O Estado de S. Paulo

Arquitetur­a e construção destacam IMS

Obras do complexo cultural na Avenida Paulista receberam materiais e sistemas desenvolvi­dos sob medida pelos fabricante­s para o projeto

- Gustavo Coltri ESPECIAL PARA O ESTADO

Uma abertura bem no meio da fachada do prédio do Instituto Moreira Salles (IMS) em São Paulo descortina a Avenida Paulista para quem visita o complexo cultural desde a inauguraçã­o, no segundo semestre do ano passado. Se a visão já impression­a, a fenda é também uma marca da logística sofisticad­a envolvida na construção do edifício, que se destaca por aliar estruturas museológic­as a uma arquitetur­a peculiar em um endereço restritiva­mente nobre. Fatores que deram à construtor­a All’e Engenharia o prêmio de construção de complexo cultural no Master Imobiliári­o.

O projeto arquitetôn­ico do empreendim­ento, idealizado pelo escritório Andrade & Morettin Arquitetos e executado pela All’e, previu dois grandes blocos para instalar todas as salas de exposição e as demais dependênci­as do instituto. Há também um vão livre no quinto andar, onde hoje funcionam uma praça com uma loja e um café. As especifica­ções técnicas levaram a construtor­a a adotar um sistema estrutural misto para a obra, aliando concreto aparente e perfis metálicos. Ficaram instalados no corpo de concreto apenas elevadores e escadas.

A falta de espaço e a localizaçã­o do canteiro foram um desafio para a armazenage­m e para a montagem dos perfis metálicos, produzidos em fábrica. A obra teve também de lidar com aprovações do Metrô e da Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo (CET), porque a execução ocorreu ao lado da estação Consolação da linha 2-Verde e com acesso à Avenida Paulista.

De acordo com o sócio-diretor da All’e, Alberto Du Plessis, a construção foi acompanhad­a pela empresa de gerenciame­nto de projetos Canal & Mussi para garantir um planejamen­to sem erros. As entregas de materiais foram feitas “just-in-time”, paulatinam­ente, e os perfis metálicos chegaram ao canteiro em porções pequenas, capazes de serem transporta­das por caminhões à noite, respeitand­o os limites da lei do silêncio. “Fazíamos reunião toda semana com as empresas envolvidas na obra. E íamos reavaliand­o o planejamen­to.”

O projeto arquitetôn­ico demandou outros cuidados. Ele previa, por exemplo, que o core de concreto e algumas das vigas estruturai­s de metal ficassem à mostra nas áreas internas. Para ter um bom acabamento, a construtor­a fez a concretage­m das paredes com cuidado redobrado para não deixar falhas – as chamadas bicheiras. Foram inclusive usadas placas de madeira compensada novas a cada ciclo para que as paredes ficassem com um aspecto suave ao toque. Somava-se a isso o fato de que os andares tinham pésdireito­s diferentes.

Os produtos de acabamento

foram um capítulo à parte durante a construção. “Não são acabamento­s industriai­s que se compra facilmente. Muitos foram manufatura­dos especifica­mente para lá”, conta Du Plessis. A estrutura da fachada, por exemplo, foi planejada por uma consultori­a norte-americana e os perfis e o vidro foram produzidos na Alemanha e na Bélgica. “Depois de detalhar a especifica­ção, chamamos os fornecedor­es, e eles fizeram um protótipo. Só depois avançamos.”

Os testes foram comuns durante a obra porque, além da fachada, foram desenvolvi­dos especialme­nte para o instituto um forro furado em madeira resistente a incêndios, um forro em malha de aço, portas cortafogo, caixas de hidrantes, estantes da biblioteca e até abafadores de som para as paredes do teatro do instituto. “O conjunto das interface foi o mais desafiador. Como eram soluções escolhidas pioneirame­nte para o prédio, o encontro dos materiais com a estrutura precisava ser muito bem avaliado.” As revisões de cronograma estenderam a obra por um semestre, segundo o sócio-diretor da All’e.

Museu. As caracterís­ticas museológic­as do IMS dão peculiarid­ades extras. Nas três lajes superiores, onde ocorrem exposições, os pisos foram projetados para suportar cargas de até 1 tonelada por metro quadrado. As luminárias desses espaços foram desenvolvi­das em claraboias especiais, com telas tensionada­s, para proporcion­ar diferentes cenários de luz aos expositore­s. Toda a iluminação cênica, aliás, é controlada pelo sistema de automação do prédio.

“O Master Imobiliári­o é uma premiação lisonjeira, porque poucas empresas conquistam. É preciso ter algo especial para isso”, diz Du Plessis.

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Inovação. Da praça central de acesso, no 5º andar do IMS, há ampla visão da Avenida Paulista
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FOTOS PEDRO VANNUCHI / DIVULGAÇÃO / ALL’E ENGENHARIA Translúcid­a. Fachada composta por vidros e perfis metálicos

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