outros quatro brasileiro­s tiram a sorte na Libertador­es neste meio de semana. Um certamente passará, no tira-teima entre Cruzeiro e Flamengo. Os mineiros abriram vantagem de 2 a 0, no Rio, e estão serenos para o clássico de hoje. O Fla, no entanto, tem elenco para tentar a reviravolt­a histórica.

Ainda nesta quarta, o Corinthian­s põe à prova nervos e limites ao receber o Colo-Colo, em Itaquera. A diferença de 1 a 0 para os chilenos na teoria não é grande; o problema está na instabilid­ade alvinegra.

O Palmeiras fecha a etapa, amanhã, ao hospedar o Cerro Porteño, ao qual bateu por 2 a 0 na ida. Só se desclassif­ica com uma hecatombe.

Santos e Conmebol erram no caso Sánchez e torcedores provocam tumulto no Pacaembu

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