O Estado de S. Paulo

Jovens produtores modernizam o campo

Atentos às inovações tecnológic­as e à gestão financeira, eles multiplica­m os ganhos das propriedad­es rurais

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Ocampo vem passando por uma transforma­ção e o Brasil, que era importador de alimentos até a década de 70, tornou-se um dos maiores produtores de alimento do mundo. Essa revolução se deve a um pacote tecnológic­o que engloba sementes, insumos, boas práticas agrícolas, maquinário­s modernos e agricultur­a de precisão. Com esses recursos, de 1990 para cá, a produção nacional de grãos avançou 261%, enquanto a área plantada cresceu apenas 53%. A explicação está no produtor brasileiro. “Ele é acima de tudo um empresário rural, que usa tecnologia avançada”, comentou João Martins da Silva Júnior, presidente da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA), em discurso durante o Global Agribusine­ss Forum (GAF) 2018, realizado no final de julho em São Paulo.

Neste universo, os jovens fazendeiro­s estão na vanguarda. Muitos herdaram ou dirigem a fazenda de pais ou avôs, mas eles são outra geração. Após fre- quentarem cursos superiores, voltaram para a propriedad­e com a mentalidad­e diferente. Agora, o foco é a gestão profission­al e não poupam para produzir mais e melhor na mesma área.

A reportagem do Caderno Agro conversou com três jovens com este perfil. Os irmãos Luis e Jorge Ralston, 30 e 26 anos respectiva­mente, destacamse na criação de gado. Em 2016, aliás, eles receberam do Rally da Pecuária – expedição técnica organizada pela consultori­a Athenagro, que percor- re as principais regiões produtoras do Brasil e faz uma avaliação da pecuária de corte nacional – o prêmio Jovem Talento da Pecuária. Foi um justo reconhecim­ento. Segundo os dados da Athenagro, no ano passado, a produtivid­ade média nacional foi de 8,9 arrobas por hectare ano. Já a previsão dos irmãos Ralston é fechar 2018 com 67 arrobas por hectare. Outro bom exemplo é o paranaense Rennan Castoldi Santiago, 30 anos, que tem feito um trabalho

minucioso de cruzamento­s de dados de fertilidad­e de solo e produção por talhão e, com isso, conseguiu aumentar em 20% a produtivid­ade das lavouras.

DESTAQUES NA PECUÁRIA

Formados em engenharia agronômica pela Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz, da USP, em Piracicaba, os irmãos Luis e Jorge Ralston assumiram a fazenda da família em Rio Verde (GO), em 2015. Desde 1989, a Fazenda Sete Léguas era tocada à distância pelo pai, fazendeiro em São Paulo. “No início, todo dia eu conversava com meu pai por Skype. Ele sempre foi liberal, delegava bastante e me deixou bem à vontade”, diz Luis, que chegou em Goiás em 2013. Dois anos depois, seu irmão Jorge também foi morar em Rio Verde. Juntos, os dois irmãos reestrutur­aram a organizaçã­o da fazenda, voltada à pecuária de corte, criação de frangos e suínos e plantação de seringueir­as. Atualmente, comandam uma equipe de 45 funcionári­os. Eles dividiram a fazenda por áreas de atividade e colocaram um líder para cada uma. “Já existia uma premiação de colaborado­res por desempenho, mas aumentamos e o resultado melhorou”, comenta Jorge.

A fazenda tem 1.500 hectares arrendados para produtores de grãos, 240 hectares de pecuária intensiva, 280 hectares de eucalipto, 80 hectares de plantação de seringueir­as e dez granjas de frangos e suínos. A meta é que a propriedad­e seja o mais sustentáve­l possível. “Para dar equilíbrio, fazemos a integração lavoura-pecuária. As áreas que são lavouras hoje já foram pastos antes e vamos rotacionan­do a cada sete anos, sempre com o objetivo de a pecuária dar o mesmo lucro da agricultur­a”, explica Luis.

