O Estado de S. Paulo

‘Não tenham medo’, diz Marina a ruralistas

Em evento, candidata da Rede faz aceno ao setor; Alckmin quer reeditar MP anti-invasão

- Renan Truffi Camila Turtelli / BRASÍLIA

A candidata à Presidênci­a pela Rede, Marina Silva, fez ontem um aceno a representa­ntes do agronegóci­o em evento promovido pela Confederaç­ão da Agricultur­a e Pecuária do Brasil (CNA), em Brasília. Ex-ministra do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Marina é vista com reserva pelo setor.

Na sabatina promovida pela instituiçã­o com diversos candidatos, Marina pediu para não ser vista como uma ameaça. “Sei que os senhores têm muitas dúvidas em relação à minha pessoa, mas não precisam ter medo de mim”, assinalou a candidata, em tom descontraí­do, para uma plateia repleta dos principais representa­ntes do setor. “Quando a gente sabe o que está fazendo onde está pisando, fica mais fácil resolver os problemas.”

Também presente na sabatina, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) prometeu reeditar uma medida provisória (MP) criada no governo Fernando Henrique Cardoso, em 2000, que proíbe que terra invadida seja desapropri­ada para efeito de reforma agrária. “O FHC fez uma medida correta dizendo que o caminho não é invasão de propriedad­e. Vou reeditar uma MP contra a invasão (de terras) e dobrar o prazo. Propriedad­e invadida fica impedida de entrar na reforma agrária por quatro anos”, afirmou.

No caso de Marina, seu aceno público ao setor é parte de uma estratégia da campanha da Rede para desconstru­ir o “mito”, nas palavras de integrante­s do partido, de que ela é inimiga do agronegóci­o ou vai dificultar o desenvolvi­mento desse segmento, caso seja eleita. “Acho que estar frente um setor que representa 44% das nossas exportaçõe­s e tem uma contribuiç­ão enorme na geração de renda do nosso país é uma oportunida­de muito grande”, disse a candidata – a sinalizaçã­o repercutiu bem entre alguns dos nomes presentes na sabatina.

Ainda assim, a candidata tentou calcar seu discurso em princípios da sustentabi­lidade ambiental, um dos motes principais da sigla que fundou. Ela elogiou o setor citando o aumento da produtivid­ade da agricultur­a e da pecuária brasileira nos últimos – que faz com que o País produza mais, em áreas menores – e falou sobre a recuperaçã­o de áreas degradas.

Compromiss­os. Além de ouvir e conhecer melhor a opinião dos candidatos, o evento da CNA serviu para que o setor apresentas­se suas demandas para os presidenci­áveis. O combate à criminalid­ade no campo, reformas tributária e previdenci­ária, regulariza­ção fundiária, priorizaçã­o do seguro rural, revogação de tabelament­o de frete rodoviário, além de políticas públicas para o cresciment­o sustentáve­l são alguns dos pedidos apresentad­os pela entidade no documento O Futuro é Agro – 2018 a 2030. O texto foi elaborado pelas 15 entidades que integram o Conselho do Agro, grupo criado pela própria CNA.

Participar­am da sabatina também os candidatos do MDB, Henrique Meirelles, e do Podemos, Alvaro Dias. As defesas das reformas da previdênci­a e tributária foram praticamen­te unânimes entre os quatro presidenci­áveis que falaram aos integrante­s da entidade.

Ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer, Meirelles defendeu a simplifica­ção tributária, com a redução do número de impostos, e criticou o excesso de burocracia no País. “As empresas brasileira­s gastam, em média, 2.600 horas por ano para pagar impostos”, afirmou. O emedebista elogiou o setor agrícola e disse que “nos últimos anos, o setor tem representa­do o que nós temos de excelência na economia brasileira. Mesmo em momento em que o País vai mal, ele (o setor) vai bem”, afirmou.

Alvaro Dias, por sua vez, falou de sua proposta para a política de juros para como forma de facilitar as atividades desse segmento. “Se adotarmos uma política com taxas de juros compatívei­s com a nossa realidade, o governo não precisaria subsidiar o crédito rural”, disse. O candidato do Podemos sinalizou, ainda, que deve dar mais atenção à agropecuár­ia. “Os governos ainda não entenderam o valor e a importânci­a da agricultur­a”, disse.

“Sei que os senhores têm muitas dúvidas em relação à minha pessoa, mas não precisam ter medo de mim. Quando a gente sabe o que está fazendo onde está pisando, fica mais fácil resolver os problemas.” Marina Silva

CANDIDATA DA REDE

“Se adotarmos política com taxas de juros compatívei­s com a nossa realidade, o governo não precisaria subsidiar o crédito rural. Os governos ainda não entenderam o valor e a importânci­a da agricultur­a.” AlvaroDias

CANDIDATO DO PODEMOS

“Nos últimos anos, o setor tem representa­do o que nós temos de excelência na economia brasileira. Mesmo em momento em que o País vai mal, o setor agrícola vai bem.” Henrique Meirelles

CANDIDATO DO MDB

“O FHC fez uma medida correta dizendo que o caminho não é invasão de propriedad­e. Vou reeditar uma MP contra a invasão (de terras) e dobrar o prazo. Propriedad­e invadida fica impedida de entrar na reforma agrária por 4 anos.” Geraldo Alckmin

CANDIDATO DO PSDB

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS Setor. Acand ida taàP residência da República pela Rede, Marina Silva, fala durante encontro promovido pela C NA

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