Soja sob ameaça
Às vésperas do plantio, o herbicida mais usado na lavoura pode ser suspenso pela Justiça
Setembro é o mês da semeadura da soja, principal produto da balança comercial do agronegócio brasileiro. Mas o plantio está sob ameaça por conta da decisão da Justiça Federal, que determinou a suspensão, a partir do próximo dia 4 de setembro, de todos produtos à base de glifosato – o herbicida mais usado na cultura e associado à variedade de soja RR, que predomina em 90% das plantações do Brasil – disponíveis no mercado.
A suspensão vigora até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faça a revisão toxicológica do glifosato e o prazo para isso é 31 de dezembro. O problema é que muitos produtores já compraram o herbicida. Além disso, não há uma alternativa equivalente e o agricultor teria que recorrer a uma cesta de produtos, o que elevaria o custo de produção, já impactado pelo aumento do dólar e tabelamento do frete.
O glifosato é o defensivo agrícola mais vendido no mundo. O herbicida está no mercado há 40 anos e é aprovado em mais de 100 países, incluindo Brasil, EUA, Europa e Austrália. O Ministério da Agricultura fez uma nota técnica contestando a liminar. Cabe agora à Advocacia Geral da União (AGU) tentar derrubar o veto, que pode reduzir a produtividade da oleaginosa para níveis da década de 80. E, com isso, prejudicar o complexo soja (grãos, farelo e óleo), segmento responsável pelas exporta- ções de US$ 31,7 bilhões em 2017.
A segurança do produto foi colocada em xeque, este mês, após a Monsanto, empresa que descobriu o glifosato, ser condenada a pagar US$ 289 milhões a um jardineiro da Califórnia diagnostica- do com câncer, segundo a Justiça americana, devido à exposição ao herbicida. A companhia irá recorrer. Até o fechamento desta edição em 27 de agosto, a AGU não tinha conseguido suspender o veto ao glifosato.