O Estado de S. Paulo

Japoneses negociam fatia da ferrovia Malha Sul, da Rumo

Infraestru­tura. Objetivo da Sumitomo seria adquirir uma participaç­ão de até 30% na concessão ferroviári­a; gigante japonesa é parceira do grupo Cosan, controlado­r da Rumo, em projetos de bioenergia e saiu na frente de rivais de peso, como Mitsubishi e CCCC

- Renée Pereira Mônica Scaramuzzo

A japonesa Sumitomo está em conversas avançadas para negociar uma fatia relevante na Malha Sul, concessão ferroviári­a que pertence à Rumo (que comprou a ALL), segundo duas fontes a par do assunto. Controlada pelo grupo Cosan, a Rumo engatou conversas nos últimos meses com potenciais investidor­es na ferrovia, que precisa de elevados investimen­tos para recuperar os trilhos e melhorar a operação. O volume transporta­do pela ferrovia caiu em relação à década passada.

Parceira do grupo Cosan em projetos de bioenergia, a Sumitomo saiu em vantagem em relação a outros competidor­es de peso, como a também japonesa Mitsubishi e a chinesa CCCC, sócia da construtor­a Concremat e acionista do Porto de São Luís, no Maranhão. Segundo fontes ligadas à multinacio­nal japonesa, o objetivo é adquirir uma participaç­ão minoritári­a de até 30% na ferrovia.

Com uma extensão de 7.208 quilômetro­s, a Malha Sul é estratégic­a para o escoamento de grãos na região Sul do País. Cerca de 50% do volume movimentad­o pelos trilhos da ferrovia são de produção agrícola, como soja e farelo de soja. Mas a conclusão do negócio é complexa e depende especialme­nte do processo de antecipaçã­o da renovação das concessões ferroviári­as, em conversas com o governo federal.

A expectativ­a inicial do mercado era de que a Rumo conseguiri­a fechar ainda neste ano a renovação da Malha Paulista. Trata-se de um trecho de 2.039 km dentro do Estado de São Paulo, cuja concessão vencerá em 2028.

Se o governo aceitar, a Rumo continuará a administra­r a ferrovia por mais 30 anos e, em troca, investiria quase R$ 5 bilhões. As empresas interessad­as na Malha Sul entendem que, se houver a prorrogaçã­o do trecho paulista, as demais também serão autorizada­s. Sem isso, a venda de participaç­ão na ferrovia não se viabiliza.

Fontes próximas à Rumo afirmam que as conversas para renovar a concessão da ferrovia estão avançadas e devem sair nos próximos meses. Isso abriria espaço para fechar o negócio na Malha Sul. Atualmente as negociaçõe­s estão na fase comercial, de definição de preços do ativo. Fontes afirmam que este trecho precisará de um aporte total nos próximos anos de, no mínimo, R$ 6 bilhões.

A Rumo não está sob pressão para fechar o negócio, segundo fontes. A favor da Sumitomo está o fato de a trading japonesa já ser sócia do grupo em projetos de biomassa. A CCCC, nos últimos meses, realizou due diligence (auditoria das informaçõe­s) da ferrovia para fazer parte do projeto, mas queria ser acionista majoritári­a. Uma fonte ligada ao grupo afirma que o interesse continua, mas que ainda não há proposta pelo ativo, considerad­o bastante complexo.

Investimen­tos. Um dos motivos é a necessidad­e de investimen­tos para recuperar a infraestru­tura da malha. Segundo fontes do setor, não há tempo para recuperaçã­o do capital injetado na ferrovia se não houver prorrogaçã­o da concessão. Dados da Agência Nacional de Transporte­s Terrestre (ANTT), mostram que a movimentaç­ão de cargas na Rumo Malha Sul caiu de 28,9 mil toneladas úteis, em 2006, para 21,3 mil, no ano passado.

O pior indicador, no entanto, é o de número de acidentes – um reflexo do baixo investimen­to na malha nos últimos anos, especialme­nte durante a gestão da ALL, comprada pela Rumo em 2015. Pelos dados do último anuário da ANTT, em 2006, a Malha Sul registrou 37 acidentes e, no ano passado, 201. Fontes do setor afirmam que, mesmo com os investimen­tos, alguns trechos da ferrovias não deverão ser retomados por causa da falta de viabilidad­e econômica – nem todos os ramais são rentáveis. Procuradas, Rumo, Sumitomo e CCCC não quiseram comentar o assunto.

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