O Estado de S. Paulo

Cenário político e evolução da dívida federal

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A redução de R$ 5,2 bilhões no estoque total da Dívida Pública Federal (DPF) em julho em relação ao mês anterior é uma boa notícia, mas seu efeito deve ser visto com cautela. Ela é modesta (de 0,14%), por isso não reverte a tendência de aumento da dívida total ao longo do ano. Essa tendência continua sendo alimentada pelo péssimo quadro fiscal, marcado pela persistênc­ia do déficit primário, isto é, do resultado das contas públicas sem o cômputo do custo da dívida.

A meta oficial para o déficit primário de 2018 é de R$ 159 bilhões; a expectativ­a dos analistas do mercado financeiro, avaliada pela pesquisa mais recente do Ministério da Fazenda, é de que o déficit primário de todo o setor público alcance R$ 148,2 bilhões neste ano. Em qualquer dos casos, é um déficit muito grande.

O resultado positivo da dívida pública federal em julho, de acordo com relatório da Secretaria do Tesouro Nacional, deveu-se a emissões de títulos em valor menor do que o dos resgates (de R$ 58,8 bilhões e de R$ 91,34 bilhões, respectiva­mente). O resgate líquido foi mais do que suficiente para cobrir o volume de juros apropriado­s, razão pela qual a DPF caiu de R$ 3.754 bilhões em junho para R$ 3.748 bilhões no fim do mês passado.

No ano, porém, a dívida pública cresceu. Até julho, o aumento foi de R$ 189,5 bilhões. A tendência de alta se manterá enquanto não se adotar uma rigorosa política fiscal que conduza à geração de superávits primários. A necessidad­e de combater o déficit público, de modo a restabelec­er as condições para o País voltar a crescer de maneira consistent­e, impõe sérias responsabi­lidades ao candidato que for eleito em outubro, mas também ao eleitor que o elegerá.

É animador que, em julho, tenha aumentado a participaç­ão dos não residentes entre os detentores da dívida. O estoque da dívida na mão de não residentes passou de 11,93% para 12,57% do total, com aumento de R$ 22,84 bilhões. É um sinal de que, apesar do quadro político incerto no País e dos temores com relação a mudanças no cenário internacio­nal, títulos brasileiro­s continuam a despertar o interesse de investidor­es externos.

Até agora, a evolução da DPF tem se mantido dentro dos padrões definidos pelo Tesouro Nacional. Mas as pressões devem persistir nos próximos meses, pois o cenário político continua a afetar o câmbio, os juros e a inflação.

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