Amadorismo e violência
Ocaso do uruguaio Sánchez revela quanto há, ainda, de amadorismo em clubes e em confederações. O jogador sem querer foi pivô de situação escabrosa, na qual se envolveram Santos e Conmebol. O Independiente, terceira parte interessada, ficou ali, de beleza, vendo o embate e entrou em campo ontem à noite praticamente classificado na Libertadores, com 3 a 0 no tapetão; e segurou outro 0 a 0, em jogo que nem chegou ao fim.
O festival de erros começa na hora em que os santistas confiaram em um dos mecanismos de consulta da Conmebol. Com base numa espécie de sinal verde, acreditaram que Sánchez estava liberado e o colocaram no jogo de ida na semana passada (0 a 0).
Só depois de a turma do Independiente estrilar é que se percebeu que o rapaz tinha de cumprir uma partida de suspensão por punição recebida nos tempos em que jogava pelo River Plate, três anos atrás. Então, foi um correcorre para armar a defesa, afinal inútil, pois foi decretada derrota protocolar.
O vacilo incontornável do Santos foi o de botar fé na Conmebol de maneira singela. Com o histórico de informações contraditórias, seja na entidade sul-americana como nas domésticas, deveria cercar-se de garantias, como documentos, declarações por escrito, xerox autenticados, firma reconhecida, bênção do papa, etc. Não deixar mínima brecha para represálias.
A barbeiragem da Conmebol foi além. Ao receber denúncia do Independiente, precisava dar resposta ágil para não alterar a programação das equipes. Em vez disso, deixou para a manhã de ontem, poucas horas antes do confronto, o anúncio do veredicto. Absurdo!
Não se deu conta do estrago que provocou, sobretudo para o Santos? A rapaziada de Cuca foi dormir, na segundafeira, sem saber do que necessitaria para seguir adiante na competição. A incerteza emperrou a estratégia e corroeu o equilíbrio psicológico. Uma coisa é pisar no gramado com a consciência de que vitória simples equivaleria a vaga; outra era estar com 3 a 0 na cacunda.
Se a Conmebol considerava escasso o tempo para manifestar-se, então que adiasse o jogo. Ah, mas os ingressos estavam vendidos, o calendário é apertado, há o compromisso com a publicidade e a televisão. Negociasse tudo! Inaceitável foi a sentença no laço. Isso não acontece nem em torneios colegiais.
E a Conmebol pretende transformar a Libertadores em cópia da Champions League? Com essa bagunça?!
Lamentável a passividade de CBF e dos times brasileiros. Tivesse voz ativa, a instituição comandada pelo intrépido coronel Nunes esmurrava a mesa, na Conmebol, e mandava às favas Libertadores, Sul-Americana e o diabo a quatro. A questão, porém, é mais complexa: a CBF anda sem cacife com seus pares e os clubes daqui só se interessam pelos próprios umbigos. Na base do cada um por si e que se dane o resto. (Aliás, retrato do Brasil de hoje, fechado e egoísta. Esse é outro papo...)
Criou-se, assim, ambiente hostil no Pacaembu. Não surpreendeu o desfecho, com vandalismo de alguns torcedores santistas, a pancadaria e a eliminação melancólica.
Desafios. Outros quatro brasileiros tiram a sorte na Libertadores neste meio de semana. Um certamente passará, no tira-teima entre Cruzeiro e Flamengo. Os mineiros abriram vantagem de 2 a 0, no Rio, e estão serenos para o clássico de hoje. O Fla, no entanto, tem elenco para tentar a reviravolta histórica.
Ainda nesta quarta, o Corinthians põe à prova nervos e limites ao receber o Colo-Colo, em Itaquera. A diferença de 1 a 0 para os chilenos na teoria não é grande; o problema está na instabilidade alvinegra.
O Palmeiras fecha a etapa, amanhã, ao hospedar o Cerro Porteño, ao qual bateu por 2 a 0 na ida. Só se desclassifica com uma hecatombe.
Santos e Conmebol erram no caso Sánchez e torcedores provocam tumulto no Pacaembu