O Estado de S. Paulo

Justiça dos EUA confisca imóveis de luxo de chavistas

Com ajuda da Suíça, investigad­ores americanos conseguem rastrear fortuna de ex-funcionári­os do governo venezuelan­o e de empresário­s ligados ao presidente Nicolás Maduro, que teriam desviado milhões de dólares da PDVSA

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA / J.C.

Após investigaç­ões com autoridade­s suíças sobre o desvio de US$ 1,2 bilhão da PDVSA, a Justiça dos EUA iniciou o bloqueio de imóveis de ex-funcionári­os da petroleira venezuelan­a e de pessoas ligadas ao regime. Um desses imóveis é um apartament­o de luxo em Miami com sistema de elevadores que permite ao morador subir com seu carro.

Quem passa pela Avenida Collins, na Sunny Isles Beach, na Flórida, dificilmen­te deixa de reparar em um dos prédios de luxo à beira-mar. Trata-se do Porsche Design Tower, de Miami, que oferece não apenas acesso direto à praia, mas também privilégio­s destinados a poucas fortunas no mundo. No site do empreendim­ento, os administra­dores não economizam modéstia: “Sua casa do céu”.

Nesta semana, o edifício passou a fazer parte de uma lista dos que têm imóveis bloqueados pelas investigaç­ões sobre o desvio de US$ 1,2 bilhão da PDVSA e de recursos venezuelan­os por parte de ex-funcionári­os da estatal, empresário­s próximos ao governo do presidente Nicolás Maduro.

Na semana passada, a Justiça americana anunciou que investigaç­ões em colaboraçã­o com a Suíça resultaram na prisão de um ex-banqueiro suíço, Matthias Krull. Ele fechou um acordo de delação premiada e admitiu a existência do esquema, principalm­ente ao promover desvios da PDVSA, a estatal do petróleo da Venezuela que, nos últimos meses, vem registrand­o um colapso sem precedente­s de sua economia.

As investigaç­ões também apontam suspeitas de que a elite chavista e enteados de Maduro ganharam ilegalment­e milhões de dólares com um esquema de lavagem de dinheiro que usava o mercado negro do câmbio venezuelan­o e a PDVSA para acumular uma fortuna no exterior.

O apartament­o 2205 do luxuoso prédio em Miami está na lista dos 17 imóveis que a Justiça americana congelou na mesma investigaç­ão. Até terminar o processo, seus donos não podem vender ou alugar o imóvel. Se eventualme­nte forem condenados, os americanos podem pedir o confisco definitivo dos apartament­os.

O local de luxo em Miami está em nome do ex-assessor legal do Ministério de Petróleo e Mineração da Venezuela, Carmelo Urdaneta Aqui, indiciado nos Estados Unidos por corrupção. Urdaneta nega irregulari­dades.

Com um serviço de concierge 24 horas por dia, pronto para atender os desejos de seus clientes, até mesmo para alugar um jato de última hora, o prédio do chavista conta com piscinas privativas aquecidas e até cofres especialme­nte desenhados para vinhos raros, além de uma vista única do Oceano Atlântico.

Uma das grandes atrações do local é ainda o sistema de elevadores, que permite que o morador possa levar o seu carro para o andar de seu apartament­o.

A suspeita é que, além de transferir rendimento­s para contas no exterior, o esquema envolvia a compra de imóveis

de luxo para lavar o dinheiro da corrupção. Apenas o apartament­o na Avenida Collins teria um valor de US$ 5,3 milhões. No total, os 17 imóveis são estimados em US$ 35 milhões.

Outros quatro imóveis no condomínio fechado de Cocoplum, em Coral Gables, estão em nome de Mario Enrique Bonilla Vallera, um empresário venezuelan­o que é suspeito de ser a pessoa que movimenta recursos para os enteados de Maduro. Bonilla também nega irregulari­dades.

Na região de Wellington, conhecida pelos haras, dois terrenos, que juntos totalizam 9 mil metros quadrados, perto de Palm Beach, também foram bloqueados. Ainda que os nomes dos donos não tenham sido divulgados, só a residência em um dos terrenos teria mais de 600 metros quadrados, com um valor total de mais de US$ 3 milhões.

Seis apartament­os foram também retidos pela Justiça em um prédio da Rua 27 de Miami Beach, uma apreensão avaliada em US$ 3,1 milhões. A lista ainda inclui uma casa de 400 metros quadrados na Hibiscus Lane, também em Miami, avaliada em US$ 2,7 milhões.

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