O Estado de S. Paulo

Remuneraçã­o e desempenho do Judiciário

- JOSÉ PASTORE

Aproposta de 16,38% de aumento para os salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) criará uma despesa fantástica para todo o funcionali­smo. Como avaliar a proposta? Qual tem sido o desempenho daquele Poder?

Nas páginas do excelente relatório Justiça em Números 2017, publicado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), encontrei o seguinte:

o quadro de pessoal do Poder Judiciário brasileiro é um dos maiores do mundo: 442.365 profission­ais (pág. 182);

a despesa total em 2016 chegou a

quase R$ 85 bilhões (pág. 37);

entre 2009-2016, o estoque de processos não solucionad­os aumentou 31%, ou seja, 4,5% ao ano (pág. 182);

em 2016, a taxa de congestion­amento de processos não solucionad­os chegou a 73%. Só 27% foram solucionad­os (pág. 182);

o tempo médio das sentenças de primeiro grau na fase de execução foi de 4 anos e 6 meses (pág. 133);

apenas 12% dos conflitos foram resolvidos por meio de acordo entre as partes (pág. 125).

Como se vê, o Poder Judiciário do Brasil se caracteriz­a por muitos funcionári­os, grandes despesas, enorme lentidão e baixo poder de conciliaçã­o dos conflitos. Será que os magistrado­s que desejam o referido aumento salarial garantem para 2019 uma elevação da eficiência de 16,38%?

Para a sociedade, o recurso à Justiça custa muito. Além dos R$ 85 bilhões do orçamento, as empresas gastam cerca de R$ 124 bilhões com advogados, prepostos, viagens, etc. (dado de 2015), sem falar nos gastos das pessoas físicas (não tenho dados). Isso torna a solução dos conflitos pela via judicial demorada, cara e incerta.

Os magistrado­s proponente­s do referido aumento considerar­am a sua remuneraçã­o incipiente, esquecendo-se de que os brasileiro­s que ganham salários de R$ 33.700,00 por mês estão entre o 1% mais rico do País, sem contar os generosos benefícios que recebem – gratificaç­ões, adicionais, prêmios, abonos, verbas de representa­ção e vantagens pecuniária­s não contabiliz­adas pelos tribunais como salários, das quais as mais conhecidas são o auxílio-moradia, o auxílio-creche, o auxílio-refeição, o auxíliopal­etó,

o auxílio-livro, auxílio-voto, auxílio-educação e auxílio-transporte. Esse emaranhado de regalias impede saber qualé o cus tore alda Justiça no Brasil.

A remuneraçã­o atual dos ministros do STF é das mais altas do mundo. Consideran­do apenas os 13 salários mensais, eles receberam em 2016 cerca de R$ 438 mil, ou seja, ¤ 122 mil (cotação em 2016 ¤ 1 = R$ 3,60), enquanto os magistrado­s das Supremas Cortes da União Europeia receberam, em média, ¤ 65 mil. Essa comparação é conservado­ra porque a despesa mensal real com cada magistrado brasileiro indicada no citado relatório foi de R$ 47.700,00 (pág. 58).

O quadro se agrava quando se leva em conta que os magistrado­s brasileiro­s têm 195 dias de folga, entre recesso, férias, feriados, pontes e fins de semana. Eles trabalham 170 dias por ano, enquanto seus colegas

europeus trabalham 219 dias.

A boa Justiça é a que tem previsibil­idade, rapidez e retorno positivo. Isso é fundamenta­l para o bom funcioname­nto da economia e da sociedade.

É urgente criar condições para elevar a eficiência do Poder Judiciário. Poderíamos começar com um aumento substancia­l dos dias trabalhado­s e uma redução do excesso de benefícios. Ao mesmo tempo, há que fortalecer os mecanismos de mediação, conciliaçã­o e arbitragem. E, finalmente, criar desestímul­os à exagerada judicializ­ação, como fez a lei da reforma trabalhist­a, que em um ano reduziu em 40% o número de ações na Justiça do Trabalho. Algum presidenci­ável apoia essas ideias?

PROFESSOR DA UNIVERSIDA­DE DE SÃO PAULO, É PRESIDENTE DO CONSELHO DE EMPREGO E RELAÇÕES DO TRABALHO DA FECOMERCIO-SP E MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil