O Estado de S. Paulo

Argentina pede para FMI antecipar socorro

Anúncio feito por Macri de que ajuda financeira será adiantada não surte efeito e dólar bate novo recorde no país, terminando o dia com alta de 8%

- / LUCIANA DYNIEWICZ e GABRIEL BUENO DA COSTA

A Argentina voltou a enfrentar, ontem, uma corrida contra sua moeda. O dólar bateu novo recorde no país, subindo 8% e encerrando o dia a 34,50 pesos. A disparada da moeda ocorreu depois de o presidente Mauricio Macri anunciar que pediu ao Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) um adiantamen­to do pacote de ajuda financeira, negociado em junho.

Macri não especifico­u o valor pedido, disse apenas que será antecipado “quanto for necessário para garantir o programa financeiro”

de 2019. O pacote total fechado com o FMI é de US$ 50 bilhões. “Tivemos mostras de falta de confiança nos mercados, especifica­mente em relação à nossa capacidade de conseguir financiame­nto para 2019. Por isso, fechamos um acordo com o FMI para adiantar os fundos”, disse Macri.

O anúncio, porém, não surtiu efeito e o dólar voltou a subir, obrigando o Banco Central argentino a oferecer US$ 300 milhões, com o mercado tomando todo o montante.

Para o economista-chefe do

BTG Pactual na Argentina, Andres Borenstein, o anúncio de Macri foi positivo, pois deu garantias de que o governo terá recursos em 2019. A desvaloriz­ação da moeda poderia ser, explica ele, consequênc­ia dos ruídos que um pedido de ajuda ao FMI geram na população. “As coisas não iam tão mal. Mas hoje muitos argentinos voltaram a comprar muito dólar”, disse.

Na avaliação do diretor da consultori­a EcoGo, Martín Vauthier, faltaram mais detalhes no anúncio e não há clareza nos mercados sobre a trajetória que

será seguida. “A situação é uma mescla de desconfian­ça, de incerteza sobre o que será a política econômica.”

A Argentina é um dos países mais afetados pela valorizaçã­o do dólar no mercado internacio­nal. O movimento já obrigou Macri a pedir socorro ao FMI e a trocar parte de sua equipe econômica – caíram o presidente do Banco Central e o ministro da Produção. O BC também acabou elevando sua taxa básica de juros de 27,5% para 45%.

“Todos esperávamo­s que, depois do FMI, o mercado fosse se acalmar. Não foi o que aconteceu. Houve aí um pouco de azar também, porque, pouco após a ajuda do FMI ser anunciada, veio a crise turca”, disse Borenstein, que projeta uma retração de 1% no PIB neste ano.

Além da crise econômica e da desvaloriz­ação do peso, uma greve geral marcada para o fim deste mês e o aumento do risco país pressionam Mauricio Macri.

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