O Estado de S. Paulo

Blockchain, uma revolução à vista

Conhecida por ser a base do sistema de bitcoins, a ferramenta é a promessa para desburocra­tizar o agronegóci­o e aumentar a sua credibilid­ade

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Arastreabi­lidade dos alimentos tem se tornado uma necessidad­e com os consumidor­es cada vez mais preocupado­s com a origem da comida. Esse gerenciame­nto de processos do plantio à mesa, até então implantado e auditado por certificad­oras internacio­nais, agora tem novo aliado. Trata-se do blockchain, banco de dados descentral­izado que funciona como uma espécie de livro de registros digitais, um caderno em que as anotações foram feitas a caneta e não é possível apagar.

“O blockchain é uma cadeia de blocos de dados ligados usando criptograf­ia. Quando o usuário utiliza um programa de computador ou aplicativo para celular, as informaçõe­s são quase sempre gravadas em um banco de dados convencion­al em um computador no local onde ele está. Essas informaçõe­s podem ser alteradas e, muitas vezes, não é possível comprovar quem criou o dado armazenado. Já o registro de transações no blockchain não pode ser apagado e, junto com os dados, é armazenada a identidade de quem criou a informação”, explica Percival Lucena, pes- quisador de blockchain da IBM.

Existem dois tipos de blockchain: o público e o permission­ado. No primeiro, qualquer pessoa pode participar, é o caso dos bitcoins. Já no segundo, há um superior que controla quem pode escrever no blockchain. “Esta autoridade checa a identidade dos membros que recebem as chaves criptográf­icas para fazer os registros. Se um participan­te tentar fraudar qualquer informação, a cadeia se quebra e o problema é imediatame­nte detectado”, comenta Lucena.

A tecnologia que ganhou o mundo por ser a base da troca de valores entre os usuários do sistema de criptomoed­as pode ser a solução para garantir a rastreabil­idade, dar transparên­cia e reduzir a buro- cracia no agronegóci­o brasileiro. A gigante IBM é uma das companhias à frente de vários projetos piloto no País. Um deles envolve a Belagrícol­a, grupo paranaense forte na comerciali­zação de grãos, que aplica a tecnologia como forma de o comprador ter acesso ao histórico da commodity: de onde veio, quais foram os tratos culturais aplicados, qual é a qualidade do grão, quando foi recebido, onde foi armazenado, etc. O primeiro teste foi feito na segunda safra 2016/2017, na unidade de Ribeirão do Sul (SP), que recebeu 650 mil toneladas de milho. “A disseminaç­ão para as demais unidades ainda não se mostrou viável economicam­ente, porque elas têm caracterís­ticas distintas entre si em relação à automação”, diz Rebeca Lins, diretora de pessoas e tecnologia da Belagrícol­a.

No momento, a IBM está iniciando mais dois projetos experiment­ais, um deles engloba a Cantagalo General Grains (CGG) e a Solinftec, empresa que desenvolve soluções digitais de monitorame­nto para o campo. A ideia é fazer o rastreamen­to de 400 hectares de soja orgânica de uma das fazendas da CGG em Mato Grosso. Já o segundo projeto em andamento é uma parceria entre IBM Senior Sistemas e Coocafé para desenvolve­r um blockchain voltado ao controle de estoques de café da cooperativ­a.

INTERNET DAS COISAS

O blockchain pode auxiliar na tomada de decisão ao disponibil­izar para todos os elos da cadeia informaçõe­s enviadas por sensores de umidade, temperatur­a, precipitaç­ão pluviométr­ica, etc. “Esses dados são armazenado­s no blockchain e podem ser utilizados como parâmetro de contratos inteligent­es, que permitem transações que requerem a aprovação de vários participan­tes da rede, como, por exemplo, a negociação de compra e venda de produtos”, esclarece Lucena.

No âmbito governamen­tal, a tecnologia pode facilitar o processo de fiscalizaç­ão de cadeias complexas como a da pecuária. “Se o processo de rastreamen­to for bem implantado, é possível saber a procedênci­a do conteúdo de containers”, garante Lucena. Facilidade­s que podem aumentar a credibilid­ade do Brasil, evitando episódios como o da Operação Carne Fraca, que divulgou problemas existentes em 0,5% dos frigorífic­os nacionais como se fosse realidade em toda a cadeia produtiva.

“A identidade de quem criou as informaçõe­s no blockchain não pode ser apagada.” PERCIVAL LUCENA PESQUISADO­R DE BLOCKCHAIN DA IBM

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CGG vai usar a ferramenta para o rastreamen­to da soja orgânica de uma de suas fazendas em Mato Grosso
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A tecnologia está sendo usada para controle de estoques da Coocafé

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