Putin recua de reforma após pressão feminina
Mudanças na previdência causaram forte queda de popularidade do presidente russo
O presidente russo, Vladimir Putin, fez uma rara aparição na TV ontem para anunciar um recuo na impopular reforma da previdência proposta por seu governo durante a Copa da Rússia. O projeto provocou protestos em massa pelo país, principalmente de mulheres, que teriam de trabalhar oito anos a mais para se aposentar. A proposta causou uma queda de quase 16 pontos porcentuais em sua popularidade.
A nova proposta do governo prevê que a idade de aposentadoria para as mulheres suba de 55 para 60, não para 63 anos, como tinha anunciado anteriormente. A idade dos homens, porém, permanece 65 anos (cinco anos a mais que a vigente).
No raro discurso na TV, Putin defendeu a necessidade da reforma. Segundo ele, a população em idade ativa do país está encolhendo, o que torna a mudança essencial. “O desenvolvimento demográfico e tendências do mercado de trabalho e uma análise objetiva da situação mostram que não podemos mais adiar isso”, disse Putin.
Eleito com 76,4% dos votos logo no primeiro turno, Putin não fez nenhum comentário sobre as necessidades da reforma da previdência para sanar as contas públicas durante as eleições. Ele também anunciou as medidas durante a Copa do Mundo na Rússia, o que para muitos foi uma manobra para distrair a atenção do público.
Não funcionou. O índice de aprovação de Putin, que até a semana passada batia os 80%, segundo o instituto de pesquisas VTsIOM, caiu para 64% nesta semana. São os piores níveis para a popularidade de Putin em quatro anos.
Na última semana, milhares de pessoas foram às ruas nas principais cidades da Rússia protestar contra as medidas. Em Moscou, mulheres se reuniram para protestar contra o aumento da idade para a aposentadoria. Foi um caso raro em que Putin, apesar de sua vasta influência na política, no aparato de segurança e na mídia, teve de se dirigir diretamente ao público para defender uma medida impopular.
“Putin sempre se mostrou ao público como o homem forte, o pai da nação, mas com os desafios do fraco crescimento econômico da Rússia, e com as sanções ocidentais, a Rússia precisará de remédios amargos”, afirmou ao Washington Post Andrei Kolesnikov, pesquisador do centro de estudos Carnegie Moscow Center. “Por causa da reforma previdenciária, Putin deixou de ser apenas um símbolo e começou a sofrer os efeitos de ações impopulares.”