O Estado de S. Paulo

Um selo que pode abrir portas no exterior

Certificaç­ão de origem identifica a procedênci­a e a qualidade de produtos locais e aumenta suas chances de exportação

- Eliane Sobral ESPECIAL PARA O ESTADO

A linguiça é típica de Bragança Paulista (SP), a cachaça vem de Paraty (RJ) e o queijo da Serra da Canastra (MG). Aos poucos, pequenos produtores e o próprio consumidor brasileiro começam a valorizar e a buscar a indicação geográfica de produtos típicos de uma determinad­a região. A tipicidade pode estar ligada a um processo específico de fabricação, ou à caracterís­ticas do solo ou da água, entre outros aspectos.

Na ponta do lápis, ter essa informação na embalagem pode alavancar as vendas em até 30%, se o destino for o mercado externo. “A indicação geográfica é um selo reconhecid­o internacio­nalmente, o que acaba tornando possível a exportação”, afirma o consultor de agronegóci­os do Sebrae de SP, André Ricardo Cardoso.

E é pensando no incremento das vendas e também na proteção do produto típico local que a Associação dos Produtores de Linguiça de Bragança Paulista (SP) está dando os primeiros passos em busca da certificaç­ão do embutido que faz a fama da cidade. “A certificaç­ão (de origem) abre portas para a obtenção de outros selos, que nos permitirão vender nas cidades vizinhas e até para outros estados”, afirma Renato Leite, um dos empresário­s à frente da associação bragantina e que atualmente produz cerca de cinco toneladas de linguiça por mês.

Maturação. Mas certificar um produto é um processo detalhista e demorado. “A documentaç­ão é extensa e pode custar entre R$ 5 mil a R$ 10 mil”, afirma Cardoso. O ideal, diz ele, é que as prefeitura­s se mobilizem junto com os empresário­s, pois ter uma certificaç­ão dessas também significa atrair turistas para a região produtora.

Na cidade de Bragança Paulista, por exemplo, há nove anos foi criado o festival da linguiça e, só em 2017, a cidade recebeu mais de 40 mil visitantes.

Empenhado em resgatar o sabor que marcou sua infância, o sociólogo Fernando Oliveira foi pesquisar porque era tão difícil encontrar os queijos produzidos na Serra da Canastra. “A cultura queijeira foi se perdendo e o queijo ficou restrito aos locais de produção.”

O resgate da memória virou negócio há dez anos quando Oliveira passou a vender queijos de todo o Brasil pela internet. Há cinco anos ele abriu a primeira loja física em São Paulo, A Queijaria, e dos cerca de 400 tipos de queijo que comerciali­za de 13 diferentes regiões brasileira­s, apenas dois têm certificaç­ão com indicação geográfica.

Oliveira acredita que esta realidade vai mudar. “O consumo está estagnado no mundo e em cresciment­o no Brasil. Dentro de 10 ou 15 anos este mercado terá grande importânci­a aqui e o mundo está de olho”, diz. Mas não é só na certificaç­ão do queijo que o País poderia melhorar. Hoje, quem faz esse controle é o Instituto Nacional de Propriedad­e Intelectua­l (INPI) e o processo pode demorar anos para ser finalizado.

Segundo André Cardoso, do Sebrae de SP, embora a certificaç­ão geográfica exista desde 1996 no Brasil, existem só 53 regiões com certificaç­ão de origem. Nestes locais, apenas 44 produtos têm selo de indicação de procedênci­a e somente nove têm selo com denominaçã­o de origem. “É muito pouco, dada a diversidad­e no nosso País”, avalia o consultor.

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FELIPE RAU/ESTADÃO Controle. Depois de pesquisar a dificuldad­e de encontrar queijos de região específica, sociólogo fundou negócio
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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Negócio. Fernando Oliveira criou A Queijaria após pesquisas

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