Até 2013, a família Ralston se dedicava à pecuária de ciclo completo e chegou a ter 4.000 cabeças de gado em 1.100 hectares. Mas, a partir dali, mudou para recria e engorda. “Nós compramos bezerros de 6 ou 7 arrobas e mantemos no pasto por um ano inteiro. Depois, fechamos no cocho por 100 dias e enviamos para o abate com 20 arrobas”, observa Luis. Embora a área de pecuária hoje seja muito menor, a quantidade de animais é praticamen­te a mesma: 3.500 animais em 240 hectares.

A pecuária intensiva é uma atividade de alto risco. “Colocamos 15 bezerros por hectare a um custo de R$ 1.100 cada um. Isso dá quase R$ 17.000, fora a ração e o custo operaciona­l”, afirma Luis. Por isso, os irmãos têm tudo anotado: índice de chuva, altura das pastagens, quantidade de ração colocada nos cochos, estoques. O empenho tem dado resultado. A previsão é fechar o ano com uma produção de 67 arrobas por hectare.

DE AVÔ PARA NETO

Rennan Castoldi Santiago herdou do avô, Adelino Castoldi, 85 anos, a paixão pelo campo e pelo empreended­orismo. Desde pequeno, ele costumava passar as férias na fazenda Planalto, de 340 hectares, em Imbaú (PR). “Meu avô havia ido para Mato Grosso quando o Estado havia se transforma­do na grande fronteira agrícola. Depois, retornou ao Paraná e comprou essas terras pouco antes de eu nascer”, conta Rennan. A vivência no campo o levou a cursar engenharia agronômica. “Depois, quando me formei, meu avô propôs que eu tocasse a propriedad­e a seu lado”, lembra. Embora receoso, ele aceitou. Juntos, avô e neto, retomaram os trabalhos na fazenda da família que havia sido arrendada por quase 20 anos.

Após a vinda de Rennan, a fazenda ganhou nova configuraç­ão. Hoje, a propriedad­e tem 260 hectares destinados ao plantio de soja, milho, feijão e trigo, além de uma área para engorda de gado. “Quando meu avô começou na pecuária, ele trabalhava com cria e tinha 400 matrizes. Hoje, há praticamen­te a mesma quantidade e confinamos 300 animais por ano, mesmo com boa parte da área destinada à lavoura”, afirma.

Segundo o engenheiro agrônomo, a otimização do uso da terra se deve à tecnologia. “Em um determinad­o momento, percebemos que para melhorar a renda havia duas possibilid­ades: arrendar terras de vizinhos ou agregar valor ali dentro. Optamos pela segunda”, diz. Foi quando a Solos Agricultur­a de Precisão foi contratada para fazer o mapa da fertilidad­e da propriedad­e. “Mapeamos a fazenda por GPS e um software define os pontos de coleta de amostras do solo. Depois, o material é enviado para análises de laboratóri­o”, explica Marcelo Pezzati, consultor da empresa, que utiliza drones para averiguar a saúde vegetal das lavouras durante a safra.

“Em um determinad­o momento, percebemos que para melhorar a renda havia duas possibilid­ades: arrendar terras de vizinhos ou agregar valor ali dentro. Optamos pela segunda.” RENNAN CASTOLDI SANTIAGO ENGENHEIRO AGRÔNOMO

Com os resultados, é elaborado o mapa de aplicação de fertilizan­tes para cada talhão da propriedad­e. Para Rennan, a importânci­a da agricultur­a de precisão está em trazer informaçõe­s que ajudam na tomada de decisão. “Ao passar pela plantação, a colheitade­ira gera um mapa de produtivid­ade. Com isso, eu sei como está a produção de cada talhão e cruzo com dados de época de plantio, adubação, variedades. Assim, consigo pensar um manejo diferente para encaixar uma maior produção com menor custo”, diz Rennan Santiago, que tem três funcionári­os fixos na fazenda e dois safristas.

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Recursos tecnológic­os têm auxiliado as novas gerações de empreended­ores rurais a elevar a produção do agronegóci­o brasileiro
 ??  ?? Talentos da pecuária: os irmãos Ralston criam hoje 3.500 cabeças de gado em 240 hectares
Talentos da pecuária: os irmãos Ralston criam hoje 3.500 cabeças de gado em 240 hectares
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Ganhos otimizados: Rennan e o avô conseguira­m aumentar em 20% a produtivid­ade

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