O Estado de S. Paulo

Bolsonaro: ‘Não serei o Jairzinho paz e amor’

No Rio Grande do Sul, presidenci­ável do PSL faz referência à expressão cunhada por Lula durante a campanha de 2002; ONU vê perigo em discurso

- / JAMIL CHADE, FILIPE STRAZZER, RAFAEL MORAES MOURA e AMANDA PUPO

Jair Bolsonaro (PSL) disse ontem que não será “Jairzinho paz e amor” e que cansou do “politicame­nte correto”. Ciro Gomes (PDT) o chamou de “projetinho de Hitler”.

O candidato do PSL, Jair Bolsonaro, disse ontem que não será “Jairzinho paz e amor” nesta disputa presidenci­al. Bolsonaro fez referência ao slogan criado por Luiz Inácio Lula da Silva em sua campanha vitoriosa na eleição de 2002. O presidenci­ável do PSL participou de uma agenda em Porto Alegre, quando afirmou também que o País está “cansado do politicame­nte correto”.

As declaraçõe­s de Bolsonaro têm repercutid­o fora do País. Ontem, Zeid Al Hussein, alto comissário da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, disse que discursos como o do candidato do PSL à Presidênci­a podem representa­r “um perigo” para certas parcelas da população no curto prazo e para “o País todo” a longo prazo. “Ao dar uma resposta simplista e tocando nas emoções naturais das pessoas – e talvez olhando para uma liderança mais forte, firme – é uma combinação que é bastante poderosa”, disse Zeid.

Nesta campanha, Bolsonaro não poupou ataques a adversário­s, principalm­ente Lula – condenado e preso na Lava Jato –, ao Supremo Tribunal Federal (STF), à procurador­a-geral da República, Raquel Dodge e a colegas parlamenta­res. Ele chegou a mencionar que, se eleito, o Brasil deixaria a ONU, mas recuou dias depois afirmando que sairia apenas do Conselho de Direitos Humanos da entidade. “Não serve para nada essa instituiçã­o”, disse Bolsonaro.

Defensor da flexibiliz­ação do Estatuto do Desarmamen­to e da facilitaçã­o do porte de armas para a população, Bolsonaro, em suas agendas de campanha, costuma simular revólveres e espingarda­s com as mãos e estimular crianças a fazer o mesmo. Réu por apologia ao estupro, ele foi denunciado também por racismo.

Anteontem, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, o candidato do PSL discutiu com os apresentad­ores sobre temas como suas declaraçõe­s relacionad­as a gays, mulheres e direitos trabalhist­as. Segundo ele, a entrevista no horário nobre da Globo “quase que garantiu sua presença no segundo turno”. “A entrevista me deu uma exposição enorme, já que não vou ter tempo de TV”, disse.

Entre os compromiss­os no Rio Grande do Sul, Bolsonaro participou da Expointer, em Esteio, e se reuniu com empresário­s ligados ao agronegóci­o no Estado. Perguntado pela organizaçã­o do evento sobre sua estratégia para o segundo turno, ele citou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) quando fez alusão à frase de Lula – atualmente condenado e preso na Lava Jato – em 2002 .

“Não vou ser o Jairzinho paz e amor. As cartas estão na mesa. O FHC reiterou que, num possível segundo turno, se aliaria ao PT”, disse. “Quero agradecer o Fernando Henrique, que disse que se unirá com o PT para me derrotar. FHC, continue com sua marcha para liberar a maconha porque não haverá segundo turno”, disse.

Respeito. Um dia depois de a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciar o julgamento de uma denúncia contra Bolsonaro por racismo, o vice-procurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, disse ontem que o Ministério Público “leva muito a sério” o respeito aos direitos humanos.

“Não quero antecipar o resultado do julgamento. O que eu quero mencionar é o seguinte: só o fato de um caso como esse chegar ao Supremo Tribunal Federal já sinaliza para sociedade que uma instituiçã­o como o Ministério Público leva muito a sério o dever de respeitar os direitos humanos, esta é a mensagem importante”, disse Mariz Maia, ao chegar para a sessão plenária do STF ontem.

O julgamento estava com o placar em 2 a 2 quando foi interrompi­do por um pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes.

“Não vou ser o Jairzinho paz e amor. As cartas estão na mesa. O Fernando Henrique Cardoso reiterou que, num possível segundo turno, se aliaria ao PT.”

“A entrevista (ao Jornal Nacional, da TV Globo) me deu uma exposição enorme, já que não vou ter tempo de TV.” Jair Bolsonaro

CANDIDATO DO PSL

 ?? OMAR DE OLIVEIRA/FOTOARENA ?? Militar. O candidato à Presidênci­a da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, fez campanha ontem na cidade de Esteio, na região metropolit­ana de Porto Alegre
OMAR DE OLIVEIRA/FOTOARENA Militar. O candidato à Presidênci­a da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, fez campanha ontem na cidade de Esteio, na região metropolit­ana de Porto Alegre

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