O Estado de S. Paulo

William Waack

- WILLIAM WAACK

Uma vitória de “reformista­s” na eleição é menos pior para nosso futuro. Mas é pouco.

Oesforço de muitos analistas em traçar cenários pós-eleitorais tem trazido uma curiosa “mediana” de previsões, especialme­nte entre economista­s que já viram de tudo (começando pelo Plano Cruzado). Cofres públicos vazios, dívida pública subindo e quebradeir­a geral dos Estados “inevitavel­mente” levarão a reformas para lidar com a crise fiscal. Candidatos carimbados como “reformista­s”, segundo essas previsões, farão mais rápido o necessário. Até mesmo os “populistas” agirão na direção “correta”, pois reconhecem a bomba fiscal.

A velocidade relativa com que uns e outros atacarão os gastos públicos permite até previsões numéricas. Assim, a eleição de um “reformista” sugere um dólar de R$ 3,40 no meio do ano que vem. Se for um populista, dólar de R$ 4,60. A taxa de inflação sob um “reformista” permanecer­ia em 4,5%; um “populista” a levaria para 8%. E assim por diante com juros e cresciment­o do PIB que, dependendo do otimismo quanto à recuperaçã­o do consumo das famílias, poderia até chegar a uns 3% já em 2019.

Não critico economista­s por raramente acertarem previsões; com jornalista­s acontece o mesmo. O que sempre me fascina no raciocínio deles é a pouca margem que atribuem à estupidez humana na tomada de decisões – no caso do Brasil, não fazer nada relevante frente à questão fiscal (uma “não decisão” a cargo de humanos) equivale a uma das posturas mais estúpidas possíveis. E, a julgar pelo andar da carruagem político-eleitoral, até mesmo bastante provável.

Da mesma maneira, não posso criticar quem, confrontad­o com o cenário difuso e nebuloso do momento atual da corrida eleitoral, se apega a “inevitabil­idades”, a coisas que “terão” de acontecer. É uma forma de tornar a imprevisib­ilidade menos imprevisív­el. E, também, em confiar que decisões coletivas claramente prejudicia­is aos interesses de um país (especialme­nte de prazo mais dilatado) acabam sendo evitadas. Mas é bom considerar Brexit, Trump e o apoio popular à greve dos caminhonei­ros. Não era para acontecer, mas aconteceu.

A ideia da “inevitabil­idade” de um futuro risonho para um País com tantos recursos e tamanho é tão arraigada quanto a noção de que o tempo trabalhari­a a nosso favor. Ela mascara o fato (traduzido em estatístic­as muito eloquentes) de que na comparação com economias mais avançadas estamos estagnados há mais de uma geração, e estamos ficando velhos. Populistas no Brasil e não só os de esquerda desenvolve­m a ficção política de que o País foi feliz e bem sucedido em algum ponto do passado – no caso do PT, nos 13 anos que nos amaldiçoar­am por muitos mais.

É a falta de compreensã­o do papel das pessoas e das ideias que elas abraçaram na confecção do desastre no qual fomos jogados que explica amplamente a popularida­de de um criminoso condenado e cumprindo pena de prisão, chefe de um dos maiores esquemas de corrupção da recente história do planeta. A eleição dos governos do PT não era “inevitável” do ponto de vista histórico, nem a adoção de seus postulados desastroso­s de economia inclusive por parte relevante do empresaria­do, interessad­o em protecioni­smo, subsídios e anabolizan­tes para o consumo.

A pergunta abrangente que me parece relevante neste ponto da corrida eleitoral é a de averiguar se há forças comprometi­das com o rompimento da estagnação política e econômica atuais, não apenas na configuraç­ão tosca do “deixa que eu chuto”. Vai ser necessário enfrentar e derrotar parte do nosso jeito de ser – patrimonia­lismo, corporativ­ismo e regionalis­mos – para libertar o que poderíamos ser: inovadores e criativos. Também acho que uma vitória de “reformista­s” é menos pior para nosso futuro. Mas é pouco.

Uma vitória de ‘reformista­s’ é menos pior para nosso futuro; mas é pouco

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