FPF paga caro para perpetuar poder
Sem oposição, Reinaldo Bastos será reeleito hoje presidente após gestão distribuir R$ 53 milhões aos clubes em três anos
Sem nenhuma chapa de oposição inscrita até o prazo final, vencido no dia 15, Reinaldo Carneiro Bastos será reeleito presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) hoje, em uma assembleia geral na entidade que servirá só para formalizar sua continuidade no cargo para o mandato de 2019 a 2022.
E a sua reeleição está inevitavelmente ligada ao fato de que hoje a grande maioria dos clubes
é financeiramente dependente da FPF. Esta manutenção de poder também foi garantida com o aumento expressivo de repasses de verbas aos clubes filiados a partir de 2015, quando Reinaldo Bastos assumiu a presidência e o balanço oficial da própria entidade declarou, ao fim daquele ano, que distribuiu R$ 17,3 milhões aos times.
Em seguida, em 2016, este valor subiu ainda mais e atingiu R$ 20,9 milhões, antes dos R$ 17,2 milhões fornecidos às equipes no ano passado. Para se ter uma ideia de quão expressivos são estes montantes, em 2014 as chamadas “contribuições e subvenções’’, descritas pela FPF em suas demonstrações financeiras, foram de R$ 7,8 milhões, menos da metade do que viria a ser repassado em cada
um dos anos seguintes e que totalizaram R$ 53,4 milhões.
Esse aumento de receitas aos clubes, de 2014 para 2017, foi de 120% e deverá ser elevado a R$ 129,3% no final deste ano se a FPF cumprir a distribuição prevista de R$ 17,9 milhões, quantia orçada para 2018.
Procurada ontem pelo Estado, a entidade confirmou os números e também informou que, em cotas e patrocínios acertados apenas para 2018, terá à disposição mais de R$ 145 milhões até o fim do ano. O valor previsto de R$ 145.076.750,00 é 40,5% maior do que o total pago aos times das Séries A1, A2, A3 e da Segundona (quarta divisão estadual) em 2014, quando as equipes receberam R$ 103.225.000,00 por meio desta mesma fonte de receitas.
120% foi o aumento da verba dada aos clubes de 2014 para 2017, confirmada pela FPF, que já prevê elevação de 129% até o fim de 2018 em relação aos valores distribuídos aos times há cinco anos pela entidade
Com estas cifras altas como trunfo, a FPF chegou a ver Marco Polo del Nero articular nos bastidores para tentar retomar o poder na entidade por meio de seus aliados, pois está banido do futebol por corrupção e não pode concorrer a qualquer cargo. Ex-mandatário da entidade
paulista e da CBF, ele prometeu ajuda financeira e regalias a dirigentes de clubes nos quais tem bom trânsito, entre eles Marquinho Chedid, presidente do Bragantino, que despontou como possível candidato de oposição na eleição de hoje.
Sob influência de Del Nero, Chedid liderou o movimento “Renovação do Futebol Paulista”, que fez várias reivindicações à FPF, como por exemplo a instituição de um calendário anual para as equipes e o aumento de 100% a 200% dos valores das cotas pagas aos times das Séries A2 e A3 e da Segundona.
Del Nero tinha a intenção de desidratar a candidatura à reeleição de Reinaldo Bastos, mas o movimento, lançado em julho, ficou longe de ameaçar a continuidade do presidente no
cargo. E assim, no início deste mês, Chedid desistiu de liderar uma chapa de oposição ao anunciar que houve um entendimento com a atual gestão da FPF para cumprir ao menos parte das reivindicações enumeradas em 12 itens revelados em um documento entregue aos clubes.
A reeleição de Reinaldo Bastos é mais um capítulo da longa perpetuação de poder na FPF. O último candidato de oposição a ser eleito presidente da entidade foi José Maria Marin, hoje preso e sentenciado por corrupção nos EUA, em um pleito em 1982, quando Nabi Abi Chedid, então mandatário, fracassou ao tentar se reeleger. Depois, Eduardo José Farah (1988 a 2003), Del Nero (2003 a 2015) e Reinaldo (desde 2015), todos da situação, ocuparam o cargo.