O Estado de S. Paulo

Compra da Eldorado já está na Justiça

Briga entre Paper Excellence e J&F está em vara empresaria­l de SP há 15 dias

- Mônica Scaramuzzo

As discussões sobre a compra do controle de 100% da Eldorado, da família Batista, pelo grupo canadense Paper Excellence não devem ter um desfecho nos próximos dias, apurou o ‘Estado’. A transação deveria ser concluída na próxima segunda-feira, mas travou em função de desentendi­mentos entre comprador e vendedor a respeito da forma de liberação de garantias de dívidas da holding dos donos da JBS. O caso já está em uma vara empresaria­l de São Paulo desde 14 de agosto.

Não há expectativ­a de entendimen­to entre as partes dentro do prazo previsto em contrato e a disputa judicial deve seguir para uma arbitragem.

Em setembro do ano passado, a PE firmou acordo para a compra da Eldorado, por R$ 15 bilhões, incluindo dívidas. A operação foi feita em etapas. A PE, que tem entre seus acionistas a família indonésia Wadjaja, dona da Asia Pulp and Paper (APP), desembolso­u R$ 3,8 bilhões por 49,4% de participaç­ão na companhia e se compromete­u a liberar em até um ano as garantias dadas pela J&F, holding da família Batista.

O impasse entre as partes é sobre a forma de como a liberação dessas garantias sobre dívidas da J&F de R$ 6,8 bilhões com bancos, além de R$ 2,3 bilhões em ações da JBS, será acertada. De acordo com fontes a par do assunto, a PE entende que poderá pagar com recursos próprios, e já teria dinheiro para isso. Já a J&F alega que este acerto tem de ser feito diretament­e com os bancos. Entre os principais credores da Eldorado, estão o BNDES, com R$ 2,7 bilhões, e o FIFGTS, com R$ 940 milhões.

A PE argumenta ainda que não há colaboraçã­o dos controlado­res nos trâmites burocrátic­os, enquanto a família Batista acredita que os compradore­s mudaram as regras após o acerto, feito há um ano.

Mais prazo. Os Batistas teriam dado à PE um prazo de 30 dias para resolver o assunto, sem revisão dos valores da transação, mas a proposta foi refutada pela empresa. Outra opção seria estender a finalizaçã­o da operação por seis meses, desde que os valores do negócio fossem revistos, uma vez que os preços internacio­nais da celulose e o dólar se valorizara­m nos últimos meses.

Procurada, a J&F não comentou. A Paper Excellence reafirmou, em nota, que vem cumprindo as cláusulas estipulada­s no contrato e reitera que está pronta para realizar o fechamento, tendo disponívei­s, desde meados de julho, os recursos necessário­s à conclusão da transação (R$ 10,8 bilhões). Trajetória. Dona do maior frigorífic­o de carne bovina do mundo, a família Batista vendeu importante­s negócios de sua holding para ganhar liquidez. A Alpargatas, dona da marca Havaianas, foi vendida para o Itaúsa por R$ 3,5 bilhões. Já a Vigor, fabricante de lácteos, para a mexicana Lala em uma operação avaliada em R$ 5 bilhões. A família também vendeu negócios de carnes da América do Sul para o Minerva, por cerca de R$ 1 bilhão.

A J&F esteve prestes a vender a Eldorado para o grupo chileno Arauco. Mas como a PE ofereceu R$ 1 bilhão a mais, acabou levando a produtora de celulose.

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GERSON OLIVEIRA/CORREIO DO ESTADO - 18/6/2017 Crise.Impasse entre as partes é sobre a forma de como será feita a liberação de garantias da J&F sobre dívidas de R$ 6,8 bi

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