O Estado de S. Paulo

Festival de Veneza começa hoje com aliança inédita com Netflix

Depois da recusa de Cannes, gigante do streaming terá 6 longas (três em competição) na mostra italiana

- Kelly Velasquez

O Festival de Cinema de Veneza, que abre na quarta-feira, 29, celebra seu 75.º aniversári­o com os filmes mais esperados do ano, graças a uma aliança sem precedente­s com a Netflix, Hollywood e o cinema latinoamer­icano.

Um dos destaques será Roma, do mexicano Alfonso Cuarón – rodado em preto e branco e ambientado nos anos 1970, o longa estava previsto para o Festival de Cannes, que vetou a participaç­ão de filmes destinados à TV. “Não vejo as razões para excluir um filme de Cuarón apenas porque ele foi produzido pela Netflix”, reconheceu o diretor da Mostra de Veneza, Alberto Barbera, que convidou seis produções (três em competição) produzidas pela gigante do audiovisua­l, que também inclui o mais recente trabalho dos irmãos Coen (A Balada de Buster Scruggs) e de Paul Greengrass (22 de Julho).

O evento, que escolheu abrir as portas para a gigante do audiovisua­l após a guerra com o festival francês em Cannes, atraiu um número espetacula­r de convidados este ano, entre astros, grandes autores e até mesmo ex-guerrilhei­ro latinoamer­icano, o Pepe Mujica. Para comemorar seu aniversári­o, a Mostra preparou uma edição especial com vários vencedores do Oscar e Palmas de Ouro, além de estrelas como Lady Gaga no papel de Judy Garland, dirigido por Bradley Cooper, e personalid­ades como Ryan Gosling, Vanessa Redgrave, Emma Stone, Rachel Weisz, Naomi Watt, Christoph Waltz.

Um total de 21 filmes competirão pelo cobiçado Leão de Ouro, entre eles o mexicano Carlos Reygadas, que estreou em Veneza com Nuestro Tiempo, e o também o argentino Gonzalo Tobal, com Acusada.

O evento vai começar, como em outros anos, com uma produção dos EUA, desta vez o novo trabalho do jovem Damien Chazelle, que começou em Veneza sua carreira de sucesso com La La Land, e, desta vez, conta a vida íntima do primeiro homem que pisou na lua no filme First Man.

A presença de apenas uma diretora na competição oficial (a australian­a Jennifer Kent, com Nitghtinga­le, uma história sobre seu país no início do século 19) relançou o debate mundial sobre a igualdade das mulheres. Não se descarta que a igualdade desejada seja levada em conta em edições futuras, segundo admitiu Barbera. Segundo ele, dos 1.650 filmes vistos para a seleção, 23% foram dirigidos por mulheres. “Escolhemos pela qualidade e não pelo gênero”, confessou, provocando uma enxurrada de críticas.

Um dos destaques será a chegada em Veneza do ex-presidente uruguaio José Mujica, político que desperta admiração no mundo e críticas em seu país. Veneza exibirá dois filmes sobre o ex-guerrilhei­ro que presidiu o Uruguai entre 2010 e 2015. A adaptação do sucesso editorial de Elena Ferrante, A Amiga Genial, está entre os grandes lançamento­s junto com a exibição do filme inacabado de Orson Welles, Do Outro Lado do Vento, que o lendário diretor nunca finalizou. Uma justa homenagem a um dos artistas mais versáteis do século 20.

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