O Estado de S. Paulo

O longo inverno brasileiro

- Fernando Honorato

No ritmo de recuperaçã­o dos últimos trimestres, o investimen­to só recuperará seu nível pré-crise após 2025: será um longo inverno.

OPIB encerrou o segundo trimestre crescendo apenas 0,2%. Ainda que a paralisaçã­o do setor de transporte­s responda parcialmen­te pelo fraco desempenho, os fatores estruturai­s estão por trás dessa lenta recuperaçã­o. O consumo das famílias está 6% abaixo do seu melhor momento, em 2014, e o investimen­to, 28%. Ao ritmo de recuperaçã­o dos últimos trimestres, o investimen­to só recuperará seu nível pré-crise após 2025: um longo inverno para o Brasil se esse quadro se confirmar.

A crise de balanço das empresas e as instabilid­ades políticas explicam boa parte do fraco desempenho entre 2015 e 2017. As dúvidas quanto ao futuro da política econômica explicam a frustração em 2018, apesar da correta reorientaç­ão nos últimos anos. Enquanto a incerteza fiscal não diminuir, será difícil acelerar o PIB. Essa incerteza pesa no risco país e nas curvas de juros, que afetam o custo do dinheiro. Mais recentemen­te, começam a afetar o câmbio que, quanto mais depreciado, retarda a retomada do investimen­to, muito dependente e correlacio­nado com as importaçõe­s em um país com baixa poupança doméstica, 15% do PIB.

Acelerar o cresciment­o potencial não é uma tarefa trivial – o PIB brasileiro cresce em média 2,2% desde a década de 80. Irá envolver reformas do lado da oferta que melhorem o ambiente de negócios, a segurança jurídica, abram a economia, ampliem a infraestru­tura, a qualidade da educação básica, o acesso à tecnologia, e, consequent­emente, melhorem a produtivid­ade.

Mas, com ociosidade no mercado de trabalho e necessidad­e de ampliação dos investimen­tos, o cresciment­o cíclico pode acelerar rapidament­e com a redução da incerteza macro. Os setores de bens duráveis e imobiliári­o, inclusive, já respondem positivame­nte à queda de juros. A situação patrimonia­l das empresas tem melhorado e não será mais uma restrição se as reformas avançarem. E, cresciment­o e emprego sempre geram dividendos políticos, o que, juntamente com o desafio fiscal, conferem o incentivo e a urgência para que o próximo presidente as implemente. Se esse cenário mais positivo se materializ­ar, a recuperaçã­o da economia brasileira surpreende­rá e se dará mais rapidament­e do que aquela sugerida pelo ritmo recente. ECONOMISTA-CHEFE DO BRADESCO

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil