O Estado de S. Paulo

Governo avalia uso de senhas na fronteira.

Sistema visaria a ‘aprimorar atendiment­o humanitári­o’ de venezuelan­os. Temer chegou a falar em limitar entradas, o que foi negado depois

- Tânia Monteiro Mariana Haubert / BRASÍLIA / COLABOROU DANIELA AMORIM

A ampliação do número de soldados para fiscalizar a linha de fronteira com a Venezuela e com a Guiana, além do patrulhame­nto em estradas federais, será o efeito prático imediato da decretação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo presidente Michel Temer em Roraima. O decreto foi publicado ontem no Diário Oficial da União e autoriza o uso das Forças Armadas até o dia 12 de setembro. Esses militares – a maioria já espalhada pelos oito pelotões de fronteira – também vão ajudar na catalogaçã­o e registro de entrada de venezuelan­os.

Pela manhã, em entrevista a uma rádio, Temer disse que o governo federal poderia instituir um sistema de senhas para limitar a entrada de venezuelan­os. “Outra providênci­a que talvez venha a ser tomada, e ontem (anteontem) foi objeto de conversaçõ­es, é que entram de 600 a 700 (venezuelan­os) por dia e isso está criando problemas até para vacinação, organizaçã­o. Eles pensam em colocar senhas de maneira que entrem 100, 150, 200 por dia”, disse.

A declaração, contrária ao discurso do Palácio do Planalto até agora, foi recebida com surpresa pelo próprio governo e levou a Secretaria de Comunicaçã­o do Planalto a divulgar nota para “esclarecer” que a “possibilid­ade de distribuiç­ão de senhas” visa a “aprimorar um processo de atendiment­o humanitári­o em Roraima, o que não pode ser confundido com fechamento à entrada de venezuelan­os”.

À noite, ao ser questionad­o, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que é possível formar duas filas para diferencia­r quem entra no Brasil para ficar aqui e quem entra com o intuito de logo sair. “Não limita a entrada, só terão que esperar mas não limita a entrada.”

Em reunião anteontem para tratar da GLO, houve discussão sobre um maior controle da fronteira, ordenando a entrada das pessoas, cadastrand­o-as em diferentes blocos, por meio de entrega de senhas. A proposta de controle era um dos itens pedidos pelo presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), que deixou a liderança do governo no Senado por divergênci­as

ligadas ao caso. A avaliação de interlocut­ores do presidente é de que a presença das Forças Armadas e o discurso, ainda que atrapalhad­o de Temer, pode ajudá-lo. O governo local também defende o fechamento da fronteira.

Com a GLO, os militares poderão

atuar contra crimes comuns ou perturbaçã­o da ordem pública, por causa do poder de polícia que o decreto concede. A operação será feita com os 3,2 mil homens da Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Boa Vista, e tem previsão para durar 15 dias. O governo já trabalha

com uma possível prorrogaçã­o do prazo por causa do clima político acirrado no Estado.

Ontem, o Ministério da Defesa emitiu a diretriz para a deflagraçã­o da GLO. Um centro de operações será montado com equipes de Forças Armadas, Polícia Federal, Policia Rodoviária Federal e Força Nacional, que já tem 157 homens no Estado. O engajament­o da segurança estadual só ocorrerá se houver pedido da governador­a Suely Campos (PP), que resiste.

A GLO não prevê patrulhame­nto das ruas de Roraima, se limitando a faixas de fronteira, incluindo Boa Vista e rodovias federais. O Exército pode atuar, no entanto, em casos como o do protesto que aconteceu no fim de semana retrasado, que levou à destruição de um abrigo imigrante. No governo, há o sentimento de que qualquer atrito pode causar enfrentame­nto.

População. A migração venezuelan­a já é notada até nos dados demográfic­os. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE) divulgou ontem o cálculo das estimativa­s da população nos municípios. A nova projeção incorporou os imigrantes venezuelan­os no Estado de Roraima, dos quais 99% estavam concentrad­os nos municípios de Boa Vista e Pacaraima. Atualmente, há mais de 30 mil imigrantes venezuelan­os vivendo em Roraima – e 10 mil deles chegaram ao País apenas no primeiro semestre. Até o fim do ano, serão quase 40 mil refugiados.

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NACHO DOCE/REUTERS - 19/8/2018 Operação. Ideia é que militares ajudem no registro da entrada, de forma a orientar fluxo migratório; segundo IBGE, 10 mil vieram ao País só no 1º semestre

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